DIVERSOS

Morre o médico Aluísio Zacura

Morre o médico Aluísio Zacura

Publicado em: 03 de setembro de 2017 às 20:30
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 09:10

Jovem de 36 anos enfrentava doença rara

Mesmo doente, Zacura proferiu inúmeras palestras de auto-ajuda

Mesmo doente, Zacura proferiu inúmeras palestras de auto-ajuda



O médico Aluísio Zacura, 36, morreu na madrugada de quarta-feira, 30, após alguns dias internado na UTI da Santa Casa de Misericórdia. Ele enfrentava um câncer raro havia pelo menos dois anos, chamado de “sarcoma de células claras”. A doença apareceu numa das mãos, mas acabou se alastrando.

Aluísio era muito querido em Santa Cruz do Rio Pardo e se tornou um exemplo na busca da superação. Nos últimos anos, proferiu várias palestras onde abordou a doença de forma aberta. Quando fazia tratamento, inclusive com perda de cabelos, poucos dias depois, mesmo debilitado, estava em seu consultório ou nos corredores da Santa Casa de Misericórdia atendendo pacientes.

Casado com a jornalista Gisele Ratochinski Zacura, Aluísio descobriu que tinha a doença rara em 2015, durante a lua de mel. O primeiro exame constatou o sarcoma de células brancas. Na verdade, o médico depois soube que a doença já vinha se manifestando desde 2009. Só não o debilitou antes porque Aluísio era atleta — praticava, inclusive, o skate.

Doença não assustou o médico

Doença não assustou o médico



Nas últimas semanas, a doença começou a atacar outros órgãos. No sábado, quando estava na casa dos pais — o comerciante Guilherme Zacura Filho e a psicóloga Silvia Zacura —, Aluisio sentiu-se mal e foi levado por uma ambulância dos Bombeiros para a Santa Casa. Foi imediatamente internado na UTI.

Seu estado de saúde piorou e na noite de terça-feira os aparelhos que o mantinham vivo artificialmente foram desligados.

A pedido do próprio médico, não houve velório. Ele foi enterrado na manhã de quarta-feira no Cemitério da Saudade, numa cerimônia familiar íntima. Nas redes sociais, milhares de pessoas manifestaram pesar pela morte de Aluísio. Moradores de outras cidades que o conheciam chegaram a viajar até Santa Cruz do Rio Pardo.




web aluisio zacura 4 1900

ARTIGO

Uma luz se apaga

Guilherme Zacura Filho *

Antes de fazer este meu depoimento, quero agradecer de coração, pelo apoio sincero e inclusive financeiro, prestado por parentes próximos e amigos legítimos que possuo, e que sei, fariam tudo o que lhes fosse solicitado, se eventualmente o atendimento ao meu pedido tivesse o poder de evitar que isto sucedesse a minha família. Aos sessenta e três anos, normalmente já não se possui mais a riqueza que representa a proteção dos pais - nossos legítimos anjos da guarda – e, neste mundo tão feio e cada vez mais despojado de pessoas com valores antigos, é muito confortante saber que somos verdadeiramente queridos, por gente boa, e disposta a auxiliar-nos incondicionalmente.

Também não poderia deixar de externar minha eterna gratidão àqueles médicos e enfermeiras da Santa Casa de Santa Cruz do Rio Pardo, do Hospital de Câncer de Barretos, e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, que se dedicaram de corpo e alma no árduo trabalho de dar dignidade e a melhor qualidade de vida possível ao meu filho. Vale mencionar que eles o fizeram apaixonadamente, de maneira irrepreensível, embora estando todos conscientes de que as possibilidades de cura da enfermidade fossem praticamente nulas.

Obviamente que o paciente em si, um médico formado pela Universidade de São Paulo, também jamais teve dúvidas sobre a gravidade de seu quadro clínico.

Confesso que me emociono só em lembrar a abnegação da mãe, da esposa e de seus irmãos, fazendo praticamente o impossível diuturnamente, para confortá-lo, alegrá-lo, ou ao menos conseguir guindá-lo acima do estado de humilhação em que a enfermidade às vezes o colocava.

Mas o que aconteceu à minha família neste episódio dramático colocou nossas vidas praticamente de cabeça pra baixo, e, de fato, está fora da nossa alçada e transcende a minha limitada compreensão. E eu acrescentaria ainda, que mais difícil do que agüentar a perda precoce de um filho amado, talvez seja o fato de ter de resignar-me mansamente! Em momentos assim, posso dizer que uma verdadeira represa de emoções abre suas comportas dentro de nosso peito, e todas as lágrimas que derramamos parecem insignificantes para drenar tanta tristeza!

Após o restrito cerimonial da despedida ao corpo que decidimos realizar na manhã posterior ao seu falecimento, mesmo tendo a certeza de que o espírito do meu filho querido, já tivesse ido para a luz, a horrorosa conscientização da impossibilidade de qualquer convívio posterior, havia aberto um enorme rombo na fortaleza que, em minha ignorância, eu me considerava ser!

Daqui por diante, para tornar a vida suportável em nossa casa, teremos de procurar lembrar constantemente o privilégio e a honra que foi havermos podido ser os pais de um homem inteligente, bonito, e extremamente querido, justamente pelo fato de ele ser muito humano e generoso.

Em sua profissão de médico, Aluisio sempre se doou física e espiritualmente a todos os que necessitassem de seu conhecimento, sem jamais fazer absolutamente qualquer distinção de classe. Isto é tão verdadeiro, que há uma cidade inteira entristecida, pelo seu passamento precoce. Posso afirmar também, sem temer parecer presunçoso, que desde há muitos anos, ao transitar por Santa Cruz, recebo testemunhos emocionados de seus admiradores, repletos de gratidão e respeito.

É sabido que as mulheres muito bonitas, em sua maioria, costumam "se achar", e se tornam antipáticas, de "nariz empinado", ás vezes, quase insuportáveis! Nos homens, a inteligência normalmente costuma produzir o mesmo efeito maléfico...

Mas por uma benção de Deus, o filho risonho que perdi tão prematuramente, era o que se poderia chamar de uma mescla rara: homem possuidor de mente brilhante, mas dotado de “um coração de ouro”. E estas duas características admiráveis, sempre foram sua "marca registrada", e o acompanharam desde a infância até seus últimos momentos.

O câncer agressivo que o acometeu, costuma aniquilar suas vítimas, tanto física quanto emocionalmente, mas não foi o seu caso. Ao se dar conta de que seu horizonte já estava curto, ao invés de abater-se, ele iniciou uma furiosa seqüência de palestras motivacionais, procurando conscientizar o maior número possível de pessoas, da preciosidade que a vida representa, e da oportunidade que ela é para sermos bons e com isto, evoluirmos espiritualmente.

Apenas como exemplo, vou citar um testemunho da sua postura sempre alegre e despojada, que me foi confidenciado há poucos dias, pelo músico “Bodão”, que há anos executa um belíssimo trabalho voluntario na Santa Casa de Misericórdia, levando conforto e alegria aos que estão padecendo nos leitos daquela instituição.

Pois bem, já bastante enfermo, mas quando seu estado de saúde ainda não estava totalmente comprometido, uma manhã, ao ouvir que pelo corredor do hospital os músicos se aproximavam de seu quarto, ele levantou-se e foi à porta para apreciar a apresentação. Ao ver que todos vinham alegremente, travestidos de palhaços, ele, bem ao estilo do seu avô paterno, convidou uma enfermeira para dançar! Então ambos saíram bailando a frente da equipe, para encanto e emoção de todos os presentes...

Mas ele não era, todavia, uma “ovelha mansa do rebanho do Senhor”, em absoluto! Incapaz de tolerar desonestidade ou injustiça, diversas vezes protagonizou episódios de “arranca-rabos” homéricos com profissionais da administração do hospital, e inclusive com seus próprios colegas de profissão. Estes atritos, por um triz, não lhe custaram a cabeça!

Na realidade, ele só sobreviveu mesmo, porque sua integridade e maneira de trabalhar eram tão irrepreensíveis, que tentar livrar-se dele poderia ser um verdadeiro tiro no pé! Mas é sabido que se alguém age estritamente pautado pelo lado humano, inegavelmente expõe os que não seguem a mesma cartilha, e isto é perigoso! Quando, após um ano e meio de luta, a mortal enfermidade finalmente havia conseguido dobrar sua resistência física, ele teve seríssimas dificuldades em encontrar quem “cobrisse” os plantões que ele não conseguia realizar. Então, durante a última semana que antecedeu a sua morte, as enfermeiras, suas fieis escudeiras, decidiram fazer circular um “livro de ouro” entre os médicos, para angariar fundos para ampará-lo. Era do conhecimento de todos os funcionários do hospital, que na família do médico, o chefe estava gravemente enfermo, e os demais membros, praticamente só cuidando dele. Mas o pequeno valor arrecadado deixou patente que, com raras exceções, a maioria de seus pares, não se identificava com sua postura diferenciada, nem estava disposta a sair em seu socorro.

Mas, diz um ditado popular de grande assertiva, que “a voz do povo é a voz de Deus”, e hoje temos, indiscutivelmente, uma Santa Cruz do Rio Pardo inteira, triste e consternada, pela perda irreparável de seu filho competente e generoso.

E eu, na condição de seu pai e admirador confesso, respondo antecipadamente a todos aqueles que intencionarem fazer-lhe uma homenagem póstuma, com um categórico não! Até porque, inclusive, esta era sua vontade cabal:

“- Pai, por favor, não deixe que coloquem o meu nome em um “Posto de Saúde”, nem numa “Sala de UTI”, muito menos num ridículo viaduto, ou coisa do gênero!”

Era sua maneira de ser, e, em respeito a ele, e também por não querermos expor a mãe, a esposa e os irmãos a mais um dia de angustia e sofrimento com cumprimentos de solidariedade, já na noite de sua morte decidimos sepultá-lo no jazigo da família às 8:30 h da manhã seguinte. Faríamos uma cerimônia restrita, sem prévio comunicado à população, e sem que o féretro inclusive passasse pelo necrotério municipal.

Um velório tradicional seria extremamente doloroso para os familiares que já estavam exauridos de tanto chorar por esta perda anunciada há um ano e sete meses.

Pelos motivos acima, e para deixar patente que em nossa casa, não nos deixamos conduzir por superficialidades, meu filho foi inclusive sepultado sem coroas de flores, sem castiçais niquelados, e em uma urna funerária que custou menos ainda do que o valor arrecadado pelo “livro de ouro”.

Entretanto, tenho a absoluta certeza de que sua alma está agora - como diria minha mãe, Dona Átila - entre a dos “poucos escolhidos”.

Seus admiradores mais devotados insistem em afirmar que ele era como verdadeira luz, e acredito ser inteligente, nos darmos conta de nossa insignificância, lembrando que toda luz se apaga! Ao menos aos nossos olhos de simples mortais.

E aos amigos do coração, que me conhecem em profundidade, se eventualmente me perguntarem o porquê da cerimônia singela para um homem tão admirável, eu responderia cantando uma música lançada em 1979, composta numa parceria de Nelson Cavaquinho com Guilherme de Brito.

Quando eu me

chamar saudade...

“Sei que amanhã

Quando eu morrer

Os meus amigos vão dizer

Que eu tinha um bom coração...

Alguns até hão de chorar

E querer me homenagear

Fazendo de ouro um violão.

Mas depois que o tempo passar

Sei que ninguém vai se lembrar

Que eu fui embora...

Por isso é que eu penso assim

Se alguém quiser fazer por mim

Que faça agora.

Me dê as flores em vida

O carinho, a mão amiga,

Para aliviar meus ais.

Depois que eu me chamar saudade

Não preciso de vaidade

Quero preces e nada mais”.

* GUILHERME ZACURA FILHO é pai de Aluísio Zacura
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

Previsão do tempo para: Quinta

Céu limpo
26ºC máx
14ºC min

Durante todo o dia Céu limpo

COMPRA

R$ 5,69

VENDA

R$ 5,69

MÁXIMO

R$ 5,69

MÍNIMO

R$ 5,67

COMPRA

R$ 5,73

VENDA

R$ 5,91

MÁXIMO

R$ 5,73

MÍNIMO

R$ 5,71

COMPRA

R$ 6,43

VENDA

R$ 6,44

MÁXIMO

R$ 6,43

MÍNIMO

R$ 6,39
voltar ao topo

Voltar ao topo