Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

O 5º melhor vinho do mundo

Coluna de Mauricio Azevedo Ferreira

O 5º melhor vinho do mundo

Publicado em: 14 de outubro de 2023 às 18:00

O escolhido esta semana para estrelar a Playlist “Esse vinho é bom?” no meu canal no Youtube, “Apaixonado por Vinhos”, foi um vinho que recebeu o reconhecimento como sendo o 5º melhor do mundo: Moscatel Casa Perini.

Em 1929, filho de imigrantes italianos, João Perini morava  no Vale Trentino, em Farroupilha, Rio Grande do Sul, e começou a fazer seus primeiros vinhos de forma artesanal no porão de sua casa, primeiro para consumo familiar, mas como muitos gostaram, ele  passou a fornecer para amigos e festas da comunidade local. Quarenta anos depois, em 1970, o descendente Benildo Perini promoveu grandes mudanças, ampliou e profissionalizou o negócio, fundando a Casa Perini. A evolução de qualidade foi tanta que os vinhos da Casa Perini receberam mais de duzentas medalhas, nacionais e internacionais.

Vamos entender a premiação que reconheceu o Moscatel da Casa Perini como sendo o 5º melhor vinho do mundo? Este reconhecimento veio em 2017 pela Associação Mundial de Escritores e Jornalistas de Vinho e Destilados. O que esta associação faz é, na verdade, um ranqueamento, isto é, uma classificação dos vinhos conforme os prêmios que eles já receberam ao redor do mundo e atribui uma nota para cada tipo de medalha que o vinho recebeu nos vários concursos. Ao fazer a somatória de pontos, o moscatel da casa Perini ficou em 5º lugar.

Moscatel é, ao mesmo tempo, o nome do estilo deste vinho e o nome da uva, ou melhor, de uma família de uvas. Na verdade, são centenas. Não são somente uvas brancas, também tintas e rosadas. Na França ela é chamada Muscat, na Itália é Moscato e nos países de língua portuguesa e espanhola é conhecida como Moscatel. A sua característica, que a tornou apreciada no mundo todo, está na sua grande capacidade de maturação e produção de muito açúcar. Ela tanto pode ser utilizada para vinho espumante, vinho tranquilo, isto é, sem borbulhas, vinho doce e seco. Também é muito utilizada para produção de vinho fortificado, tipo licoroso, como o famoso Moscatel de Setúbal.

A uva Moscatel chegou no Brasil com os imigrantes italianos no início do século passado. Aqui a variedade utilizada é a Moscato Branco. O Moscatel Casa Perini é produzido na melhor região do país, a que mais se destaca na qualidade destas uvas, que é Farroupilha, no Rio Grande do Sul. Tanto que Farroupilha foi reconhecida como uma IP, isto é, uma Indicação Geográfica para vinhos Moscatéis em razão da sua diferenciada qualidade. Assim, os vinhos desta região indicam no rótulo a sua procedência, com a inscrição IP Farroupilha.

Diferentemente dos demais espumantes, os quais são preparados a partir de um vinho já pronto e que recebe uma segunda fermentação, o moscatel é elaborado pelo método Asti, que é o nome de uma cidade do Piemonte, no noroeste da Itália, onde é elaborado o famoso Moscato D’Asti. Neste método, as uvas são colhidas bem maduras, com bastante teor de açúcar, e o suco é colocado, juntamente com leveduras, em um grande tanque de inox, tipo autoclave, que suporta pressão. As leveduras, que são micro-organismos, começam a fazer o que sabem: se alimentam do açúcar e o transformam em álcool e, neste processo, chamado fermentação, também é produzido gás carbônico. Como o tanque está selado, o gás se dissolve no vinho e cria as famosas borbulhas. Durante a fermentação, quando o teor alcoólico chega a 7,5% do volume, ainda tem bastante açúcar, a fermentação é interrompida por resfriamento e, assim, sobra açúcar. Fica, aproximadamente, em torno de 60 gramas de açúcar por litro. Então, o dulçor do Moscatel vem da própria uva, não é adicionado açúcar.

Por ser um espumante doce, o moscatel deve ser servido na temperatura entre 4 e 6 graus. Na degustação, o Casa Perini apresenta cor palha, levemente amarelada, com perlage de boa consistência e bolhas fininhas. Entrega aromas de média intensidade, com notas florais e frutadas: flores brancas e pêssego. Na boca, a acidez alta equilibra muito bem o dulçor, o que o deixa elegante, assim como a sua boa cremosidade. É muito refrescante e com final de boa intensidade. Seguindo a escala de qualidade já referida anteriormente, o classifica como “muito bom”.

É possível harmonizar este moscatel por contraste, com pratos salgados, agridoces, que recebem frutas. Como um pernil suíno servido com geleia de laranja. Muitos gostam de moscatel com queijos fortes, como gorgonzola. Mas, por ser um vinho doce, a harmonização mais comum é por semelhança com outros pratos doces. Mas sempre atentando que o vinho tem que ter um dulçor maior que o da sobremesa, senão o vinho fica com gosto amargo. Na terra do Moscato D”Asti, na Itália, a harmonização clássica é com  Panetone. Ainda vai muito bem com mousse de maracujá, salada de frutas, tortas doces, principalmente de maçã e limão.

Quer saber mais sobre este moscatel, veja meu vídeo: https://youtu.be/ijFR4TyIDbc


Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.


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