Luiz Antonio Sampaio Gouveia

Negritude

Coluna de Luiz Antonio Sampaio Gouveia

Negritude

Publicado em: 10 de dezembro de 2022 às 09:44

Somos negros. Se não na epiderme, talvez não, mas certamente, na cultura, que, para Maria Helena Chauí, é mesmo até a cozinha de um povo, como nossas ladainhas e rezas também. Embora seja verdade que, em nossos países ancestrais, Portugal, Espanha, Itália, negros já existissem a procriar com outras origens. Mas somos 60% negros e pardos. Pode ser que nesta branquitude do Sul maravilha, com esta gauchada do Brasil Central, não pareça. Contudo as delicias da misteriosa Bahia, fazem a diferença. É bom saber o que é que a baiana tem.

Sempre fui curioso da antropologia e da sociologia do nosso povo brasileiro. Mas a cada dúvida, vou decifrá-la, como nos Açores, em África (Axé!); ou em Nova Órleans, na Luisiana, sul racista dos Estados Unidos antigamente. Assim foi que mocinho, fui vidrado em Casa Grande e Senzala, do Gilberto Freire, livro que se consumiu com outros preciosos volumes, em uma tulha de meu pai. Entretanto por minha culpa, que os deixei na umidade.

Gilberto Freire, narra em Casa Grande e Senzala, que o mercado de escravos africanos, em Nova Órleans, é igualmente ao de Recife. Fui aos dois, para tirar a dúvida. São idênticos!

Isto porque fomos, nós os mulatos brasileiros, os grandes traficantes de escravos africanos para as Américas, como aprendemos a traficar com os portugueses, estes com muçulmanos árabes e esses, com os próprios régulos africanos. Apesar de a chaga da escravidão ser tão antiga quanto à Humanidade.

Toda escravidão tem primeiramente razão econômica e às vezes, em seguida racial, como é o caso dos negros no Brasil.

Joaquim Nabuco, um dos maiores brasileiros, filho de família grande usineira de açúcar, em Pernambuco, dizia que o Brasil abandonou os negros despois da escravidão libertada e teve razão. Outro dia li, um precioso trabalho sobre a escravidão entre os índios do Canadá. Depois de certo tempo libertados, os índios escravos, passavam por um período de reciclagem cultural, antes da passarem a viver na sociedade indígena livre.

O Brasil nunca soube disso e deixou depois da Lei Áurea, os negros vagando pelas estradas. Em que pese seja certo que isto aconteceu, no Sudeste, em 13 de maios de 1888. Principalmente porque, em maio, aconteciam as grandes colheitas de café, que não pôde ser colhido pelos fazendeiros, grandes ou pequenos (porque desses pequenos haviam muitos), por falta da mão de obra escrava, que se evadia das fazendas, deixando-as abandonadas sem produzir, portanto. Isto desencadeou a miséria nas regiões produtoras do Vale do Paraíba, que apoiavam a monarquia e deu na República.

Contudo a República foi racista também e a política do branqueamento, depois da grande crise econômica mundial de 1890, se trouxe para o Brasil, laboriosos imigrantes, como os italianos do Vêneto e os andaluzes da Espanha, com os pobres portugueses, da Alentejo, para baixo, marginalizou os negros, deixando-os em absoluto abandono.

Por isto e de fato, o racismo de cor, é um cancro que precisa ser extirpado da cultura brasileira definitivamente. Muito contribui para isto, o Movimento Negro e destaco os esforços do Professor Hélio Ramos, que editou sobre os duzentos anos de Brasil, um magnífico livro de Resistência Negra ao Projeto de Exclusão Social, com temas importantíssimos, desenvolvidos por autores negros.

Contudo se eu pudesse ponderar com meus irmãos de nossa afroascendência, diria menos passado e mais futuro. Porque se já tivemos um Presidente negro, Nilo Peçanha, um Ministro do STF, mulato, Pedro Lessa, o Barão de Guaraciaba, um dos maiores cafeicultores do Império, antigo escravo, o Visconde de Jequitinhonha, fundador mesmo da Ordem dos Advogados do Brasil , sem falar em Machado de Assis, um dos maiores escritores da literatura mundial e o meu Mestre Luiz Gama e o Professor Cesarino, nas Arcadas, todos pretos, nossos irmãos americanos, já nos deram Barak Obama, Collin Powel, Kamala Harris, Condoleza Rice, o atual Ministro da Defesa, do Estados Unidos,  ainda o líder dos Democratas, na Câmara americana dos representantes, afrodescendentes. Nós podemos! Pelo Brasil!


Luiz Antonio Sampaio Gouveia

Luiz Antonio Sampaio Gouveia

Santa-cruzense, Sampaio Gouveia é advogado graduado pelas Arcadas e especialista em Finanças e Contabilidade (pela EAESP/FGV) e em Direito Penal Econômico (pela GVLAW/FGV), mestre em Direito Público (Constitucional) pela PUC-SP, Conselheiro e Orador oficial do IASP, membro do Consea/Conjur/Fiesp, procurador-jurídico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, entidade em que é irmão Mesário e remido, conselheiro da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Medicina da Faculdade de Misericórdia de São Paulo. É membro do Instituto Brasileiro de Recuperação de Empresas em Crise. Foi conselheiro-seccional da OAB-SP e da ASP. CEO Sampaio Gouveia Associados


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