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‘É horrível’, diz jovem com quadro suspeito de covid-19

‘É horrível’, diz jovem com quadro suspeito de covid-19

Publicado em: 09 de abril de 2020 às 05:20
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 11:13

Aos 29 anos, João Paulo Menegazzo

passou seis dias internado na Santa Casa

André Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Os sintomas apareceram na sexta-feira, 27 de março. Aos 29 anos, o representante comercial João Paulo Menegazzo, morador em Santa Cruz do Rio Pardo, passou, de um dia para o outro, a sentir febre, coriza e dores no corpo todo. Resolveu esperar. Mas não dormiu direito naquela madrugada.

Acordou pior no sábado. Pela manhã, fez um teste oferecido gratuitamente na internet para verificar se havia riscos. A “enfermeira online”, como é chamada, recomendou que João Paulo fosse ao hospital. Ele se dirigiu à Santa Casa na mesma hora. Passou por uma triagem e os sintomas indicavam coronavírus. O médico pediu uma tomografia.

“Não é de se animar muito”, disse o doutor a João Paulo. “A tomografia também indica suspeita de covid-19”. Como não apresentava um quadro grave e não sentia falta de ar, voltou para casa. “Volte na segunda-feira para colher novos exames”, pediu o médico.

João Paulo voltou e passou por outra tomografia. Ele permaneceu no hospital até às 11h da manhã e ainda não havia sido liberado. Começou a ficar aflito.

O médico colheu o resultado e, ao analisá-lo, chamou outros colegas de profissão. Minutos depois veio a determinação: “Pode internar”. Foi quando João Paulo sentiu mais medo.

Seu pulmão havia piorado muito e a falta de ar já o sufocava. Os sintomas se tornaram ainda mais evidentes. “Muitas dores nas costas, não dormia havia três dias”, relata. Além disso, ele também passou a tossir, sentiu calafrios e sofreu diarreia.

Internado, o jovem ficou em uma sala onde estão os pacientes suspeitos internados. João Paulo ficou seis dias no hospital. Diante da melhora no quadro, ele saiu ontem, 4, por volta do meio-dia.

Permaneceu durante seis dias na Santa Casa. Até a sexta-feira, 3, estava sozinho. Na noite daquele dia chegaram outras duas pessoas, idosas, com suspeita de infecção por coronavírus. Uma delas tossia sangue.

Viveu dias tensos. “Febre de 39º para cima. E não abaixava nunca. É horrível”, disse. “Muita dor no corpo. No fundo do olho, tipo dengue”. Ele também perdeu o olfato e o paladar. “Não sentia cheiro, não sentia gosto”, afirma. Relata que, para não se desesperar, teve de “manter a cabeça no lugar”.

Entre os remédios que tomava diariamente havia xarope e quatro tipos de antibiótico. Um deles diretamente na veia.

Também fez uso da cloroquina — medicamento que deu resultados positivos no combate ao coronavírus em alguns casos no mundo. Segundo relata, “desde que comecei a tomar, na segunda-feira, melhorei. Mas tomava outros medicamentos, não posso garantir. No entanto, acredito que ela tenha resultados”.

Quatro vezes ao dia, João Paulo media a temperatura, pressão e quantidade de oxigênio no sangue. Tomava café da manhã, almoçava e jantava. A dieta seguiu normal. Com o passar dos dias, os sintomas se tornaram mais amenos.

Após deixar a Santa Casa, Menegazzo disse que não sentia mais quase nenhum sintoma. Segundo ele, a atenção agora se volta ao pulmão.

Menegazzo trabalha como representante comercial em Ribeirão Preto. Ele diz ter “quase certeza” de que foi infectado pelo coronavírus — mas acredita que o contágio se deu em Santa Cruz do Rio Pardo. “Eu não viajava a Ribeirão havia mais de duas semanas quando comecei a sentir os sintomas. O vírus está aqui”.

Ele não faz parte do grupo de risco, mas alerta que é preciso ter cuidado. “O vírus não escolhe o alvo”, aponta. Seus exames foram encaminhados ao Instituto Adolf Lutz, que está sobrecarregado e, por isso, tem demorado para entregar resultados. “Mas eu tenho quase certeza de que tenho coronavírus. Tudo aconteceu muito rápido. Os sintomas foram característicos”, diz.

João Paulo ficará isolado em seu quarto nos próximos 14 dias. Se sair para tomar banho, passa álcool em gel para não haver o risco de contaminar maçanetas. A janela precisa ficar constantemente aberta. Dia e noite. Até com o ar condicionado ligado.



  • Publicado na edição impressa de 05/04/2020


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