Vinho Verde

A amiga Rosinha ligou dias atrás. Cumprimentou, perguntou pela esposa e filhos, e sem rodeios foi ao ponto: “Gostei do artigo sobre o vinho da primavera, mas além do rosé, você deveria ter falado do Vinho Verde, principalmente o Casal Garcia.” Embora eu tenha explicado que minha intenção era apresentar o Vinho Verde como o vinho do verão, ela não aceitou a justificativa e impôs: “Por que esperar o verão chegar? Fala já, pois essa primavera será um calorão.”

Rosinha me convenceu.

Vinho Verde não é verde e também não é um estilo de vinho. Vinho Verde é uma Denominação de Origem, isto é, uma região vinícola demarcada que fica no Noroeste de Portugal, tendo ao sul o Rio Douro e ao norte o Rio Minho, fazendo divisa com a Espanha.  Mas, qual será a origem deste nome?

O produtor Anselmo Mendes é considerado o rei da D. O.  Vinho Verde e explica que como a região está próxima do mar, recebe muitas brisas e umidade o que dificulta a maturação das uvas. No passado as videiras eram conduzidas sobre árvores, atingiam até quatro metros de altura, e eram chamadas de “vinha do enforcado”.  Como as videiras eram altas, havia dificuldade em podar o excesso de folhas, o que também impedia que as uvas recebessem sol. Assim, as uvas eram colhidas com pouca maturação. Daí o nome Vinho Verde. 

Mas há quem discorde. Muitos produtores afirmam que, atualmente, as uvas não são colhidas verdes, mas com maturação suficiente. Entre eles está a Família Guedes, da Quinta da Aveleda, que é a produtora do Casal Garcia.  Ela afirma que a região do Minho, onde se encontra a Denominação Vinho Verde, é uma área com muitas plantações e árvores e, em razão da umidade que vem do mar, toda ela se apresenta viçosa e verde. Assim, para quem olha por cima, vê tudo verde e, daí, surgiu o nome da Região Vinho Verde.

São produzidos Vinho Verde branco, tinto e rosé, além de espumantes.  O tinto é elaborado com a uva Sousão, também conhecida como Vinhão. O branco, na sua maioria, é um blend de duas ou mais uvas: Loureiro, Arinto, Alvarinho, Trajadura e Azal. A maioria dos blends possui um teor de álcool baixo, entre 8 e 11,5%, não é inteiramente seco e, geralmente, tem um leve açúcar residual. Mas muitos apreciadores somente acham o vinho agradável e não percebem o leve dulçor. Isto ocorre porque o Vinho Verde branco possui uma alta acidez, chega a ter até uma pequena efervescência e dá, na boca, uma sensação chamada de agulha. Esta elevada acidez “esconde” o açúcar.

Há uma região dentro de Vinho Verde que tem ganhado destaque, trata-se de Monção e Melgaço que também elabora vinho monovarietal, com destaque para a principal uva:  Alvarinho. Estes vinhos podem chegar a 14% de álcool e são secos, sem açúcar residual. Há um pouco mais de uma centena de quilômetros ao norte do Rio Minho, já na Espanha, na região (D. O.) de Rias Baixa, esta casta recebe o nome de Albarinho e seu vinho também é muito festejado.

O vinho português mais consumido no Brasil é um Vinho Verde branco:  Casal Garcia. Ele é produzido pela Quinta da Aveleda desde 1939, através de um blend elaborado com as castas brancas mencionadas, com exceção da Alvarinho, que é reservada para os melhores vinhos. As uvas são: Trajadura, Loureiro, Arinto e Azal.  Possui álcool de 9,5% e é classificado como meio seco, logo, tem açúcar residual. É um vinho jovem e refrescante que apresenta um tom amarelo esverdeado, ou palha. Aromas de média intensidade, com notas cítricas como lima e fruta tropical como melão.  O paladar é delicado com deliciosa acidez e frescor. Combina com dias quentes, peixes grelhados, saladas e bacalhau. Apesar de ser um vinho simples, ele é muito agradável. Avalio que o seu leve dulçor colaborou para ser tão apreciado e ter conquistado o paladar dos brasileiros.

Se ainda não provou um Vinho Verde, aceite a sugestão da Rosinha e comece pelo Casal Garcia.