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Morre Vidor, o último ‘pracinha’

Morre Vidor, o último ‘pracinha’

Publicado em: 23 de janeiro de 2017 às 23:55
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 07:18

Foto de Antônio Vidor em 1943, quando foi convocado pela FEB

Foto de Antônio Vidor em 1943, quando foi convocado pela FEB



Antonio Vidor, conhecido por “Ico”, morreu na última segunda-feira, 16, em Campinas-SP, onde travava sua última batalha contra as enfermidades decorrentes da idade avançada. Vidor tinha 92 anos e era o último vivo dos oito “pracinhas” de Santa Cruz do Rio Pardo que lutaram na Segunda Guerra Mundial. Seu nome está numa placa na praça José Eugênio Ferreira — conhecida como “Expedicionários” — no final da rua Euclides da Cunha.

Há quase dois anos, Antonio Vidor foi entrevistado pelo jornal e contou a saga dos santa-cruzenses nos campos de batalha da Itália. Viúvo de Carmen Pazzini Vidor, ele vivia atualmente em Sumaré-SP, onde morava com as filhas. Ele deixou a cidade onde nasceu em 1971. Antes, foi motorista de caminhão e de viaturas da Coletoria Estadual na cidade.

“Ico” tinha apenas 19 anos quando foi convocado para participar da campanha da FEB — Força Expedicionoária Brasileira — na Itália. Em 1943, depois de um rápido treinamento no Brasil, o santa-cruzense partiu para o campo de batalha da Europa, a bordo do navio norte-americano “General Meigs”. Com ele também foram os santa-cruzenses Antônio Inácio da Silva, Biécio de Britto, Edson Dias Brochado, José Bernardino de Camargo, Osvaldo Carquejeiro, Samuel Dias e Eliseu do Nascimento. Outro soldado de Santa Cruz, Mário Ramalho, também foi convocado numa segunda etapa, mas recebeu a notícia da rendição da Alemanha de Hitler na véspera do embarque.

O conflito mundial começou em 1939, mas o Brasil manteve-se neutro até agosto de 1942, quando navios mercantes foram torpedeados na costa brasileira. Getúlio Vargas, então, declarou guerra ao “eixo” — Alemanha, Itália e Japão. Mas as tropas brasileiras só desembarcaram na Europa em 1944.

Antonio Vidor estava entre os milhares de soldados. “Servi no primeiro escalão, aliás o mais perigoso”, disse ao jornal há quase dois anos, sem esconder o orgulho. O santa-cruzense alcançou o Monte Castelo com as tropas brasileiras, considerada a maior vitória da FEB contra as forças nazi-fascistas.

“Ico” só voltou a Santa Cruz do Rio Pardo em 1945, depois de perambular por Taubaté e receber uma gorda compensação financeira como herói. Na verdade, como aconteceu com milhares de soldados da FEB, Vidor ficou vários dias “sem rumo”, ainda ouvindo canhões e metralhadoras imaginárias.

“Ico”, nos últimos anos de vida

“Ico”, nos últimos anos de vida



Ele se casou um ano depois com Carmen Pazzini, com quem teve nove filhos. O dinheiro recebido ele usou na compra de um caminhão, com o qual passou a trabalhar no transporte de mercadorias para o porto de Paranaguá, no Paraná. “Era outra batalha, pois as estradas eram de terra”, brincou na entrevista que concedeu ao jornal em 2015.

Antonio Vidor também foi um esportista e chegou a jogar profissionalmente pela Esportiva Santacruzense como ponta-direita.

Nos dois anos em que permaneceu no campo de batalha da Segunda Guerra Mundial, Antonio Vidor não teve nenhum contato com a família. Quando voltou à cidade, apareceu de surpresa e muitos familiares choraram.

Vidor foi valente até no final da vida, quando ficou fragilizado pelas enfermidades provocadas pela idade avançada. Ainda lúcido, morreu na segunda-feira, 16, em Campinas.

Antonio Vidor foi enterrado na manhã de quarta-feira, 18, no cemitério de Santo André-SP. Segundo um de seus netos, o professor Luiz Antônio Roder, “Ico” sempre foi um lutador. “Combateu até o fim e deixa, com seu legado, o exemplo de vida e uma imensa saudade em todos os que tiveram a oportunidade de conhecê-lo e conviver com ele”, disse Roder.
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