Coice

Estou indo a um barracão de expositores na FAPI em Ourinhos. Uma feira agropecuária que acontece há mais de cinquenta anos. Nos alto-faltantes do recinto, ninguém mais fala sobre a escadaria do parque. Era muito comum ouvir a frase: Fulano, beltrano te espera na escadaria do parque. Isso poderia gerar vergonha ou orgulho, a depender da pessoa. Na minha adolescência seriam as duas coisas.

Ando com uma camisa flanelada, blusa, calça jeans, meia e tênis. São vários lugares vendendo lanches, crepes, espetinhos e bebidas. Há também cocada, churros, maçã do amor e inclusive frutas, remontando aos primórdios da FAPI em 1967. A cada dia o Brasil regressa com mais força.

Tento caminhar devagar e a comida rápida predomina. Muitas caixas de som brigam pelos corredores que cortam o evento: construtoras, empresas de energia solar, moto e carro. Cada uma fazendo o seu ruído enquanto muitos falam, pequenos choram e luzes coloridas piscam no parque de diversões.

Ainda me movendo, vejo casais trajados com botas de couro, chapéu e fivela, mas algo me faz reduzir a pernada: um homem, com uma garrafinha pequena e redonda na mão direita, inclinando a barriga para frente e a bunda para trás, enquanto o braço esquerdo se mexe.  Está em frente a um estande de alguma empreiteira. O sujeito é apenas bermuda, chinelos e blusa cinza remendada.

Com crachás no peito, os funcionários parados sorriem ao ver o balançar daquele homem. Penso na vida, na cama e nos cobertores que me esperam mais tarde, e claro na comida quente que irá forrar meu estômago. Continuo caminhando, com uma camisa flanelada, blusa, calça jeans, meia e tênis. Faz frio. Parte de mim sairá mancando.