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Máquina de escrever, o incrível equipamento que resiste à tecnologia

Máquina de escrever, o incrível equipamento que resiste à tecnologia

Publicado em: 16 de maio de 2017 às 14:26
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 14:21

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

O último fabricante mundial fechou as portas há exatos seis anos em Mumbai, na Índia. Hoje, crianças já nem sabem o que significa aquela geringonça com teclado pesado e que durante séculos serviu à humanidade para imprimir letras e números no papel, dando agilidade à escrita. Mas o que pouca gente sabe é que este equipamento ainda resiste ao tempo e, em alguns casos, não pode ser substituído pelo computador.

O aposentado Célio Pinhata, 79, conhece como poucos uma máquina de escrever. Afinal, desde 1956 ele se tornou mecânico de máquinas e teve uma concorrida oficina que atendia Santa Cruz e toda a região. “Eu trabalhava no escritório do Lineu Mastrodomênico e levava a cobrança da mensalidade para um argentino que consertava máquinas de escrever e somar. Um dia, ele me convidou para trabalhar no ramo. Nunca mais parei”, conta.

Célio Pinhata exibe o diploma de datilógrafo, cujo curso foi em 1952

Célio Pinhata exibe o diploma de datilógrafo, cujo curso foi em 1952



A tal máquina de somar, por exemplo, não era sequer elétrica. Uma alavanca manual girava o mecanismo e fazia as contas. Era assim, segundo Célio, que os caixas dos bancos autenticavam documentos e depósitos.

Pinhata conta que o argentino tinha contrato com o Banco do Brasil para dar manutenção às máquinas de várias agências da região. Sete anos depois, o santa-cruzense resolveu abrir o seu próprio negócio, se especializando como mecânico.

Por suas mãos, já passaram máquinas que hoje são consideradas raridades. “A primeira que eu me lembro é uma Olivetti M40, uma máquina preta de mesa. As portáteis vinham da Itália”, conta. Para Célio, a Olivetti Lexikon-80 foi a melhor de todas. Para a época, era uma modernidade.

A era das máquinas de escrever impulsionou outros comércios, como as escolas de datilografia. Eram autorizadas, inclusive, por decretos do governo estadual. Célio Pinhata guarda até hoje seu diploma de datilógrafo, datado de setembro de 1952 e cuja escola chamava-se “Professor Gastão Pupo”. O documento é assinado pelo professor José de Paula Assis. Mas havia outras escolas, como a do professor Benedito Damasceno e até uma unidade mantida pela Oapec num prédio público.

Máquina de escrever de 1876

Máquina de escrever de 1876



Apesar dos séculos de duração, a máquina foi abandonada em poucas décadas, assim que o computador passou a dominar escritórios, escolas e agências bancárias, fazendo quase todo o serviço. “Quase” porque há situações em que a velha máquina ainda é insubstituível, uma vez que a impressora de computador não consegue imprimir letras num papel pequeno ou grande demais.

Antes de deixarem o mercado, entretanto, as indústrias de máquinas ainda tentaram modernizar o equipamento, inclusive adotando a eletricidade para aumentar a velocidade. A “revolucionária” IBM chegou a trocar as letras de metais por esferas ou “margaridas”, mas a máquina já estava fadada a desaparecer.

A Olivetti e a IBM direcionaram suas fábricas ao setor de informática. Outras, simplesmente fecharam as portas.

Resistência

Célio Pinhata, na verdade, praticamente ainda está no ramo. Ele deixou de trabalhar porque sofre de uma doença degenerativa da visão, mas costuma encaminhar algumas máquinas de antigos clientes para um amigo de Ourinhos, que ainda conserta equipamentos. É que a maioria dos escritórios de contabilidade ainda mantém máquinas em operação (leia ao lado).

“Para dizer a verdade, dá saudade da época em que a escrita era dominada pelas antigas máquinas. Era uma loucura, pois eu viajava toda a região para atender clientes. E quando chegava, havia dezenas de outras máquinas para consertar. Trabalhava aos domingos e até em sextas-feiras santas”, conta.




Otávio e Flávio usam as velhas máquinas de escrever até hoje

Otávio e Flávio usam as velhas máquinas de escrever até hoje



Escritórios ainda

mantêm relíquias

Apesar de não ser mais fabricada em lugar algum do planeta, a máquina de escrever ainda existe em vários escritórios de contabilidade de Santa Cruz do Rio Pardo. Um deles é o “Escritório Contábil Central”, que existe desde 1999 na praça da Igreja Matriz de São Sebastião. Há pelo menos quatro máquinas no estabelecimento. Uma delas, portátil, é de “estimação” do sócio Otávio Costa, 60. “Ganhei do meu pai e guardo com muito carinho”, explicou.

Flávio Pilato também ganhou uma máquina do pai, mas, como é de maior porte, ainda está em operação no escritório. Outra, segundo ele, pertenceu ao antigo escritório de Antônio Ferreirinha, um conhecido comerciante de café.

O equipamento é insubstituível em vários casos. “Alguns formulários que não estão disponíveis na internet só podem ser preenchidos por uma máquina de escrever”, conta Otávio. “Outros papéis contêm campos que não dá para preencher com a impressora do computador”, explica.

O problema, segundo Flávio, é que são os próprios donos que manuseiam as velhas máquinas. “Os funcionários mais novos nem sabem o que é isso. Quando começam a datilografar por curiosidade, ficam procurando o número um”, diz Otávio, rindo. É que este número não existe nas máquinas e é substituído pelo “L”.

Pelo menos duas máquinas ficam na sala principal do escritório e costumam aguçar a curiosidade do público jovem.

História

A invenção de uma máquina de escrever primitiva é atribuída ao inglês Henry Mill em 1714, mas somente em 1808 o italiano Pellegrino Turri introduziu um equipamento com teclado. No Brasil, consta que esta invenção pertence ao padre Francisco João de Azevedo, nascido na Paraíba. Ele foi premiado seguidas vezes em exposições pela máquina que construiu.

Mas até 1948 o Brasil usava somente máquinas importadas, até que os grandes fabricantes — como Remington e Olivetti — começaram a construir unidades no País. A última fabricante brasileira foi a Facit, que produziu máquinas de escrever até o final da década de 1990.




Máquinas de escrever primitivas, algumas bem estranhas

Máquinas de escrever primitivas, algumas bem estranhas



Padre brasileiro pode ter sido o

inventor da máquina de escrever

Com apenas uma lixa e um canivete, em 1880 o inventor Francisco João de Azevedo construiu, em madeira, uma máquina de escrever. O invento só não foi patenteado porque, segundo o biógrafo Ataliba Nogueira, um estrangeiro o fez desistir da ideia e roubou o projeto.

Ele inventou ainda um veículo terrestre movimentado pela força do vento, destinado ao transporte entre Olinda e Recife e uma máquina que aproveitava a força das ondas do mar para aplicá-la ao movimento do navio.

Francisco João de Azevedo nasceu em Mamaguape, na Paraíba em 1814. Apesar de ter ficado órfão cedo, seu pai lhe ensinou vários princípios de mecânica. E, ainda jovem trabalhou como tipógrafo.

Durante uma visita pastoral, em 1834, Dom João da Purificação Marques Perdigão, Bispo da Arquidiocese de Recife, conheceu Francisco João. E, ao tomar conhecimento de sua pobreza, o convidou para o Seminário Diocesano de Recife. Três anos depois, Francisco João foi ordenado Padre.

Além de Padre, ele foi professor no Arsenal da Marinha de Pernambuco. Foi nessa ocasião que começou a criar a máquina de escrever.

A máquina inventada por Francisco João foi feita em Jacarandá. Equipado com 14 teclas, o móvel se parecia com um piano. Cada tecla adicionava uma haste comprida com uma letra na ponta. A máquina permitia datilografar as letras do alfabeto e os sinais ortográficos. Um pedal era utilizado para trocar de linha.

O invento foi exibido na Exposição Agrícola e Industrial de Pernambuco de 1861, onde foi premiado com a medalha de ouro, na presença do Imperador D. Pedro Segundo.

Francisco João de Azevedo morreu em 1880 sem completar o sonho de patentear a máquina e transformar o Brasil num grande exportador do produto. Seu corpo foi enterrado no cemitério de João Pessoa.

De acordo com o biógrafo Ataliba Nogueira, no livro “Um inventor brasileiro”, publicado em 1934, o projeto de Francisco João foi roubado por um agente de negócios norte-americano que teria passado os desenhos ao tipógrafo Christopher Lathan Sholes, também norte-americano, que aperfeiçoou o invento e foi reconhecido como o inventor da máquina de datilografia.

Como em todas as grandes invenções, inúmeros países reivindicam a invenção da máquina de escrever. Além do Brasil e dos Estados Unidos, figuram na lista França, Inglaterra e Itália.
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