Luiz Bosco

Quando o trabalho nos leva ao desespero

O trabalhador não se sente ouvido nem pela empresa, nem por mais ninguém

Quando o trabalho nos leva ao desespero

Publicado em: 07 de maio de 2022 às 01:14

Apareceu na parede de um banheiro de uma empresa de Marília uma mensagem, na qual se faz uma ameaça: a de matar pessoas da organização, começando pelo presidente. O motivo seria a depressão de quem escreveu e de outros trabalhadores, bem como supostas situações de mortes por covid e suicídio. Também fala das condições de trabalho, como cobranças para que se trabalhe em feriados. A empresa emitiu nota, afirmando que zela pelo bem-estar físico e emocional de seus colaboradores.

Pelo que está disponível na imprensa, a mensagem teria surgido no Dia do Trabalhador (1º de Maio), o que aumenta o simbolismo presente na situação. Vamos falar sobre isso, considerando que não está em questão a empresa específica, mas a realidade do trabalho hoje no Brasil.

Em alguns aspectos, não importa se é uma troça de péssimo gosto ou um autêntico desabafo. O chiste, mesmo quando totalmente inadequado, é uma ferramenta para se expressar aquilo que pensamos, mas não temos coragem de admitir. Acrescente-se que o anonimato que a cabine do banheiro proporciona é espaço tradicional de expressão daquilo que não é socialmente aceitável, como propostas sexuais, galhofas, ofensas e ameaças. É um lugar de se manifestar aquilo que sabemos não ser admissível publicamente, incluindo o descontentamento com o ambiente de trabalho.

Sejamos francos: a “rádio peão”, o papo de corredor, gira em torno da insatisfação com o emprego. Contudo, na sociedade capitalista, é inaceitável apresentar suas queixas ao patrão. Isso é inculcado em nós desde a família e a escola, como algo mais temido do que uma falha objetiva na execução do trabalho. Somos adestrados para nos curvarmos frente à chefia e obedecer de qualquer forma. Questionar qualquer aspecto da gestão, frente a frente com ela, é falta grave que, em algumas situações, pode ser tomada como ato de coragem, heroísmo ou martírio. Nenhum gestor admitirá isso, alegando que há incentivo à participação dos “colaboradores”, mas quem é trabalhador/a sabe como funciona. “Manda quem pode e obedece quem tem juízo”, afirma o dito popular.

Com a carestia diminuindo o poder de compra, a redução de garantias trabalhistas por causa da Reforma e o aumento do desemprego - fomentado pela indiferença do governo Bolsonaro, temos um cenário em que o mundo do trabalho se torna insuportável. Trabalha-se mais por um salário que compra menos. A cobrança por dedicação é constante e não está apenas dentro do emprego, está nas redes sociais e outras mídias que nos bombardeiam com a ideologia meritocrática, dizendo que temos que trabalhar incansavelmente e que se queixar é comportamento de preguiçosos.

O trabalhador não se sente ouvido nem pela empresa, nem por mais ninguém. Por mais que se dedique, não vê o dinheiro ser suficiente para a sobrevivência e não há perspectiva de melhora. Dizem que se está ruim, ou se não consegue comprar alimentos básicos, é culpa dele. Como a corda rompe para o lado do mais fraco, o desespero bate à porta e resulta em casos de depressão, ansiedade, dissociação cognitiva e tentativas de suicídio. Ciente de que não é ouvido, pode apelar para uma forma extrema de desabafar, com ameaças. Evidentemente que não é o melhor caminho, mas tal atitude evidencia que algo está muito errado e o sistema estabelecido finge que nada acontece.


Luiz Bosco

Luiz Bosco

Psicólogo (CRP 06/96910), Doutor em Psicologia pela Unesp. Escreve quinzenalmente. Contato: (14) 99850-0915


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