Radialista, professor e advogado, José Eduardo Catalano fez carreira em Santa Cruz e se consolidou como comunicador a nível nacional
Publicado em: 12 de março de 2022 às 02:39
Mais antigo radialista e comunicador de Santa Cruz do Rio Pardo, José Eduardo Catalano atribui grande valor ao apoio dos familiares e aos exemplos em que se inspirou para o alcance de seu sucesso profissional e para a construção de seu currículo, desde que venceu o concurso de “melhor locutor”, no alto-falante da praça central, em 1948.
Após 73 anos do início da carreira, o “Silvio Santos do interior” acredita na persistência e no aprimoramento do rádio como meio informativo a serviço da comunidade.
Em conversa com a Coluna, o terceiro santa-cruzense vencedor do Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) comenta sobre a conciliação entre comunicação e advocacia, conta sua passagem pela rádio Difusora e expõe os motivos que o levaram à decisão de construir sua carreira e seu legado no interior.
*
Como e por que o sr. se interessou pelo radialismo?
Quando jovem, participei de uma quermesse no jardim da cidade e me chamou atenção um concurso para escolha de um locutor de rádio. Fiz minha inscrição, participei e fui aprovado em 1º lugar. Era 1948 e ainda não havia uma emissora em Santa Cruz, mas estava em andamento um projeto para instalar a primeira delas, a Difusora, para a qual fui contratado.
Comecei em 1º de outubro de 1948. Até que a emissora fosse inaugurada, trabalhei no Serviço de Alto-Falantes do Jardim, aos sábados e domingos, atendendo aos pedidos do povo que frequentava a praça e que pedia suas músicas preferidas.
Meu primeiro programa foi “O telefone é quem manda”, com perguntas e respostas pelo telefone valendo prêmios do comércio local. Aos domingos apresentava o programa “De coração a coração”, com músicas sertanejas sugeridas pelos ouvintes, e também comandei a “Rádio Clube Mirim”.
Em 2021, o sr. foi laureado com Prêmio APCA 2020 na categoria “Profissional do Ano”, pelo trabalho como mais antigo radialista profissional, ao lado de nomes como Caetano Veloso e Pedro Bial. Como o sr. analisa a conquista?
O reconhecimento marcou minha carreira no rádio e me tornou uma figura muito popular na cidade. Conquistei títulos que muito me honram como o de Comendador do município, Governador de Distrito do Rotary e também ganhei meu nome na Calçada da Fama.
Após 73 anos de rádio, como o senhor enxerga a importância da carreira para sua formação prática como radialista e comunicador?
Sempre procurei fazer da melhor forma possível as atribuições que me cabiam, tendo ajudado também na formação de outros profissionais da área. Antes do rádio trabalhei no escritório de contabilidade de meu pai, Pedro Catalano, de onde fui para a Difusora. Tudo contribuiu para a minha história, complementada pela vida familiar.
Além de radialista e comunicador, o sr. teve passagens na advocacia. Como foi a conciliação entre as carreiras?
Me formei professor, mas meu irmão, advogado, disse que sentia falta de um colega que respondesse pela área criminal em seu escritório. Acolhi a sugestão e fiz o curso de Direito na Instituição Toledo de Ensino, a ITE. Optei pelo Direito Criminal, área em que me especializei para atuar em processos no Tribunal do Júri.
Me senti realizado como criminalista e orientei também os advogados que queriam seguir essa área, que começaram a carreia atuando nos processos como assistentes da acusação ou da defesa. Com isso, ajudei na formação de um número maior de defensores das teses ligadas ao Direito Penal.
O que motivou o sr. a seguir a carreira numa cidade do interior como Santa Cruz em vez de aceitar convites para seguir rumo às metrópoles, que se destacam como grandes polos da Comunicação?
Escolhi viver ao lado de meus familiares e amigos, que sempre me apoiaram, sem abandonar as atividades às quais sempre me dediquei com sucesso. Aqui comecei minha vida no rádio, consolidei carreira e ajudei quem precisava.
Tive convites e oportunidades para deixar a cidade e tentar novos caminhos e cheguei a me inscrever em um concurso para atuar em São Paulo, como apresentador de TV Tupi-Difusora como Repórter Esso. Concorri com cerca de 500 candidatos, cheguei à final com outros três participantes, mas desisti do plano de mudar para a capital porque não quis ficar longe da família. Já era casado, bem casado, e pai de duas filhas encantadoras.
Em sua visão, qual o grande diferencial entre a comunicação em rádios interioranas e a realizada nas grandes cidades?
No meu entender, em Santa Cruz eu era o Catalano da Rádio, o advogado que defendia os pobres no Tribunal do Júri, o rotariano das boas ações comunitárias, somado ao amor pela minha família e pela minha cidade.
A grande diferença entre o interior e a capital sempre estará na tecnologia, na formação proporcionada e nas possibilidades de sucesso em função da capacidade, popularidade e dedicação de cada um.
Quando a APCA outorgou o título de “Radialista Profissional do Ano” a um comunicador de uma pequena cidade do interior, como eu, soube que não errei na escolha que fiz.
Com tantos anos de cobertura também como locutor, qual foi o evento noticioso mais marcante que o sr. já narrou?
Foram vários. A começar pela inauguração da primeira emissora de televisão no Brasil, em 1950. Também noticiei o suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas, em 1954, a conquista brasileira na Copa do Mundo de futebol, a inauguração de Brasília, o lançamento do primeiro homem ao espaço, a ida do homem à lua, entre outras coisas de destaque.
Na visão do sr., o rádio continuará a ser um meio informativo resistente e consumido pelos brasileiros no futuro, apesar das inúmeras inovações tecnológicas na área da comunicação?
Acredito que sim, considerando o excelente trabalho desenvolvido pelas emissoras que procuram melhorar e se equipar para se manterem no ar.
O sr. ficou conhecido carinhosamente pelos santa-cruzenses como o “Silvio Santos do interior”. Como foi a sua relação com os ouvintes de seus programas ao longo de sua trajetória na Difusora?
Foi a melhor possível. Com muito respeito, compreensão, amizade e admiração. Busquei conservar isso a cada dia nos 20 mil programas apresentados.
Netto é colunista social do DEBATE
Voltar ao topo