Publicado em: 24 de agosto de 2023 às 00:21
Portugal é respeitado pela sua tradição centenária na vinicultura e, atualmente, pela boa qualidade de seus vinhos. Chama atenção a grande variedade de uvas autóctones, isto é, que são originárias de Portugal e aí encontraram o melhor “terroir” para se desenvolverem. Há vinhedos plantados de Norte a Sul e cada região apresenta vinhos com características únicas.
Retornei há pouco de Portugal, onde visitei algumas vinícolas e gostaria de apresentar a Adega Regional de Colares. Colares é uma das poucas regiões vinícolas do mundo que não sofreu o ataque da Filoxera, uma praga que dizimou os vinhedos da Europa na segunda metade do século XIX. Está situada, aproximadamente, a 40 km de Lisboa, sendo fácil o acesso por estrada, levando em torno de uma hora. Saindo de Lisboa, necessariamente tem que se passar pela cidade de Sintra, que fica a menos de 10 km de Colares. Em Sintra, vale a pena visitar seus belos palácios. Ao deixar a rodovia principal, rumo a Sintra, passamos por muita curva, estradas estreitas, sem acostamento e rodeadas de muros. O interessante é que Adega de Colares é uma cooperativa e fica na área urbana.
Estávamos em dois casais e a visita à adega foi exclusiva, somente para nós. Fomos recepcionados pela guia Izz Canó, uma simpática porto-riquenha com mestrado em hotelaria e especialização em vinhos. Ela começou explicando que somente podem receber a menção no rótulo da Denominação de Origem (DOC) Colares, os vinhos cujas uvas foram plantadas na região demarcada de Colares. Mas não é só: as vinhas devem ser plantadas na areia e este é o grande diferencial dos vinhos de Colares. São cavadas valetas profundas na areia, do mesmo tipo encontrada na praia e nas dunas, com dois a três metros de profundidade, até encontrar lama - na verdade trata-se de argila úmida. Em vez de uma pequena vareta, são plantadas grandes varas e, à medida que ela vai brotando, a areia vai sendo reconduzida para a valeta.
Exatamente o plantio das videiras na areia e em grande profundidade foi que impediu o avanço da destruidora Filoxera. Essa praga é uma espécie de pulgão originário da América do Norte que ataca as raízes da videira, mas ele não sobrevive sob as profundezas da areia. Há registro de plantio de uvas viníferas na região de Colares deste o século XIV e, no início do século XX, era uma das poucas regiões vinícolas da Europa que estava produzindo vinho a todo vapor, exatamente por estar livre da praga. Mas a sua popularidade custou caro, pois tão logo outras regiões encontraram uma solução para a Filoxera, começaram a surgir falsificações, visando aproveitar a boa fama dos vinhos de Colares. Para combater a pirataria, em 1908 foi reconhecida a Denominação de Origem Colares e, em 1931, os produtores se reuniram e constituíram a Cooperativa Adega Regional de Colares, de maneira que somente poderia receber a classificação da DOC, os vinhos produzidos na cooperativa. Na época existiam mais de mil e quinhentos hectares de vinhedos em Colares. Hoje, em razão da evasão do campo e do avanço imobiliário, as vinhas não chegam a vinte hectares, distribuídas entre dezessete cooperados.
O Clima de Colares é Marítimo. Por estar a poucos quilômetros do Atlântico há ocorrência de muito vento, umidade e neblina. Em razão dos fortíssimos ventos as videiras são conduzidas rentes à areia e, como forma de maior proteção, são colocadas paliçadas de cana com pouco mais de um metro e meio de altura, criando, assim, uma barreira. A umidade, que pode trazer fungos é contornada através da fixação, no mês de julho, de pequenas estacas, com vinte a trinta centímetros, para levantar a videira e seus frutos e assim deixá-los mais arejados. A neblina impede a luz solar, o que é compensado pela areia quente que irradia o seu calor e auxilia na maturação. Mas, mesmo assim, a maturação é apenas suficiente para permitir a colheita. Em razão destes fatores, há pouca concentração de açúcar nas uvas e o vinho tinto alcança, somente, em torno de 12% de álcool.
As castas autorizadas pela Denominação de Origem Colares são apenas duas: a tinta Ramisco e a branca Malvasia, com a exigência de que ambas passem por barrica de carvalho. A Ramisco tem taninos intensos, por isso seu vinho é maturado em torno de seis anos em grandes pipas construídas com Mogno brasileiro e, depois, fica de 18 a 24 meses em barricas francesas. Assim, o vinho de Ramisco leva 8 anos para ser lançado no mercado e, ainda, pode evoluir por décadas na garrafa. Já, a Malvasia, passa 3 meses em barrica. Na degustação provamos ambos. Fiquei impressionado com a salinidade da Malvasia, a potência dos taninos da Ramisco e a leveza deste vinho, em razão do teor alcoólico mais baixo.
Para saber mais sobre os vinhos de Colares, assista ao vídeo no meu canal Apaixonado por Vinhos no Youtube, neste link: https://youtu.be/-57ogDeakHk
Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.
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