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Médico André Coelho deixa legado de humildade e amor à profissão

Médico André Coelho deixa legado de humildade e amor à profissão

Publicado em: 11 de novembro de 2020 às 11:45
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 15:08

Carreata foi organizada como homenagem ao médico que esteve na linha de frente da covid e morreu de complicações da doença

André morreu no dia do seu aniversário



André Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Nascido em 3 de março de 1966, André Coelho adorava futebol. Ainda na adolescência, foi campeão em um torneio municipal de Santa Cruz do Rio Pardo. Começou os estudos na Sinharinha Camarinha e os terminou na escola Oapec.

Seu pais, Clóvis Guimarães Teixeira e Wanda Teixeira Rios, mal sabiam que anos depois entrariam para a política. Clóvis, morto em 2016, foi prefeito por dois mandatos na década de 1990. Wanda, por sua vez, foi vereadora.

André Coelhos sempre se destacou nos estudos. Não é à toa que se formou na antiga Escola Paulista de Medicina, hoje a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), cujo curso de Medicina é nada menos do que o mais concorrido do Brasil.

Féretro parou o hospital de Santa Cruz quando passou pela avenida



O irmão Luiz Gustavo “Kinho” Coelho lembra que André, já formado, fez residência no Hospital de Tatuapé, um dos mais movimentados do Estado de São Paulo. Preferiu voltar à calma Santa Cruz do Rio Pardo, onde atuava na Santa Casa e em consultório particular.

“Ele se tornou muito reconhecido na profissão em Santa Cruz. Sempre tratou todos de maneira igualitária. Era dedicado, competente e, acima de tudo, muito humilde”, relata o irmão, que hoje mora em São Paulo. Embora sério na profissão, André também adorava uma boa piada.

Sempre atualizado, André Coelho ocupou cargos de destaque na Medicina. Foi médico perito do INSS após ser aprovado em primeiro lugar num concurso. Era também o diretor-clínico da Santa Casa de Misericórdia.

Casou-se com Paula Coelho, com quem teve os filhos Mariana, Guilherme e Maria Fernanda. “Amava a família e se desdobrava em vários locais de trabalho para sempre proporcionar o melhor a ela”, lembra Kinho. Assim como o pai, os três filhos também obtiveram destaque nos estudos.

“Ele era mais do que um irmão. Era um amigo, acima de tudo. Estava sempre disponível para ouvir uma queixa, prescrever uma medicação ou simplesmente bater um papo”, afirma Luiz. Era comum que os irmãos recebessem uma ligação de André, que queria somente saber como eles estavam.

Em março, quando o coronavírus chegou de vez ao Brasil, André priorizou seus pacientes. Não media esforços para manter todos em bom estado de Saúde, e muitas vezes nem dormia à noite.

Na linha de frente no combate à Covid, André tomava todos os cuidados necessários. Jamais tirava sua máscara em locais públicos e não entrava no hospital sem sua roupa especial.

Mas admitia, a pessoas próximas, que tinha receio de contrair a doença. Um de seus irmãos — o mais novo — chegou a ser infectado. “O André sempre ligava para saber como ele estava e o que fazia para melhorar”, lembra Kinho.

André Coelho passou incólume ao auge da pandemia, quando a Santa Casa chegou a ter mais de dez pacientes internados e, na cidade, outras dezenas estavam infectadas.

Colegas de profissão aplaudem o cortejo levando o corpo de André Coelho (Foto: André Fleury)



No entanto, foi um surto interno na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) que o acometeu. Justamente quando a pandemia dava sinais de arrefecimento no município. Além dele, outros médicos também foram contaminados. O corpo de André, porém, foi o mais prejudicado pelo vírus.

Ele morreu na terça-feira, 3, após passar um longo período internado. Estava em Ourinhos, onde faria hemodiálise, já que a covid-19 prejudicou seus órgãos.

Antes, passou pela UTI e a família chegou a tentar transferi-lo para São Paulo. André teve uma parada cardiorrespiratória antes mesmo de sair da cidade.

Um enorme cortejo acompanhou o transporte do corpo do médico André Coelho, 54, até o cemitério de Santa Cruz, na tarde de terça-feira. O médico é a sétima vítima da covid-19 na cidade, a primeira entre os que lutam contra a doença na linha de frente da secretaria de Saúde.

O caixão levando o médico saiu da sede do Samu, passou pela praça São Sebastião e parou em frente à Santa Casa de Misericórdia, onde André atuava há anos. Dezenas de funcionários, entre médicos e enfermeiros, estavam em frente ao hospital e aplaudiram o cortejo.

“Difícil acreditar que essa pessoa humana, este pai presente, marido dedicado e irmão querido tenha nos deixado tão cedo”, diz o irmão Kinho.

André deixa um legado de amor à profissão, à família, humildade, perseverança e, acima de tudo, lealdade a seus pacientes. 



  • Publicado na edição impressa de 8 de novembro de 2020


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