Vinho engorda?

Não sou diferente de muitos:  desde a juventude tenho um olho na balança e o outro no chocolate. Por isso, achei engraçado quando me perguntaram: “Vinho engorda?”

Não! Vinho não engorda. Quem pode engordar é você, se exagerar e beber muito vinho.

Não é necessário ser formado em nutrição para saber que o ganho de peso está relacionado ao consumo de calorias superior ao que é gasto.  Mas é o nutricionista quem vai esclarecer que uma dieta saudável deve ser equilibrada e não basta consumir alimentos de baixa caloria, mas escolher, dentre estes, aqueles que têm melhor valor nutricional. Até, às vezes, optar por algum um pouco mais calórico e rico, por exemplo, em vitaminas, minerais ou aminoácidos essenciais, que são aqueles que o organismo não produz e devem ser obtidos pela alimentação.

Assim, surgiu o conceito de alimento funcional: que é todo aquele que produz efeitos metabólicos, fisiológicos ou benéficos à saúde, quando consumidos usualmente e acompanhados por hábitos saudáveis. Em excelente trabalho  publicado na Revista Agronomia Brasileira, Volume 2, Número 2, 2018, Douglas André Würz, baseado em várias pesquisas, menciona os seguintes benefícios do vinho: “...prevenção de doenças cardíacas e circulatórias; se bebido junto com a refeição é o que mais traz benefícios para diabéticos; favorável ao combate da obesidade; propicia maior longevidade e qualidade de vida; cria barreiras para o desenvolvimento de demência; a refeição acompanhada de vinho resulta em uma melhor digestão; possui efeito anti-infeccioso; propicia efeitos benéficos à saúde da mulher; são excelentes para a pele; pode prevenir a cegueira; possuem ação anti-inflamatória; podem atenuar as doenças pulmonares; além de ser uma bebida muito prazerosa.”

Mas, já afirmei meses atrás que, apesar de tantos benefícios, o vinho não é remédio, mas pode ser classificado como uma bebida funcional e o seu consumo regular deve estar associado a hábitos saudáveis.

Enfim, o consumo regular de vinho pode gerar ganho de peso? Para você que está preocupado com as calorias, explico: Todo rótulo indica o percentual de álcool. Tomemos como base um Vinho Fino com 13%. Uma taça com 150 ml de vinho terá 19,5 ml de álcool, equivalente a 15,6 gramas (a densidade do álcool é 0,8).  O álcool tem 7 calorias/grama, mais do que carboidrato (4 calorias/grama) e menos que a gordura (9 calorias/grama). Assim, a nossa tacinha de vinho terá 109,2 calorias devido ao álcool.

Além de álcool, vinho tem açúcar, classificado como carboidrato. No Brasil o vinho seco tem, no máximo, 4 gramas/litro. É muito pouco. Chegando a nossa taça a ter, então, 111,6 calorias. Se o vinho for doce, tipo Suave de Mesa, pode conter entre 25 a 80 gramas de açúcar por litro. Como a graduação alcóolica é um pouco mais baixa, em torno de 10,5%, o incremento de açúcar, por exemplo, na faixa intermediária de 50 gramas por litro, não acarretará significativo aumento de calorias, considerando o vinho seco, apenas 6,6 calorias.

Mas, cuidado com os vinhos fortificados, como o do Porto. Possuem em torno de 20% de álcool. Quanto ao açúcar, tem o extrasseco com 40 gramas/litro, até o muito doce, acima de 130 gramas/litro. Para efeitos de cálculo vamos considerar 70 gramas de açúcar por litro. Assim, uma taça de 150 ml terá, aproximadamente, 210 calorias. Todavia, devido ao elevado teor de álcool, costuma-se beber o vinho fortificado em menor quantidade.

É importante registrar que no Vinho do Porto, ou em outros Vinhos Finos doces, produzidos com uvas viníferas, chamadas europeias, o açúcar é proveniente da própria uva, enquanto que o Vinho Suave de Mesa recebe adição de açúcar. Ademais, há quem sustente que este tipo de vinho, embora apresente as mesmas propriedades benéficas à saúde do Vinho Fino, são em menor intensidade, por utilizarem uvas não viníferas, chamadas americanas.

Não deixe de beber o vinho que lhe agrada somente em razão das calorias. Por isso é importante cultivar hábitos saudáveis, os quais lhe permitirão desfrutar de uma deliciosa taça de vinho sem sentimento de culpa, antes, servirá como uma autogratificação pelo seu equilíbrio e moderação.