Publicado em: 26 de dezembro de 2022 às 18:24
O dia 18 de dezembro não será mais lembrado apenas pelo aniversário de lendas como Charles Darwin, Keith Richards, Steven Spielberg, Billie Eilish e Brad Pitt, ou mesmo pela celebração do Dia do Mergulhador ou pela formatura de Roberto Pegorer como engenheiro agrônomo, pela UENP, na cidade de Bandeirantes/PR. Da semana passada em diante, 18/12 será eternamente lembrado como o dia de um espetáculo que parou o mundo e chacoalhou as convicções dos ateus: a final da Copa do Mundo, vencida heroicamente pela Argentina num embate épico contra os franceses.
O jogo envolvia dois rivais históricos do escrete canarinho. De um lado estava a vizinha Argentina e, de outro, a nossa algoz França, responsável por três traumáticas eliminações brasileiras em Copas do Mundo (1986, 1998 e 2006). Isso parecia inicialmente dividir nossa torcida, mas aos poucos foi tomando conta uma inesperada preferência pela conquista dos argentinos e, principalmente, de Lionel Messi — algo óbvio para quem ama futebol, mas não tão óbvio a quem prefere a repulsa cega pelos rivais continentais.
Mas o que teria motivado tanta gente a torcer pelos hermanos mesmo desconfiando fortemente que o contrário não ocorreria?
Pensei nisso quando li comentários desse tipo em páginas na internet e me parece indiscutível que essa preferência foi conquistada por merecimento, admiração e, por que não?, uma boa dose de inveja.
Vamos rebobinar a fita e pensar no desejo maior de todo brasileiro quando teve início a Copa do Mundo, logo após o encerramento do segundo turno das eleições presidenciais. Queríamos um país unido, com todos vestindo a camisa da seleção brasileira (até então apropriada pela ala mais conservadora da sociedade); um time de jogadores aguerridos, valentes, que disputassem cada bola e cada palmo do gramado como se disso dependessem suas vidas; uma equipe que representasse nosso povo com honra, fazendo-nos esquecer, ainda que momentaneamente, as mazelas sociais e a situação de fome enfrentada por mais de 33 milhões de brasileiros; um grande craque, com costas largas o suficiente para conseguir carregar nelas todo o país; e seriedade de todos os envolvidos, para que vaidades não sobrepusessem o objetivo principal de conquistar a mística relíquia capaz de unir os povos e conhecida popularmente como Taça da Copa do Mundo. Queríamos a taça banhada a ouro, e não o filé mignon.
Nossos vizinhos tiveram tudo isso e com toques de nostalgia, fazendo-os rememorar os tempos mágicos de 1986, quando Don Diego Armando Maradona entrou para o templo dos imortais na Copa do Mundo daquele ano, realizada no México. Naquele ano, a situação do país era desesperadora ao saírem humilhados da Guerra das Malvinas e enfrentarem um terrível contexto interno, já que teve fim apenas em 1985 uma sangrenta ditadura militar que aterrorizou o povo argentino.
Depositaram num time de futebol todo o peso de unir e alegrar o país, e tudo deu certo porque “El Pibe de Oro” assumiu essa responsabilidade sem decepcionar um argentino sequer. Virou “Deus” e ainda se vingou dos ingleses com um gol de mão e o gol mais lindo da história das copas.
Dessa vez acreditaram que Messi teria a mesma grandeza e Lionel fez as vezes de Maradona: lutou, catimbou, jogou um futebol estupendo e levou a Argentina a sua terceira conquista. Preparem suas orações para aclamar a nova divindade.
Enquanto isso, nós brasileiros ficamos sem nada. Não teve luta, não teve título, não teve super craque para carregar o país nas costas. Enquanto comemoram o título, comemoramos sua derrota contra a Arábia Saudita e nossa goleada sobre a frágil Coréia do Sul. Ficaram com os melhores momentos, e nós com os melhores penteados. Os argentinos se abraçaram, os brasileiros dançaram.
Com isso, por aqui segue a desunião e uma descrença que hoje é tão grande a ponto de unir o país para valorizar, com merecimento, um jogador do nosso maior rival no mundo do futebol. Isso sem contar os que deram a Neymar tanto poder sobre eles que mudaram até a torcida. Sim, torceram contra o país por implicância com um único homem.
Ao menos agora o Brasil mudará seu comando e poderemos voltar a ter esperanças de que as coisas melhorem. Ou será possível que alguém concederá tanto poder ao novo comandante a ponto de torcer contra o próprio país?
Enzo é advogado em Santa Cruz do Rio Pardo
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