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‘Eles trabalham com vários nomes’

‘Eles trabalham com vários nomes’

Publicado em: 06 de maio de 2020 às 19:12
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 08:10

Ex-funcionário relatou ao jornal em

sigilo que empresas em nome de parentes

participam das mesmas licitações


Andre Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Um ex-funcionário da área administrativa da MRover disse em fevereiro ao DEBATE, na condição de anonimato, que Moisés Rovere e Adriano Nascimento trabalham com vários nomes e pelo menos quatro empresas. Para ele, haveria um “conluio”.

Para evitar um eventual aumento de impostos, vários funcionários estão registrados em outras empresas, disse ele. Uma delas seria a “Jimmy Urbanismo e Serviços Eireli”, com sede em Santa Cruz do Rio Pardo e cujo proprietário, segundo consulta ao CNPJ, é Eliel Siqueira Rovere — filho de Moisés.

A empresa do filho do empreiteiro também já participou de licitações em que supostamente teria concorrido com Adriano Nascimento em 2017. O certame ocorreu em Bariri. Na ocasião, porém, Adriano não representava sua empresa, a “AS Nascimento Ambiental”.

Ele participava em nome da “Mega Construções e Serviços de Limpeza”, empreiteira registrada em nome da mulher de Adriano, Renata Miranda Nascimento. A “Jimmy”, por sua vez, foi representada por Moisés Rovere — pai de Eliel.

Em 2014, por outro lado, na mesma Bariri, Moisés representou a MRover e, Adriano, a “AS Nascimento”. Em Jaguariúna, no ano passado, concorreram ao mesmo certame a “Mega”, a “Jimmy” e a “AS Nascimento”.

A “Mega” seria outra empresa na qual estariam registrados os funcionários. Ela, por sinal, tem sede em Andradina, mesma cidade da MRover. No início deste ano, quando a Câmara entregou homenagens a coletores de lixo da MRover, nem todos compareceram porque estariam, justamente, registrados em outras empresas, disse o ex-funcionário.

A “Jimmy Urbanismo” já prestou serviços em Santa Cruz do Rio Pardo. Ela foi contratada pela prefeitura para realizar a limpeza do recinto José Rosso — a Expopardo — após a Festa do Peão do ano passado. Recebeu R$ 9.200. A prefeitura recebeu três orçamentos para cotar os preços do serviço. E os três seriam de empresas ligadas à “Jimmy”.

Desde que assumiu a coleta de lixo em Santa Cruz do Rio Pardo, a MRover reduziu substancialmente o número de funcionários para, segundo consta, obter maior margem de lucro.

O fato foi confirmado com um ex-coletor de lixo, que pediu para não ser identificado. “Quando eu entrei, éramos 16 coletores. Quando saí, havia apenas seis”, relatou. O trabalho era extenuante, disse.

LICITAÇÃO — Licitantes sentados à mesa do pregão antes de o certame ser transferido para o Palácio da Cultura



Alvo de uma série de reclamações, a relação entre a MRover e o prefeito Otacílio Parras (PSB) é marcada por uma série de conflitos. Otacílio já chegou a ameaçar romper o contrato com a empreiteira e, quando varredeiras eram demitidas, o prefeito mandava recontratá-las.

A relação tensa entre a MRover e a prefeitura se normalizou quando, segundo relataram os ex-funcionários, o empreiteiro Adriano Nascimento veio a Santa Cruz para conversar com Otacílio. O teor da suposta conversa é desconhecido por eles. Procurado, o prefeito afirma que a conversa nunca existiu.

Em meados de 2015, o empresário Moisés Rovere chegou a presentear o prefeito com um faqueiro.

O ex-funcionário da área administrativa da MRover citou, também, serviços pelos quais a empreiteira recebe que são feitos de maneira precária. “O lixo, por exemplo, a MRover é contratada para coletar 40 toneladas. Não coleta tudo isso. A pesagem só se aproxima disso porque são juntados galhos e madeira”, contou.

Ele diz o mesmo sobre a coleta de lixo reciclável. “Ganha para coletar três toneladas. Não coleta 500 quilos”. A varrição de vias públicas também foi citada. Segundo ele, a prioridade é o centro para “maquiar” a situação. Mas ele afirma haver mais de 10 bairros que nunca foram varridos. “Novo Horizonte, Jardim Europa, e muitos outros”, disse.

Segundo ele, o prefeito Otacílio Parras não sabe destes pormenores porque não há quem fiscalize. O único documento que a prefeitura teria em mãos seria um relatório mensal enviado pela própria MRover. “Por mês, a MRover recebe mais de R$ 300 mil. Eu falo que não gasta nem R$ 200 mil”, aponta.

Ainda segundo o ex-funcionário da área administrativa, requerimentos que a Câmara de Santa Cruz encaminhava à MRover eram respondidos de maneira distorcida. “Era fácil contornar”, afirmou.

Outro lado



O DEBATE entrou em contato por escrito com a MRover e a “AS Nascimento Ambiental”.

À empresa de Moisés Rovere, a reportagem questionou se procedem as acusações de que a empreiteira faz de maneira precária — ou simplesmente não faz — alguns serviços pelos quais recebe.

A reportagem também pediu esclarecimentos às duas empresas sobre as ligações que possuem e as informações de que funcionários estariam registrados em outros CNPJs.

Até a conclusão desta edição, no entanto, nenhuma das duas empreiteiras havia respondido aos questionamentos do DEBATE.

A MRover e a “AS Nascimento” manifestaram interesse em entrar com recurso para tentar barrar a assinatura de contrato da Artico. O prazo legal são três dias úteis e termina nesta terça-feira. Segundo a reportagem apurou, a MRover entrou com várias contestações.






Diferença de preços sugere ‘cartel’

Empresas com ligações entre si

apresentaram valores próximos

e muito acima da vencedora


A licitação do lixo em Santa Cruz do Rio Pardo, dividida em quatro lotes, mostrou em números a possibilidade da existência de um cartel entre empresas que atuam no ramo. Porém, mais do que isto, demonstrou como o município pagava valores exageradamente acima do que agora será gasto pelos serviços. Das 14 empresas participantes, algumas só apresentaram propostas em dois deles.

As diferenças de preços começaram a aparecer já no primeiro lote, referente à coleta de entulhos. Como em todas as propostas, a “AS Nascimento Ambiental” e a “MRover” apresentaram valores próximos, respectivamente R$ 720 mil e R$ 660 mil. A Ártico, a vencedora, ofertou R$ 83.713,33, mais de meio milhão a menos.

No segundo lote — coleta de massa verde, coleta de materiais inservíveis e mutirão de limpeza —, a “AS Ambiental” cobrou R$ 1.100.000,00 e a “MRover”, R$ 1.066.000,00. A Ártico venceu com R$ 381.020,01.

No lote referente à coleta de lixo e recicláveis, a “AS Nascimento Ambiental” ofereceu R$ 1.745.520,00, enquanto a “MRover” apresentou um valor ligeiramente inferior — R$ 1.738.200,00. O curioso é que outras duas empresas ofertaram preços igualmente próximos, com diferenças inferiores a R$ 20 mil. A vencedora, porém, foi a Ártico, com R$ 1.112.177,72, novamente mais de meio milhão a menos.

O último lote foi varrição de guias de sarjetas, varrição de praças e capinas. A “AS Nascimento Ambiental” participou com o preço de R$ 2.436.000,00 e a “MRover” ofereceu R$ 2.426.400,00, uma diferença mínima. Outras duas empresas apresentaram valores próximos, mas a vencedora foi a Ártico, com R$ 1.523.582,58. Desta vez, a diferença para baixo chegou perto de R$ 1 milhão.

Leia mais:

Pregão sugere ‘cartel do lixo’ da MRover



  • Publicado na edição impressa de 03/05/2020


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