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Incomar, símbolo de uma era, fecha as portas em Chavantes

Incomar, símbolo de uma era, fecha as portas em Chavantes

Publicado em: 27 de dezembro de 2017 às 13:00
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 13:57

Indústria que fez história na região

chegou a fabricar até aparelhos de TV

O pioneiro João Martins

O pioneiro João Martins



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Sob lágrimas, o empresário Amauri Martins cumpriu um ritual dolorido nos últimos dias. Ele fez a rescisão trabalhista dos últimos 40 funcionários da indústria que funcionou durante 56 anos em Chavantes e foi uma das mais tradicionais do mercado de refrigeração do País. Chegou a ter 230 trabalhadores na fase áurea, mas há anos dava contínuos prejuízos pela própria estrutura de empresa familiar. Na verdade, Amauri e os irmãos se cansaram.

A Incomar dominou o mercado de refrigeração de toda a região e a qualidade de seus equipamentos sempre foi elogiada. Os balcões que ornamentam o cenário do programa de Ana Maria Braga, por exemplo, exibido nas manhãs da Rede Globo, têm o selo Incomar.

Segundo Amauri, um dos filhos do pioneiro João Martins, a indústria tinha um custo muito alto exatamente pela estrutura familiar. “Existem algumas pequenas empresas, a maioria de ex-funcionários, que pagam menos impostos e nos atrapalhavam. Realmente não valia mais a pena”, explicou. Além disso, ele contou que somente a contabilidade da Incomar custava cerca de R$ 35 mil mensais.

A família, segundo Amauri, já vinha planejando fechar a indústria há pelo menos cinco anos. “Se fosse um banco, era só demitir todo mundo e pronto. Mas a Incomar, para nós, sempre foi nosso coração. Fomos adiando por questões sentimentais, até que não deu mais”, revelou. A empresa foi reduzindo custos e cortando funcionários. Nos últimos meses, sobraram apenas 40.

O empresário, contudo, reluta em dizer “adeus”. Segundo ele, existe a possibilidade da Incomar voltar ao mercado dentro de alguns anos, mas sob uma estrutura diferente. “O ideal seria um retorno num cenário mais moderno. Com os custos que a Incomar assumia, não era possível competir no mercado com lucratividade”, explicou.

Amauri contou que a rescisão de alguns trabalhadores foi “muito dolorosa”, especialmente os mais antigos. “Para dizer a verdade, precisamos nos segurar para não chorar junto com eles”, admitiu.

HISTÓRIA — A Incomar funcionou em prédios modestos antes de construir um enorme parque industrial

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Fabricou até TV

A Incomar surgiu em 1961, quando João Martins, que já era considerado visionário como comerciante de uma loja em Ipaussu, percebeu que a classe média crescia ávida por eletroeletrônicos. Ele procurou várias prefeituras da região, em busca de apoio, mas somente Chavantes concordou em ceder um terreno para a construção da indústria. O prefeito era Francisco Alves “Tito” Farias, que enxergou em Martins a possibilidade de criar renda e emprego na pequena Chavantes.

A Incomar logo se consolidou como uma das grandes do ramo de refrigeração. Cresceu tanto que, em 1967, comprou uma pequena fábrica de televisores de Piraju e a transferiu para Chavantes, inclusive com os 14 funcionários. Surgia, então, a Ercic (Eletro Rádio Canadense Indústria e Comércio), divisão da Incomar que fabricava aparelhos de TV, rádio e toca-discos.

O parque industrial foi ampliado e a Ercic se instalou na entrada de Chavantes. “Vendia o que fabricava. Era realmente uma febre”, contou há dois anos Amauri Ribeiro. Ele acredita que o pai deve ter pesquisado o mercado ascendente de televisores e notou que a cada dois anos o número de aparelhos nas residências dobrava.

A Ercic vendia seus equipamentos em São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. Só não resistiu às grandes indústrias quando a TV em cores entrou no mercado e o governo passou a incentivar as empresas instaladas na Zona Franca de Manaus.

A Incomar fechou sua divisão de televisores nos anos 1970, mantendo a produção de refrigeradores até o início deste mês, quando também encerrou suas atividades. Entre suas memórias, está a fotografia do pioneiro João Martins, que ainda ornamenta o escritório do filho Amaury no parque industrial da Incomar, que foi batizado com o nome do pai.
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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