Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

O vinho preferido de Napoleão Bonaparte

Coluna de Mauricio Azevedo Ferreira

O vinho preferido de Napoleão Bonaparte

Publicado em: 27 de agosto de 2022 às 06:33

Estou sempre recebendo perguntas sobre vinhos, nas redes sociais e pessoalmente. Com certa frequência sou questionado sobre a minha uva preferida ou meu vinho preferido. A mais inusitada foi feita pelo Beto, durante um almoço na casa dele, entre uma taça e outra. Apesar de já um tanto solto pelo efeito etílico da bebida, ele tentou estampar um ar sério e disparou: “Se você fosse tomar um único vinho pelo resto de sua vida, qual seria?” Dissimulei um ar de perplexidade e contestei: “Porque um único vinho pelo resto da vida? É uma condenação?” Beto mordeu a isca: “Exatamente, você está em prisão perpetua e vai tomar um único vinho. Qual seria?”

Esta situação já foi vivenciada por Napoleão Bonaparte ao ser exilado pelos ingleses na Ilha de Santa Helena, onde passou o fim de sua vida. Mas, ele não teve a opção de escolher o vinho. Embora, vez ou outra atendessem ao seu capricho, nunca lhe deram o vinho que sempre bebera. Sim, Napoleão era um homem de um único vinho. Era um Pinot Noir da Borgonha, precisamente um Chambertin.

Napoleão era General e tornou-se Imperador da França. Não havia na Europa homem que despertasse maior temor entre as nações. Mas tinha hábitos simples e metódicos, cuja rotina transformou-se em rituais. Contentava-se com frango ou costelas de cordeiro. Por décadas, só bebeu Chambertin. Uma garrafa por dia, que na época era menor, de 500 ml, dividida entre o almoço e o jantar, mas sempre diluída com água. A ele é atribuída a frase: “Nada faz o futuro parecer mais cor de rosa do que contemplá-lo através de uma taça de Chambertin”. Em suas incursões pela Europa um suprimento de vinho o acompanhava. Quando avançou sobre o Egito levou uma incontável quantidade de Chambertin, visando servir não somente a ele, mas também parte da tropa. O que não imaginava é que o vinho não suportaria o chacoalhar e as altas temperaturas. Tudo virou vinagre.

Para se ter uma ideia, até hoje a Apelação Chambertin é icônica na Borgonha. Os mais simples podem constar no rótulo “Gevrey de Chambertin” e não chegam no Brasil por menos de R$ 750,00 a garrafa. Acima, estão aqueles que, além do referido nome, são classificados como “Premier Cru”, cujos preços podem passar de R$ 2.000,00. Por fim, no alto da pirâmide está o “Grand Cru”, em cujo rótulo consta tão somente Chambertin, cujo valor pode ultrapassar R$ 5.000,00. Não se sabe exatamente qual tipo era consumido por Napoleão, mesmo porque naquela época era permitido que regiões vizinhas também utilizassem o nome Chambertin. Mas, seja qual for, mesmo o mais simples, era, e ainda é, um vinho de boa qualidade.

Depois de ser derrotado na Batalha de Waterloo em 1815, Napoleão foi exilado na ilha de Santa Helena, onde faleceu em 1821. Por que nunca deram um Chambertin para ele? Simples! Os ingleses sabiam que, caso dessem, ele não beberia com o temor de ser envenenado. Os ingleses serviram ao ex-imperador um vinho popular de Bordeaux, chamado Claret, que era um pouco mais claro que o nosso atual tinto, o qual ele não apreciava. Há registro de que, diariamente, eram disponibilizadas 50 garrafas de vinho, além de destilados, para ele e seus soldados que também estavam segregados. O exilado também foi brindado com um vinho branco doce, vindo da África do Sul, o qual ele apreciava, chamado “Constancia - Grand Constance”. Este também é conhecido, até os dias de hoje, como o vinho de Napoleão e foi este que ele pediu no leito de morte.

Beto interrompeu: “Você está enrolando e não respondeu à pergunta”. Sorri e expliquei: “Sou um ‘Apaixonado por Vinhos’, mas não por um único vinho. São tantas as opções, é tão grande a variedade, que acho uma tristeza passar a vida toda, ou o que restar dela, bebendo um único vinho. Mas se eu estiver condenado e puder escolher, contento-me com um Chambertin e pode ser dos mais simples. Beberia, mas com certa melancolia, pois estaria fadado a não conhecer as centenas de maravilhas que ainda não provei”.


Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.


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