Viver é construir ciclos

Era noite. O crepúsculo sondara o império da sua vida por um período nebuloso, em que os passos silenciados teciam o prenúncio do inevitável, ainda que severamente indesejado.

Era noite. O firmamento azul desenhado de estrelas parecia mais um mar de pedrinhas brilhantes semeadas na estrada dos anjos que vieram acolher sua nobre alma no retorno ao Criador.

O contraditório do cuidado de Deus é a presença da dor. Essa dor que veio embargar a voz daqueles que conheceram o amor através do carinho que emanava suave e seguro de sua pessoa, do seu sorriso terno, da sua voz serena. A eternidade colhida pelo tempo é tecida na moldura da herança viva na memória que se fará sempre presente pela lembrança que vai, ainda que não raro, entre lágrimas, fazer brotar um sorriso, porque o amor semeia sorrisos fáceis e brilho no olhar.

No palco da vida o cenário prossegue. Tudo está mudado. A luz, porém, continua acesa. Acesa como a vela no altar do sacerdote guardião do templo, favorecendo a caminhada através da fé, da inabalável fé que guiou benevolente sua vida toda na terra, com os dons da generosidade e da acolhida fraterna.

Sua luz própria há de refletir na memória dos seus; dos gigantes que contigo aprenderam a inspirar coragem e dedicação. A intensidade do seu coração grandioso agora passeia no universo do povo encantado, contando história aos anjos e fazendo rir os arcanjos com serenidade peculiar, forjando astros e estrelas para brilhar no caminho daqueles que te amam.

Ah! Vida! Bela vida! Feita de encontros e de memórias. Encontros que ensinam, memórias que tornam imortais os afetos!

O inesperado do desconhecido além da vida jamais a assustou ou afugentou a fé que te sustentou. Esta fé que há de sustentar os passos dos que aqui caminham. Viver é construir ciclos, e jamais perecer com eles, cara e bela Senhora Maria de Fátima Moraes.