Publicado em: 11 de junho de 2022 às 03:37
Atualizado em: 11 de junho de 2022 às 03:40
A Pinot Noir é uma casta de origem francesa, que encontrou na região da Borgonha a sua máxima expressão. A razão deste sucesso está em vários fatores diferentes. No seu clima continental fresco, no seu solo, fruto da evolução de milhões de anos (com a ocorrência de grandes abalos sísmicos e tumultuadas movimentações de terras). Some-se a isso o empenho dos monges Cistercienses, que aí se instalaram em 1098 e se dedicaram por séculos à vinicultura. Eles foram os responsáveis pela localização das melhores parcelas para o plantio: no meio das encostas, voltadas para o leste, onde recebem maior incidência solar. Estes vinhedos foram classificados com Grand Cru e até hoje são reconhecidos como tal.
A Borgonha é grande e a Pinot Noir tem seu berço na Côte d’Or, precisamente ao norte desta, em Côte de Nuits. Não é exagero reconhecer que o estilo de Pinot Noir aí produzido é um modelo que é almejado pelos produtores do mundo todo. Almejado, mas não alcançado.
Se não nos é possível provar um Pinot Grand Cru, pelo seu altíssimo valor, há bons vinhos elaborados no mundo todo, por preço mais acessível, que apresentam uma boa tipicidade desta casta. A tipicidade seria ter cor rubi, pálido, isto é, ele chega a ser translúcido, de maneira que facilmente se vê o fundo da taça. Tem acidez alta, o que lhe confere longevidade e ajuda na harmonização. Mas o grande diferencial é ostentar pouco tanino, o que o faz um vinho agradável para aqueles que não gostam da sensação de adstringência (que amarra a boca). Apresenta aromas de frutinhas vermelhas: morango, cereja e framboesa. O Pinot Noir dessa região costuma passar de 14 a 18 meses em barricas de carvalho e isto confere ao vinho aromas e sabores de cravo da índia, cedro e até especiarias, como a canela. Os melhores envelhecem por décadas na garrafa e, depois de anos, entregam um surpreendente aroma de “sous bois”, ou do italiano, “sottobosco”. É um aroma de bosque, de mata úmida, terra com folhas caídas ao solo. Ainda há aromas de couro, tabaco e notas animais.
A fama é tanta, que um dos vinhos mais caros e cobiçados do mundo é o Grand Cru Romanné Conti, que pode chegar a 20 mil dólares a garrafa. Mesmo para os endinheirados, não é fácil comprá-lo. A fila de espera é longa e pode levar alguns anos. Ademais, o produtor só vende esta preciosidade em uma caixa, com dez vinhos diferentes, e ela não sai por menos de 60 mil dólares. É para poucos!
Então, vamos para os melhores vinhos de Pinot Noir, depois da Borgonha, que são produzidos com preço mais acessível. A primeira região é a Nova Zelândia, cujos vinhos cada dia são mais reconhecidos pela sua qualidade. Outro bom exemplar é o produzido na Califórnia, em Russian River Valley e Los Carneros. Aqui na América do Sul o destaque fica para duas regiões que têm nos brindado com bons vinhos desta cepa. Na Argentina, na Patagônia, e no Chile, no Valle de Casablanca. Este Valle fica próximo à região costeira e recebe as brisas frescas que vêm do mar, inclusive propiciando a formação de neblina. Este refrescamento que o vinhedo recebe auxilia na sua maturação mais lenta, o que proporciona a manutenção da sua acidez e de seus aromas. Este mesmo fenômeno também ocorre em Los Carneiros com maior intensidade. Há duas regiões ainda mais próximas do mar, por isso seus vinhos são muito apreciados, San Antonio Valley e Leyda Valley. O primeiro está a 8 km do litoral.
Uma dica de um acessível é o brasileiro Miolo Reserva Pinot Noir. Caso você ainda não tenha experimentado esta casta, esta é uma ótima oportunidade. Este vinho é facilmente encontrado nos supermercados por um bom preço.
Por ser um vinho tinto mais leve, o Pinot Noir pode ser servido entre 12 a 13º C. Acompanha muito bem peixes mais encorpados, como atum, carnes vermelhas leves, filé mignon grelhado ou na chapa. Destaque para o brasileiríssimo frango com quiabo. Fica uma delícia!
Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.
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