Publicado em: 14 de maio de 2022 às 03:30
My religion is very simple. My religion is kindness” (“Minha religião é muito simples. Minha religião é a bondade”).
Essa definição foi proferida pelo Dalai Lama, líder espiritual do budismo tibetano, para explicar ao mundo que pouco importam as diferenças entre as diversas religiões existentes, desde que se respeite seu objetivo supremo e uníssono de fazer o bem.
A bondade, na realidade, é a essência de todo caminho espiritual e humanitário, seja qual for a religião em análise. Com ela vêm outros sentimentos igualmente vivos em todos os caminhos, como amor, generosidade, compaixão e respeito, variando apenas a(s) divindade(s) venerada(s) por uma ou outra religião e os rituais e textos sagrados de cada uma delas.
É com base nesses sentimentos que encontramos a paz em Deus e que ele nos encontra; é por meio da bondade que nos reconhecemos no Criador e que ele se reconhece em nós. Ou alguém, em sã consciência, pensa que Ele, em sua infinita bondade, nos quer vingativos, maldosos ou violentos?
Talvez um espírito punitivo prevaleça em algumas religiões, mas com o tempo se vai oferecendo mais espaço a um Deus generoso que preza pela compaixão, pela misericórdia, pelo perdão — sentimentos derivados da bondade e que com ela se confundem, se misturam, no coração daquele que quer realmente fazer o bem.
Quem procura auxílio ou amparo espiritual, seja numa igreja, num templo ou num terreiro, procura um pouco dessa bondade que move o mundo para um caminho mais iluminado. Certamente, ninguém deseja encontrar, na busca por esse amparo, exemplos negativos de ódio, rancor ou vingança, uma vez que isso já sobra no cotidiano e é justamente essa a nossa luta: não ceder às facilidades do mal, não esfriar nossa fé e não fraquejar nos momentos de dificuldade, tudo na tentativa de afastá-los de nossas casas e dos nossos corações. “Evite a ira e rejeite a fúria; não se irrite: isso só leva ao mal.” (Salmos 37:8)
E nos momentos em que for impossível recorrer a alguém e que nos faltarem forças para lutar contra sentimentos negativos, sabemos que não estamos sós; temos, a nosso favor, nossas crenças, nossos valores e um Deus compassivo que nos deixa atentos contra as armadilhas e aquecidos contra o frio que tenta nos dominar. “Tenham cuidado para que ninguém retribua o mal com o mal, mas sejam sempre bondosos uns para com os outros e para com todos.” (1 Tessalonicenses 5:15)
Nisso, penso que todas as religiões são iguais, ao menos na essência. E embora isso não nos impeça de errar, com absoluta certeza nos impede de exaltar o erro ou mesmo de fugir de suas consequências, pois encarar a responsabilidade sobre nossos atos não deixa, em última instância, de ser uma forma de bondade, uma manifestação do verdadeiro arrependimento.
Assim, não devemos defender o pecado ou idolatrar o pecador, mas aprender com os erros que cometemos e buscar evoluir, o que passa por uma justa e adequada responsabilização (humana e divina).
Temos leis aqui embaixo e lá em cima, e nos dois cenários há juízes para decidir as punições necessárias. Isso vale para um jovem abordado com com trouxinhas de maconha, para o homem que furta um saco de pão para alimentar os filhos, para um motorista alcoolizado, para um político corrupto ou mesmo para um padre dominado pela ira, pois todos são iguais perante a(s) lei(s).
Você pode até discordar de mim, mas aparentemente a Bíblia concorda: “Meus amados irmãos, tenham isto em mente: sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus.” (Tiago 1:19-20)
Enzo é advogado em Santa Cruz do Rio Pardo
Voltar ao topo