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Após pânico do assalto em Ourinhos, polícia tenta encontrar pistas de criminosos

Após pânico do assalto em Ourinhos, polícia tenta encontrar pistas de criminosos

Publicado em: 04 de maio de 2020 às 18:51
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 07:18

Madrugada de sábado, 2, foi marcada

por rajadas de fuzil e explosão de bombas

na cidade; carros do assalto estavam em canavial

Um dos carros encontrados num canavial (Foto: Lucas Pereira)



André Fleury Moraes

Da Reportagem Local

A Polícia Civil tentar encontrar pistas dos criminosos que, na madrugada de sábado, 2, levaram pânico aos moradores de Ourinhos e roubaram possivelmente R$ 200 milhões de uma agência especial do Banco do Brasil. Os valores exatos não foram revelados, mas sabe-se que o dinheiro estava num setor estratégico do BB para distribuição a outras 200 agências. Na noite de ontem, foram encontrados nove carros usados pela quadrilha durante a ação em Ourinhos. Eles estavam abandonados num canavial entre Chavantes e Canitar.

Policiais encontraram nove carros num canavial na noite de domingo, 3 (Foto: Lucas Pereira)



Os veículos foram periciados pela polícia. Havia bombas no interior de vários deles, que foram desmontadas ou explodidas por especialistas do GATE - Grupo de Ações Táticas Especiais. Um dos policiais do GATE contou que a maioria dos artefatos tinha grande poder destrutivo e poderiam ser acionados a distância, mediante um mecanismo de celular. Um deles foi usado para explodir o cofre da agência do Banco do Brasil em Ourinhos.

A ação durou horas no sábado. Os primeiros disparos foram ouvidos no início da madrugada. Tempo suficiente para deixar Ourinhos inteira em alerta. Minutos antes das 2h de sábado, 2, a quadrilha fortemente armada invadiu uma agência bancária e roubou, segundo as estimativas, pelo menos R$ 200 milhões.

Imagens de câmera de segurança mostram momento em que assaltantes chegaram à região do crime, todos armados



A quadrilha assaltou o “Seret”, compartimento que fica aos fundos do Banco do Brasil, na rua Antônio Carlos Mori. Discreto, ele não aparece no mapa, mas é responsável por receber, diretamente da Casa da Moeda, o dinheiro que é distribuído aos demais bancos.

Base da Polícia Militar ficou destruída após enxurrada de disparos (Foto: André Fleury)



Rajadas de fuzis foram registradas em vídeos gravados por moradores do município. Uma câmera de segurança flagrou o exato momento em que parte dos criminosos desceu de um dos carros — um Mitsubishi — para efetuar o assalto. Munidos com uma AK-47, metralhadora russa, dispararam para o alto.

O pânico não demorou para se instalar. Policiais militares de toda a região se mobilizaram e chegaram a intervir, mas os assaltantes portavam até fuzis calibre 50, proibido no Brasil, e saíram na frente. O cenário era de guerra. E só terminou cerca de três horas depois, às 5h.

AO CHÃO — Cápsulas de munição ficaram espalhadas pelas ruas da cidade (Foto: André Fleury)



Enquanto durou o embate, os assaltantes buscavam ganhar tempo. Durante a troca de tiros com policiais, alguns disparos foram em direção às lojas das redondezas. Pelo menos quatro delas tiveram as vidraças quebradas.

O mesmo ocorreu com a agência do banco Itaú, que não foi alvo dos assaltantes. Sua vidraça, apesar de blindada, registrou marcas de tiro. Um papel colado em sua superfície alertava que, “para sua segurança, por favor aguarde na fila”. A última palavra foi apagada pelos disparos, que furaram o vidro e o papel.

A sede do Batalhão da Polícia Militar de Ourinhos também foi cercada pelos criminosos. Enquanto alguns militares se concentravam no centro da cidade, combatendo os assaltantes, outros criminosos deixaram um carro estacionado em frente ao local. Dentro dele havia duas bombas.

Loja de Ourinhos foi alvejada durante a ação da quadrilha (Foto: André Fleury)



Drones também sobrevoavam os altos do Batalhão para deixar os assaltantes a par de quaisquer movimentações da PM. Sem controle do local, os policiais não tinham acesso a demais munições, que ficam guardadas no imóvel militar.

A quadrilha fez pelo menos quatro reféns. Um deles chegou a ser transportado em cima do capô dos veículos — todos de luxo e, provavelmente, blindados — como escudo para proteger o grupo.

Um vídeo mostra o exato momento em que um morador da cidade passava pela rua onde estavam os criminosos. Apontando as armas contra o rapaz, eles ordenaram que ele parasse e descesse do carro.

O refém que apareceu no capô de um dos veículos dos criminosos não havia sido encontrado até o final da tarde de sábado, 2. A quadrilha teria fugido sentido Paraná. Na estrada também houve troca de tiros. Nenhum envolvido no crime foi encontrado.




Carro de um dos reféns completamente alvejado e abandonado na rua (Foto: André Fleury)



Nas horas seguintes,

cenário era de guerra 



Cápsulas espalhadas em várias ruas

da cidade dividiam espaço com vidraças

quebradas; R$ 200 milhões podem ter sido levados

Muro atingido por uma munição calibre 50 (Foto: André Fleury)



A reportagem se dirigiu a Ourinhos às 5h de sábado, logo ao saber que a situação havia se amenizado. Nenhum repórter havia dormido. O primeiro ponto foi na praça Mello Peixoto, no centro da cidade, onde estava um grande número de viaturas policiais.

A base da PM na praça, localizada numa das esquinas, estava completamente destruída. Vidros no chão dividiam espaço com cápsulas de munição de fuzis, como os AK-47 usados pelos criminosos. Não bastasse o cenário desolador, igualmente desanimadoras eram os rostos de lojistas que viram suas lojas viradas ao avesso pelos tiros que atingiram sua fachada. O DEBATE chegou a perguntar se os comerciantes gostariam de dar entrevistas, mas recebeu uma negativa. Era compreensível.

A praça Mello Peixoto está situada a dois quarteirões da agência que os criminosos assaltaram. Caminhar por estas ruas significou encontrar carros abandonados pelos reféns no meio do trajeto. Na rua Paraná, que cruza com o ‘calçadão’, uma bomba dinamite fora deixada pelos assaltantes e só pôde ser retirada por forças policiais.

Land Rover parado em frente ao Batalhão armado com duas bombas, que seriam ativadas por um celular (imagem à dir.) - Fotos: André Fleury



Em todas as sarjetas era possível encontrar cápsulas de munição. Em uma rua acima do Banco do Brasil — ponto central do assalto —, um morador de rua dormia numa área comercial quando tudo começou. “Ninguém mexeu comigo. Eu virei de lado e pedi a Deus para que não acontecesse nada”, relatou, ainda apavorado minutos após a troca de tiros ter cessado.

A rua Antônio Carlos Mori, onde fica o Banco do Brasil, termina num beco sem saída por onde passa a linha do trem. Foi ali onde os policiais dispararam e receberam tiros. Nenhum deles saiu ferido. Mas a força bélica da quadrilha pode ser percebida por um disparo calibre 50 que atingiu uma parede, atravessando-a de fora a fora.

Logo ao amanhecer, populares se juntaram para observar os trabalhos da perícia técnica que analisava o carro de dois reféns. Abandonados em meio a fogo cruzado, os veículos estavam completamente alvejados.

Interior de carro de refém, onde há uma toalha pequena e cor de rosa, o que sugere que o veículo também era usado por crianças (Foto: André Fleury)



Um Volkswagen Gol branco pertencia a uma jovem que chegou a ser usada como escudo humano pelos assaltantes. Ela não escondeu as lágrimas ao retornar à rua onde foi parada e avistar o estado de seu veículo. Acompanhada de um amigo, foi embora minutos.

Vidraça estilhaçada do Itaú com aviso colado (Foto: André Fleury)



Um segundo carro — um Mitsubishi Pajero — também fora deixado para trás pelos reféns. Destruído, acumulava pertences como uma máscara de homem aranha, provavelmente de alguma criança, e uma toalha rosa no banco de trás. Não há informações sobre se havia crianças no veículo.

O Land Rover deixado em frente ao Batalhão da Polícia Militar, dentro do qual havia duas bombas, foi averiguado pelo Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), que veio de São Paulo para desativar os explosivos. Um deles poderia ser acionado com celular. No final da tarde de sábado, o Gate explodiu algumas bombas em um terreno distante da cidade.

Pelo menos dois moradores ficaram levemente feridos com os disparos efetuados pelos criminosos durante a madrugada.




Buraco no equipamento de transmissão de filmagem mostra tiro (Foto: André Fleury)



Monitoramento auxiliou

policiais durante operação



Secretário de Segurança Pública

intermediou contato entre central de

câmeras e militares que combatiam o assalto

André Fleury Moraes

Da Reportagem Local

O serviço de monitoramento de Ourinhos, que conta com duas mil câmeras, foi fundamental para auxiliar os policiais que combatiam os assaltantes na madrugada de sábado, 2. Quem diz é o coronel Wagner Soares, secretário de Segurança Pública do município, que fez a intermediação entre a PM e as câmeras.

Em um caso, por exemplo, os militares se encontravam em um local para onde estava indo parte dos criminosos que participaram do assalto. Os policiais não poderiam perceber porque estavam focados em outro ponto. Quem flagrou o ato foi a câmera, e Wagner alertou os policiais. Para o secretário, o monitoramento pode ter evitado uma tragédia maior. “Felizmente não houve mortes”, diz.

A transmissão das câmeras, no entanto, foi interrompida no fim das operações. É que, durante o assalto, os criminosos dispararam contra um dos pontos que espalha o sinal para a central de monitoramento. “Foi quando eles fugiram”, disse Wagner.

Na manhã de sábado, 2, o deputado federal Capitão Augusto — desafeto político do prefeito de Ourinhos, Lucas Pocay (PSD) — alfinetou a administração. “Cadê as imagens na hora do roubo para ajudar a polícia? Sistema não funciona?”, escreveu.

Na verdade, apenas a transmissão foi interrompida em função dos disparos contra os pontos. A câmera gravou tudo e o arquivo está sendo recuperado pela Service, empresa que presta o serviço atualmente.

Secretário de Segurança Pública Wagner Soares em entrevista no sábado (Foto: André Fleury)



Wagner diz ter sentido a impressão de que o deputado não conhece a cidade. “Lamento muito ele fazer uma crítica à Polícia Militar. Obviamente ele não fez carreira na PM como eu e outros colegas fizemos. Precisa falar coisa com qualidade”, afirmou o secretário.

Tudo indica que o assalto foi muito bem arquitetado previamente. Os criminosos se espalharam em pontos estratégicos da cidade e sabiam como agir diante das situações. Wagner Soares acredita que o crime pode ter sido planejado meses ou até anos atrás.

Além disso, assaltos a agências bancárias geralmente são feitos em cidades menores, onde o número de policiais é menor. Com mais de 100 mil habitantes, Ourinhos pode ter sido escolhida por ser divisa entre estados e possuir, ao redor, várias estradas que dão acesso a regiões diversas.



  • Publicado na edição de 03/05/2020 (COM ATUALIZAÇÃO)


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