Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Vinho Periquita

Coluna de Mauricio Azevedo Ferreira

Vinho Periquita

Publicado em: 30 de setembro de 2023 às 01:26
Atualizado em: 30 de setembro de 2023 às 01:27

Na semana anterior, a pesquisa entre os inscritos no meu canal no Youtube, “Apaixonado por Vinhos”, recaiu sobre três vinhos, 120 Carménère, Porta 6 e Periquita.  O vencedor, com 42% dos votos, foi o português Periquita, sendo o escolhido para estrelar na “playlist” “Esse vinho é bom?”.
Em 1804, nasceu José Maria da Fonseca e,  com 30 anos, em 1834,  ele fundou uma adega que levou o seu nome, na região da Península de Setúbal, na Serra da Arrábida, na sub-região do Azeitão, há poucos quilômetros de Lisboa. O fundador faleceu com 80 anos, em 1884, e hoje a empresa está na sexta e sétima geração e seus vinhos são distribuídos em dezenas de países. 
Muita gente afirma que Periquita é o nome da uva com a qual o vinho é elaborado. Mas isto não é verdade. A uva chama-se Castelão e Periquita é a marca. A origem do nome Periquita tem outra justificativa. Por volta de 1846, José Maria da Fonseca comprou um sítio, próximo aos seus vinhedos, conhecido como Cova da Periquita, onde plantou as primeiras mudas da variedade Castelão, que ele próprio havia trazido da província de Ribatejo, pois ali, na Península de Setúbal, não se cultivava Castelão. O vinho deste vinhedo logo revelou-se como o melhor de toda região, provocando grande procura de mudas pelos viticultores vizinhos. Todo mundo queria beber o vinho da Cova da Periquita, e assim, ele ficou conhecido como Periquita. 
Em 1850 José Maria da Fonseca traz da França uma máquina de engarrafar vinho. Assim, o primeiro vinho tranquilo a ser engarrafado e rotulado com um nome em Portugal, foi o Periquita. Vinte anos depois, em 1870, o Periquita desembarcou no Brasil e chegou a ser o principal mercado da José Maria da Fonseca, onde chegavam mais de um milhão de garrafas por ano. 
O local onde o Periquita é produzido fica a poucos quilômetros do Oceano Atlântico. O solo é essencialmente arenoso, o qual é considerado um solo quente. Mas, a posição geográfica favorece o recebimento de brisas marítimas, o que colabora por garantir a manutenção da acidez das uvas durante o amadurecimento. São produzidos anualmente 600.000 mil litros, distribuídos em garrafas de 750 e 375 ml. São quase um milhão e meio de garrafas. A Castelão é a principal uva do blend, com 47%, seguida pela Trincadeira, 39%, e Alicante Bouschet, 14%. Segundo a ficha técnica, o nosso vinho passou seis meses em barricas francesas usadas e americanas novas. 
Além do Tinto, há o Branco e o Rosé. Em um patamar acima, temos o Reserva, que também é um blend, com 54% de Castelão, além do Touriga Nacional e Touriga Franca, com 8 meses de passagem em barricas. Também tem o Periquita Clássico, que busca resgatar os primeiros Periquita, com 100% Castelão, e amadurecimento em tonéis de carvalho usados por 24 meses. Podendo ser guardado por, até, 20 anos. Grande destaque fica para o Periquita Superior, que recebeu 95 pontos de Robert Parker e custa, no Brasil, em torno de R$ 850,00. 
Mas, o nosso vinho é mais barato, paguei em torno de R$ 60,00 em um supermercado da cidade. Tem 13% de álcool por volume, deve ser servido a 16ºC e não precisa passar por decanter, basta a aeração na taça. Aos olhos, tem cor de média intensidade, rubi brilhante. No nariz, desponta aromas de intensidade superior à média, com predominância de frutas, amora, groselha, mirtilos e ameixa preta. Na boca, ele não é seco, pois tem açúcar residual. Pela lei brasileira ele é classificado como meio seco, tem açúcar na faixa de 4,1 a 25 gramas por litro. Acidez, tanino e álcool são médios. Corpo superior a médio, justamente em razão do açúcar. Os taninos são bem trabalhados, nada agressivos. Na boca temos a confirmação do nariz, com as frutas. É um vinho equilibrado, mas com final um pouco inferior a médio, mas não chega a ser um final curto, você bebe e logo esquece dele. Lembrando que a persistência do sabor final de um vinho é um distintivo de sua boa qualidade. Segundo o produtor, ele pode ser consumido em até 10 anos. Eu não esperaria tanto, pois ele não vai melhorar. Então, abra a sua garrafa e seja feliz.
A minha conclusão ou classificação quanto à qualidade do vinho divide-se em 5 faixas: pobre, aceitável, bom, muito bom e excelente. Tecnicamente eu deveria considerar somente a degustação, mas nesta Playlist também estou considerando o preço. Apesar do final ter ficado abaixo das expectativas, por ser um vinho frutado e com taninos macios, o classifico como bom e recomendo para os iniciantes.
Quanto à harmonização, é um ótimo acompanhamento para carne vermelha e minha sugestão seria para acompanhar escondidinho de carne seca. Fica uma delícia!
Quer saber mais sobre o Periquita, veja meu vídeo: https://youtu.be/KmuWsRKmb6M


Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Maurício Ferreira: apaixonado por vinhos

Por Mauricio Azevedo Ferreira, Promotor de Justiça aposentado que transformou uma paixão em atividade, dedicando-se ao ensino sobre vinhos. É responsável pelo conteúdo da página no Facebook, do perfil no Instagram e do canal do YouTube Apaixonado por Vinhos, além de ministrar cursos. É certificado pela WSET — Wine & Spirit Education Trust, nível 3, e FWS — French Wine Schollar.


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