Publicado em: 13 de julho de 2023 às 22:00
Atualizado em: 13 de julho de 2023 às 22:17
É sempre nos momentos mais delicados que a sociedade se mobiliza para aprender um pouco mais sobre o mundo jurídico, seja para se informar acerca dos próprios direitos, seja para passar uma fofoca adiante com mais detalhes, num tom mais profissional.
Na pandemia tivemos um grande exemplo disso em virtude da vigência de medidas provisórias reduzindo salários e jornadas de trabalho ou suspendendo contratos, mas também em períodos eleitorais isso acontece com grande frequência, pois todos querem saber um pouco mais sobre propostas dos candidatos, quórum para aprovação de projetos de lei ou para poder opinar em um ou outro assunto.
Aqui, mostra-se importante deixar claro que muitos não pesquisam coisa nenhuma ou preferem pesquisar não na lei ou com pessoas do ramo, mas em grupos de Whatsapp ou páginas de Facebook. Posso estar errado? Sim, claro, mas essa é a única explicação para tanta besteira que alguns insistem em dizer ou publicar, geralmente em tom ofensivo e sempre com uma imbecilidade que machuca.
Dito isso, também as fofocas costumam mobilizar o interesse social pelas regras do Direito, especialmente as fofocas locais e que envolvem pessoas conhecidas. Surgiu um escândalo criminal e todo mundo quer saber: vai ser preso? Qual a pena? Será que vão soltar? Que bulhufas é essa tal de “audiência de custódia”?
Esse interesse é sempre bom, mas a motivação nem tanto. É o que estamos vivenciando no momento em Santa Cruz durante a investigação criminal para descobrir detalhes sobre o assassinato de “Mimi”, santa-cruzense assassinada a tiros ainda em 2023.
Todo mundo quer saber quem matou, quem mandou matar, se teve pagamento, de que conta o dinheiro saiu, se existia envolvimento de outras pessoas, os motivos do assassinato, a forma que ele ocorreu, se um ou outro vai ficar preso, quais as medidas e penas possíveis, se há mais provas, se há fotos ou vídeos comprometedores, qual a motivação do crime… Todo mundo pensa em tudo e quer saciar a sede por notícias, mas é curioso notar que quase ninguém pensa na vítima, reduzida a “travesti” como se isso fosse suficiente, como se não estivéssemos falando de uma vida ceifada e de uma família que perdeu um ente querido.
Seria também um crime (no caso, contra o bom senso) negar que vivemos em terras moralistas, onde a vida de um LGBTQIA+ parece não ter o mesmo valor que a de um heterossexual, ainda que isso saia da boca de poucos. O homem casado, com filhos, frequentador da Igreja aos domingos e sem vícios públicos pode buscar prazer na calada da noite onde bem entender porque carrega consigo a carteirinha do pertencimento, e ainda enche a boca para criticar quem é descoberto, como se o seu tesão escondido (nada de reprimido, né?) fosse um símbolo de castidade.
Agora os mais discretos aproveitam para apontar dedos para si mesmos valendo-se do nome de terceiros, quase que para validar a escolha pelo sigilo; e todos seguem, no calor dos acontecimentos, esquecendo-se da dor das famílias, especialmente daquela que teve que enterrar uma irmã, uma tia, uma prima. Não uma travesti, mas um ser humano, dona de qualidades e defeitos como todos nós.
E se o caso não envolvesse uma travesti? E se Mimi fosse uma mulher cis e heterossexual? E se convivesse com a alta sociedade santa-cruzense? Mereceria, então, o choro de mais gente?
Nem tudo precisa sair da boca para ser dito.
Enzo é advogado em Santa Cruz do Rio Pardo
Previsão do tempo para: Terça
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