Publicado em: 22 de abril de 2022 às 21:57
Uma pesquisa realizada por entidade ligada aos supermercados para o ano de 2020 constatou que o vinho importado mais vendido no Brasil é o Reservado da gigante chilena Concha y Toro, o qual está presente na taça de milhões de brasileiros. E o que mais se destaca em vendas entre os Reservados é o Cabernet Sauvignon. Não é difícil entender a razão deste sucesso. A Concha y Toro foi fundada 1883 por um milionário, empresário e político, Melchor Concha y Toro, com o desejo de produzir vinhos tão bons quanto os franceses. Embora a sua produção esteja concentrada no chile, ela também está presente na Argentina e na Califórnia, nos EUA, e vende vinhos para mais de 130 países. É a maior da América do Sul. A linha Reservado é a mais simples e a mais barata de todas que a Concha y Toro possui. Depois é seguida pelas linhas Casillero del Diablo e Marques de Casa Concha. No topo, a Concha y Toro tem o Don Melchor, que é um vinho Premium, que custa em torno de mil reais, e foi classificado em 2010 entre os dez melhores vinhos do mundo pela Revista Wine Spectator. Nos anos de 2011, 2012 e 2013 a Concha y Toro foi reconhecida como a marca de vinho mais admirada do mundo, pela revista Drinks International.
Estou me detendo sobre a Concha y Toro para deixar claro que ela sabe fazer vinho e tem um rótulo para cada tipo de consumidor, desde os iniciantes, que é o vinho Reservado, até para os mais exigentes; de outra forma, desde os mais baratos até os de alto valor. Daí o motivo do seu Reservado ser o mais vendido no país.
Mas, afinal, o que é o Vinho Reservado?
Reservado é a maior jogada de marketing dos chilenos para o mercado Brasileiro. Quando os vinhos chilenos estavam para desembarcar no Brasil, anos atrás, foi constatado que o brasileiro gostava de vinho que tivesse passagem por barrica de carvalho, ainda, que o brasileiro associava a estes vinhos o nome Reserva. Assim, como estes vinhos chilenos não passaram por barrica de carvalho, colocaram o nome de “RESERVADO” visando pegar uma carona no sucesso dos vinhos Reserva.
Então surge outra pergunta: Reservado é um vinho ruim?
O Reservado chileno é um vinho simples e o mais barato que uma vinícola produz. O teor alcoólico não é alto, em torno de 12 a 12,5% do volume e possui aromas e sabores limitados de frutas. Mas dentro da sua simplicidade, é um vinho bem feito e costuma ser equilibrado. Mas preste atenção, se compararmos dois vinhos, da mesma variedade de uva e faixa de preço, um tendo em seu rótulo a inscrição “Reservado” e o outro não. Este com a especificação “Reservado” não é melhor do que o outro. Isso mesmo, a palavra “Reservado” estampada no rótulo não significa que o vinho tenha tido um tratamento especial e por isso é melhor e foi reservado (separado).
Diante do estrondoso sucesso dos vinhos Reservados chilenos, os produtores brasileiros se sentiram prejudicados e fizeram pedido ao Ministério da Agricultura para que também pudessem usar no rótulo a expressão Reservado. A autorização foi dada em 2018, com a seguinte especificação: O Produtor Brasileiro pode rotular como Reservado qualquer vinho jovem, sem passagem por barrica, desde que tenha mais de 10% de volume de álcool. Assim, hoje, praticamente qualquer vinho brasileiro pode ser rotulado como Reservado.
Se você está iniciando no mundo do vinho fino e está consumindo rótulos na faixa de preço do Reservado, mas ainda tem alguma dificuldade com vinho seco, prefira outras uvas no lugar da Cabernet Sauvignon, pois esta costuma ter mais tanino, ser mais adstringente e áspera. Prefira vinhos de Merlot e Carmenere que são mais macios.
Agora que você descobriu que o Reservado não é melhor que outros, destaco que existem vinhos nacionais na mesma faixa de preço e qualidade. Garimpe, procure, não tenha preconceito com os vinhos brasileiros.
Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.
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