
Entrega do novo espaço foi na sexta-feira, 20, “Dia da Consciência Negra”
Sérgio Fleury Moraes
Da Reportagem Local
Foi entregue no final da tarde de sexta-feira, 20, a sétima biblioteca do “Projeto Primavera” em Santa Cruz do Rio Pardo — a 27ª unidade em todo o País. Desta vez, a entidade beneficiada foi a ONG Acogelc, fundada em 2007 pelo professor Marcelo Furtado da Silva para difundir música e esporte, além de levar o conhecimento da cultura africana para crianças e adolescentes.
A sede da Acogelc, no bairro João Picin, foi revitalizada e um espaço foi utilizado para a nova biblioteca, que recebeu o nome de “Luiz Gonzaga Pinto da Gama”, uma homenagem ao jornalista negro, orador, escritor e patrono da abolição da escravatura no Brasil. Filho de mãe negra livre e pai branco, Gama foi feito escravo aos 10 anos e só começou a estudar aos 17, quando conquistou a liberdade na Justiça. Lutou pelo fim da escravidão e contra a monarquia, mas morreu antes de ver seus ideais concretizados.
Além do nome marcante em sua biblioteca, a Acogelc ganhou fotos enormes de personalidades negras que se destacaram no mundo e elementos da cultura afro. Na porta de entrada, uma frase simbolizou o Dia da Consciência Negra: “Não precisa ser negro para lutar contra o racismo; basta ser humano”.

A autora é a coordenadora do “Projeto Primavera”, Vera Quagliato, inspirada pelo professor de capoeira Marcelo “Furioso” Furtado, fundador da ONG. Os dois se conheceram por intermédio do universitário Matheus Gregório, que frequenta a Acogelc e considera Vera sua “madrinha”.
“Devemos tudo isto ao Marcelo, que tive o prazer de conhecer e está me ensinando muito sobre a igualdade. Afinal, não existe diferença entre negros e brancos e quem acaba distinguindo somos nós mesmos”, disse Vera Quagliato.

Ela ressaltou que sentiu este preconceito até mesmo ao buscar livros para a nova biblioteca. “Não encontrava, é muito difícil uma literatura voltada para a comunidade negra”, disse. Por sorte, Vera bateu às portas da faculdade “Zumbi dos Palmares” e conseguiu uma expressiva doação.
Para Marcelo Furtado, Vera Quagliato “abraçou” a ideia de implantar a biblioteca na Acogelc. “Em meia hora de conversa, surgiu uma energia muito grande que culminou com a inauguração da biblioteca. Aliás, houve uma reforma total do prédio da entidade e isto é maravilhoso”, disse.

Segundo ele, a biblioteca vai fomentar a cultura entre os frequentadores. “A Acogelc tem um trabalho muito forte na militância do movimento negro. Entretanto, há uma dificuldade muito grande em obter este tipo de material e as palestras não surtem tanto efeito. Com a biblioteca, os jovens agora vão poder mergulhar nas histórias e cultura”, disse. Marcelo, por exemplo, já está lendo “Malcom X”, indicado por Vera.
A solenidade de entrega da nova biblioteca foi prestigiada pelo prefeito eleito Diego Singolani, pelo futuro vice-prefeito Edvaldo Godoy (SD), por secretários municipais, pelo vereador reeleito Cristiano Miranda (PSB), promotor Marcelo Saliba, professores e alunos.

Noriko Izumi, professora há 30 anos, comoveu os presentes ao relatar sua experiência na infância, quando se sentia discriminada por ser oriental. “Eu pedia a uma amiga para levar uma flor para a professora porque tinha vergonha”, lembrou.
Diego Singolani destacou a escolha da data, “Dia da Consciência Negra”, para a entrega da biblioteca. Frednes Botelho, secretário de Cultura, elogiou as iniciativas da Acogelc e seu fundador, Marcelo Furtado. “Ele é um guerreiro na divulgação da cultura genuína”, afirmou.

Um grupo de percussão da Acogelc, comandado pelo coordenador Lucas Matheus Trindade Santana, fez uma demonstração do “batuque” africano. “Nossa música mexe com as pessoas”, disse Marcelo Furtado, lembrando a visita do cantor Carlinhos Brown na escola Camões, há dois anos. “A gente tinha dois minutos para fazer uma apresentação, mas havíamos ensaiado para quinze. No entanto, assim que começamos, o Carlinhos desceu do palco e a apresentação durou muito mais”, contou.
Vera Quagliato criou a fundação “Projeto Primavera” em 2012, inspirada por um livro de John Wood, ex-funcionário da Microsoft. A história de vida do executivo que deixou a empresa para tentar, ao seu modo, mudar o mundo foi a fonte de inspiração de Vera para implantar bibliotecas pelo País.
O projeto já instalou novas bibliotecas em escolas — urbanas e rurais —, creches, asilos, centros culturais e hospitais em vários Estados. O objetivo é beneficiar prioritariamente comunidades carentes.
Veja mais fotos da entrega da biblioteca “Luiz Gama”
- Publicado na edição impressa de 22 de novembro de 2020