Publicado em: 13 de julho de 2023 às 22:40
Diversas vezes abordei nesta coluna o tema espumante e, em todas, manifestei a minha predileção por aqueles produzidos pela Cave Geisse, em Pinto Bandeira-RS, e agora você vai saber o porquê esta região é tão especial. Trata-se de uma grande conquista do vinho brasileiro alcançada no final de novembro de 2022. Ela é a primeira Denominação de Origem (DO) exclusiva para espumantes fora da Europa. Trata-se da DO Altos de Pinto Bandeira. Sem exagero, o nosso espumante é melhor que o argentino e o chileno, é o melhor da América do Sul. Para mim, os de Altos de Pinto Bandeira são os melhores do Brasil.
Para entendermos a importância deste reconhecimento, é necessário saber o que é uma Denominação de Origem. No mundo inteiro, quando certa região se destaca das demais na produção de um vinho diferenciado, pode receber um selo de Indicação Geográfica para comprovar que o vinho veio desta região famosa e que foi produzido conforme as técnicas e costumes da região. Isto não ocorre somente para vinhos, mas para inúmeros produtos e até serviços. Em nosso país há mais de 100 em várias áreas.
No Brasil, o reconhecimento de Indicação Geográfica é feito por um órgão federal, o INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial -, que concede duas modalidades: a Indicação de Procedência (IP) e a Denominação de Origem (DO).
A Indicação de Procedência se aplica a vinhos de regiões específicas que se tornaram conhecidas e renomadas. Na IP o foco é a região, a delimitação geográfica. A Denominação de Origem também se aplica a vinhos de regiões específicas, como a IP, mas é exigido que estes apresentem qualidades ou características próprias e que estas características únicas do vinho tenham sido alcançadas em razão do meio geográfico, incluídos os fatores naturais (clima, solo e relevo) e fatores humanos (sistemas de produção e elaboração, associados ao saber-fazer, isto é, ao costume de como produzir o vinho). Assim, os vinhos de uma DO cumprem exigências mais rígidas no que diz respeito à qualidade do que os vinhos da IP.
Tudo começou em 2001 com a criação da Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira – Asprovinho -, que se empenhou no reconhecimento da Indicação de Procedência Pinto Bandeira, que ocorreu nove anos depois, em 2010. Podem levar o selo da IP Pinto Bandeira vinhos tranquilos, isto sem borbulha, e espumantes, inclusive moscatel. Logo depois, em 2012, começaram os estudos para o reconhecimento da Denominação de Origem a qual, agora, tem outro nome: “Altos de Pinto Bandeira”, pois são autorizados e reconhecidos somente os vinhedos que estão em maior altitude, sendo a mínima 520 metros, podendo chegar a 770 metros.
O processo para obtenção da DO para espumante Altos de Pinto Bandeira foi complexo e trabalhoso. Exigiu tantos estudos que envolveu a Embrapa Uva e Vinho, o maior órgão de pesquisa de vinicultura do país, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade de Caxias do Sul (UCS), além do Sebrae Nacional, Sicredi Serrana e a Prefeitura de Pinto Bandeira, com a gestão da Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (Asprovinho).
Importante destacar que na DO Altos de Pinto, diferente do que ocorre na IP Pinto Bandeira, é autorizado somente a produção de espumantes elaborados pelo método “Champenoise”. Mas, como “Champenoise” passou a ser uma marca registrada de Champagne, utiliza-se a expressão método tradicional. É fácil entender! Todo espumante se caracteriza pelo fato de o vinho passar por uma segunda fermentação - e é nesta segunda fermentação que surgem o gás e as borbulhas. Se a segunda fermentação acontece em tanques de inox, temos o Método Charmat ou tanque, criado pelo enólogo italiano Federico Martinotti. Mas, o tradicional é realizar a segunda fermentação no interior da garrafa, como acontece em Champagne. Por isso este método é chamado Clássico ou Tradicional.
Vamos imaginar um espumante que seja Blend de Pinot Noir e Chardonnay. O vinho de cada uva é fermentado separadamente e depois é realizado o blend, isto é, a mistura. Este blend é colocado na garrafa de espumante, aquela de paredes grossas, e adicionado um líquido chamado Licor de Tiragem. Chama tiragem porque é este licor que vai tirar, criar a espuma. Tal licor é formado pelo mesmo vinho que já está na garrafa, no qual é acrescentado levedura e açúcar. A levedura consome o açúcar e gera pelo menos um grau de álcool e, ainda, produz gás carbônico que fica dissolvido no vinho, já que a garrafa está fechada. É este gás que gera as maravilhosas borbulhas.
Mas, quando o açúcar acaba, as leveduras morrem e aí acontece a maravilha chamada autólise, que veremos na próxima semana.
Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.
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