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João Ferreira: "Coronelismo, enxada e voto"

João Ferreira:

Publicado em: 04 de abril de 2020 às 16:08
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 09:29

Coronelismo,

enxada e voto

João Ferreira

POLÍTICA    Uma das obras mais importantes da literatura brasileira é o livro Coronelismo, Enxada e Voto, de Victor Nunes Leal, ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal.

O livro é um verdadeiro manual para compreender o coronelismo e sua influência nas cidades brasileiras do interior do Brasil. A obra está um tanto desatualizada em relação a algumas partes do Brasil, pois trata como coronel aquele senhor das terras que possui um considerável número de pessoas sob cabresto, com o qual negocia com o chefe político local para a obtenção de algum proveito.

Em algumas localidades, o coronel mistura-se à figura das autoridades políticas locais e usa o poder político como barganha para obter ainda mais poder.

Com a licença dos leitores, transcrevo um trecho exemplar da visão de Victor Nunes Leal sobre os abusos identificados por ele:

“Não se compreenderia, contudo, a liderança municipal só com os fatores apontados. Há ainda os favores pessoais de toda ordem, desde arranjar emprego público até os mínimos obséquios. É neste capítulo que se manifesta o paternalismo, com a sua recíproca: negar pão e água ao adversário. Para favorecer os amigos, o chefe local resvala muitas vezes para a zona confusa que medeia entre o legal e o ilícito, ou penetra em cheio no domínio da delinquência, mas a solidariedade partidária passa sobre todos os pecados uma esponja regeneradora. A definitiva reabilitação virá com a vitória eleitoral, porque, em política, no seu critério, ‘só há uma vergonha: perder’. Por isso mesmo, o filhotismo tanto contribui para desorganizar a administração municipal”. E prossegue: “A outra face do filhotismo é o mandonismo, que se manifesta na perseguição aos adversários: ‘para os amigos pão, para os inimigos pau’. As relações do chefe local com seu adversário raramente são cordiais. O normal é a hostilidade. Além disso, como é óbvio, sistemática recusa de favores, que os adversários, em regra geral, se sentiriam humilhados de pedir. Nos períodos que precedem às eleições é que o ambiente de opressão atinge o ponto agudo”.

Vejam que o coronelismo é a expressão máxima do desvio e do abuso de poder, sempre revestidos de uma covardia peculiar, pois o poder político é utilizado para esmagar os adversários com uma força desproporcional.

É claro que sempre há alguns poucos corajosos que ousam enfrentar a força política do coronel, mas, mesmo nesse universo de resistência, há muitos cooptados em busca de algum proveito pessoal, pois, afinal, as contas da mercearia sempre chegam ao final do mês.

Coronelismo é isso e muito mais, mas esta coluna é pequena para descrever a realidade dessa praga. Uma coisa é certa: são todos covardes que não sabem andar na estrada da democracia.

* João Ferreira é advogado em S. Cruz



  • Publicado na edição impressa de 29/03/2020


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