Luiz Bosco

O que é a luta antimanicomial?

O que é a luta antimanicomial?

Publicado em: 25 de maio de 2021 às 15:34
Atualizado em: 25 de maio de 2021 às 15:35

O lugar conhecido como manicômio ou hospício ainda está presente em nosso imaginário. Seria o espaço destinado a pessoas que “perderam a razão”, ou “estão fora de si”, os chamados “loucos”. Isso traz a ideia da loucura como algo que perturba o convívio, podendo até representar alguma ameaça. Acontece que nada disso condiz com a realidade.

A luta antimanicomial é um movimento que existe para superarmos todas essas concepções a respeito do sofrimento mental. Todos passamos por momentos em que sentimos como se nossas dores fossem acabar com nossa vida. Para algumas pessoas, essa condição pode ser intensa e acompanhá-las por toda a vida. Quando estamos assim, precisamos de apoio.

Os antigos manicômios não eram lugares que ofereciam essa ajuda. Sua função era basicamente a de depósito de pessoas consideradas indesejáveis: loucos ficavam confinados juntamente com mulheres envolvidas em relações fora do casamento, alcoolistas, jovens indisciplinados, entre outras situações marcadas muito mais por um julgamento moral do que por uma situação que realmente exigisse intervenção psiquiátrica.

Existe abundante documentação demonstrando que esses espaços ofereciam condições desumanas, com maus-tratos, uso de procedimentos violentos e invasivos (“eletrochoque”, lobotomia, trepanação etc.), abusos e o mais completo abandono. Um interno poderia permanecer o resto da vida trancafiado, sem jamais voltar ao convívio em sociedade.

É contra essas condições que a luta manicomial se levanta. No Brasil, desde o final dos anos 1970, trabalhadores da área, bem como pacientes e familiares, organizaram-se para mudar esse cenário. A data de 18 de maio foi escolhida para lembrarmos dessa importante luta, em memória à realização da Primeira Conferência Nacional de Saúde Mental. Nesse mesmo ano, foi elaborado o manifesto conhecido como “Carta de Bauru”, denunciando o autoritarismo e desumanidade nas instituições.

Em 2001, é promulgada a lei que institui os centros de atenção psicossocial. Com o propósito de substituir os manicômios e leitos psiquiátricos progressivamente, os CAPS hoje estão espalhados pelo País, oferecendo atenção humanizada. Seu espaço físico deve ser independente de uma área hospitalar, para oferecer um ambiente acolhedor. Sua equipe mínima conta com médico psiquiatra, enfermeiro, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional ou pedagogo, além de auxiliares e artesãos para as oficinas.

Tudo isso é importante para superar uma visão de que o louco precise ser trancafiado; além disso, garante-se tratamento em uma perspectiva global, incluindo formação para promover a autonomia social do usuário (como chamamos quem participa de um CAPS).

A luta é permanente, pois a possibilidade de retrocessos está sempre às portas. Uma das frentes de batalha é contra a medicalização, que é a tendência de se concentrar todas as decisões a respeito da saúde mental nas mãos da classe médica, bem como restringir as ações terapêuticas ao uso de remédios.

A medicação excessiva e a ausência de ações que promovam a inserção social, a autonomia financeira e a promoção de uma rede de apoio, podem produzir “manicômios a céu aberto”, em que ainda que não haja pessoas trancafiadas, elas não desenvolvem condições para uma vida plena, não tutelada.

Defender essa causa é proteger o direito de todas as pessoas terem acesso gratuito e universal aos cuidados em saúde mental. Trata-se de proteger os CAPS e também lutar por todos os direitos que contribuem para o nosso bem-estar: trabalho digno, educação, cultura, serviços de saúde e de transporte, bem como cuidados ao meio ambiente.

Uma sociedade que cuida daqueles que sofrem, é uma sociedade mais humana e que cuida de toda gente.


Luiz Bosco

Luiz Bosco

Psicólogo (CRP 06/96910), Doutor em Psicologia pela Unesp. Escreve quinzenalmente. Contato: (14) 99850-0915


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