Barricas de carvalho e seus efeitos no vinho

No passado não existiam garrafas de vidro. Estas foram  uma invenção dos ingleses, a qual impulsionou o comércio de vinhos em todo o mundo. Antes, utilizava-se barricas de madeira, sendo o carvalho a preferida na Europa.
Na antiguidade, a barrica foi pensada unicamente como meio de transporte do vinho e até de cereais. As barricas já eram conhecidas na Mesopotâmia, mas neste período as ânforas de barro ainda dominavam, pois, a madeira disponível era dura e pouco maleável. Quem deu uma guinada em tudo isso foi o povo celta, precisamente os gauleses que habitavam a região central da atual França. Iniciaram o uso de um tipo de carvalho chamado por eles de “Quercus”, que significa madeira fina, por ser mais leve e maleável. Os Celtas aprimoraram a barrica, mas foram os romanos que se apropriaram desta tecnologia e a difundiram para todo o mundo.  
Nesta época as viagens marítimas eram longas, podiam durar meses, e os romanos constataram que, depois de uma longa viagem, o vinho colocado em barricas chegava no destino macio e mais fácil de beber. Isto é, o vinho melhorava. 
Com o passar dos anos, mesmo quando não era mais necessário para o transporte do vinho, pois as garrafas já haviam ganhado seu espaço, as barricas de carvalho continuaram a ser empregadas pelos produtores, mas com a finalidade de obterem aquele bom efeito colateral constatado séculos atrás pelos romanos. Em suma, atualmente, o vinho é colocado em barricas de carvalho para melhorar as suas características. 
Então, vamos entender o que a acontece com o vinho tinto quando ele passa por barricas de carvalho. Isto é, porque ele melhora. Há muito tempo se sabe que o vinho tinto que passou por barrica de carvalho fica mais macio e que isto ocorre razão do “refinamento” do tanino. Vamos lembrar que tanino é próprio do vinho tinto, é um substancia vegetal encontrada na casca da uva, na semente e no engaço. Ademais,  o vinho tinto é fermentado com as cascas da uva, logo estas cascas transferem tanino para o vinho, além da cor. O tanino não dá sabor ao vinho, mas dá textura, o torna adstringente, proporcionando a sensação de secura na boca e, às vezes, de rugosidade na gengiva frontal superior.
O interessante é que a madeira, por ser vegetal, também aporta tanino ao vinho. Em razão disso, pairava a pergunta: como o vinho poderia ficar mais macio, recebendo mais tanino? Estudos atuais, realizados com alta tecnologia, descobriram que o tanino que o carvalho adiciona ao vinho se une ao tanino do próprio do vinho, surgindo outro tipo de tanino, um pouco mais macio. Mas, isto não é suficiente para justificar a grande mudança que o vinho sofre. Então, descobriu-se também que o oxigênio ingressa no interior da barrica, principalmente pelas frestas das tábuas. Exatamente esta pequena quantidade de oxigênio, chamada microoxigenação, é a responsável pelo amaciamento dos taninos. Este processo é lento e exige que o vinho permaneça vários meses na barrica.
Além da maciez que o carvalho proporciona, ele agrega ao vinho aromas e sabores: cedro, baunilha, coco, especiarias, como cravo, nozmoscada etc.  Em razão do processo de fabricação da barrica, é necessário aquecer as tábuas  para dar forma ao barril e, depois de moldado, todo o seu interior é aquecido com fogo. É a chamada tosta, que pode ser baixa, média ou alta. Conforme o grau da tosta, quando mais intensa for, surgem também no vinho aromas e sabores de caramelo, bala toffe, café, chocolate amargo e fumo. Todavia, ao agregar aromas e sabores novos ao vinho, pode ocorrer um enfraquecimento dos aromas e sabores de fruta, os quais vêm da uva que se utilizou.  Isto é, o vinho fica menos frutado. 
Por isso, não é qualquer vinho tinto que pode ser colocado para maturar em barricas de carvalho. Somente aqueles que tenham uma boa estrutura, principalmente de fruta, sob pena de o vinho ficar com gosto de palito de picolé, isto é, sente-se somente o gosto da madeira.  Quando eu era criança e o picolé acabava, eu ficava lambendo o palito...
Qual a sua preferência? Vinhos que passaram, ou que não passaram,  por barrica de carvalho?