Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Vinho 120 Carménère Reserva Especial

Coluna de Mauricio Azevedo Ferreira

Vinho 120 Carménère  Reserva Especial

Publicado em: 07 de outubro de 2023 às 02:29

O escolhido da semana para estrelar a Playlist “Esse vinho é bom?” no meu canal no Youtube, “Apaixonado por Vinhos”, foi o chileno 120 Carménère Reserva Especial da Viña Santa Rita.

A Vinícola Santa Rita foi fundada em 1880 por Dom Domingo Fernández Concha, um renomado empresário da época que trouxe para a região do Maipo, no Chile, uvas francesas da região de Bordeaux, entre elas a Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Dom Domingo também contratou enólogo francês e comprou maquinário francês, objetivando produzir vinhos de grande qualidade no Chile.

Alguns anos depois da chegada no Chile das castas de Bordeaux, os produtores do Vale do Cachapoal, mais especificamente em Peumo, perceberam que havia algumas vinhas de Merlot que apresentavam características diferentes, pois seus vinhos tinham notas mais herbáceas, como pimentão verde e pimentão assado, à semelhança do Cabernet Franc. Eles pensaram que poderia ser um “clone” da Merlot, uma mutação natural,  por isso  chamavam estas uvas de Merlot Peumal e não sabiam que se tratava da Carménère.

O detalhe é que cada uva tem um tempo de maturação. Por exemplo, a Cabernet Sauvignon tem maturação tardia, isto é, demora muito para maturar. A Merlot é muito mais rápida. A Carménère tem maturação mais lenta, como a Cabernet Sauvignon. Como os produtores pensaram que se tratava de uma variação da Merlot, colhiam esta uva juntamente com a Merlot, portanto, antes da plena maturação. Este era o motivo dela apresentar notas destacadas de pimentão verde, que são dadas por uma substância chamada Pirazina, que também é encontrada, geralmente em menor intensidade, na Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Sauvignon Blanc.

Embora a Carménère fosse também uma casta bordalesa, até 1994 não se falava em Carménère no Chile, pois não havia registro de que ela teria sido importada da França, no final do século XIX, juntamente com demais uvas de Bordeaux.  Foi somente em 1994, durante o VI Congresso Latino-Americano de Viticultura e Enologia, que essa revelação foi feita pelo ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot. Ele foi ao Chile para participar do congresso e, ao visitar alguns vinhedos locais, inclusive pertencentes à Santa Rita, percebeu que algumas das videiras identificadas como Merlot eram, na verdade, Carménère. O detalhe é que esta havia sido, praticamente, dizimada na França pela praga filoxera e Bordeaux havia reduzido a sua área de plantio. Assim, em razão desta descoberta, o Chile abraçou a Carménère como uva símbolo, da mesma forma que a Malbec na Argentina e a Tannat no Uruguai.

Conta a história, reza a lenda, que em 1810 a Assembleia do Chile declarou a independência em relação a Espanha. Mas, é claro, o Governo Espanhol não aceitou esta declaração e começaram inúmeras batalhas, tendo o povo lançado mão às armas. Foi assim que, em 1814, 120 patriotas que lutavam pela independência, feridos e sendo perseguidos pelo exército espanhol, bateram à porta da Fazenda de Paine, hoje terras da vinícola Santa Rita e foram acolhidos pela proprietária, Dona Paula Jaracuemada, que os escondeu nas vastas adegas subterrâneas que existiam no local até que, sarados e fortalecidos, voltaram para a batalha. Esta linha de vinhos é uma homenagem a estes 120 patriotas.

O nosso vinho pode ser encontrado na faixa de R$ 50, é safra 2020 e tem 13% de álcool. Aos olhos: tem cor rubi brilhante, profunda. No nariz: aromas de média intensidade, com frutas negras e vermelhas, ameixa e amora, especiarias, tipo pimenta preta e pimentão verde (Pirazina). Na boca: ele é seco, com acidez, tanino, álcool e corpo médios. Os taninos são muitos macios e as frutas percebidas no nariz são confirmadas no palato. É um vinho equilibrado, com final médio e deve ser consumido jovem, pois não se presta a envelhecer.

A minha conclusão ou classificação quanto à qualidade do vinho divide-se em 5 faixas: pobre, aceitável, bom, muito bom e excelente. Tecnicamente eu deveria considerar somente a degustação, mas nesta playlist também estou considerando o preço, vinhos até R$ 100.

120 Carménère é bom?

É bom! É mais um vinho que recomendo para os iniciantes.

Quanto à harmonização, o nosso vinho, como a maioria dos tintos, é um ótimo acompanhamento para carne vermelha, como cordeiro, queijos maturados, massa à bolonhesa, carne ensopada com legumes. Mas a dica especial fica para frango assado e bem temperado, em razão dos taninos macios.

Quer saber mais sobre este vinho, assista ao vídeo em meu canal: https://youtu.be/0zaLAAa19CA


Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.


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