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Prefeito manda despejar o trabalhador que acusou Agenor

Prefeito manda despejar o trabalhador que acusou Agenor

Publicado em: 18 de fevereiro de 2018 às 18:36
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 23:48

Carta foi assinada pelo secretário Fernando

Bitencourt, a mando do prefeito e de Gimenez

ANGÚSTIA — Osmar mostra a notificação que recebeu da prefeitura, determinando sua saída da residência



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

A carta tem apenas cinco linhas, o suficiente para encher de tristeza e apreensão o lar de Osmar Pinheiro da Silva. Na tarde de sexta-feira, 16, o funcionário da Codesan e zelador da escola municipal “Professor Arnaldo Moraes Ribeiro” recebeu uma notificação de que deve deixar o imóvel no prazo de 30 dias. Ele mora na pequena casa há praticamente 17 anos, com a mulher e um filho doente, desde que aceitou ser o zelador da escola. O motivo do “despejo” é simples: Osmar denunciou o caso dos empréstimos consignados na Codesan, episódio em que a empresa descontou os valores de funcionários e não os repassou aos bancos. Agora, está sendo implacavelmente perseguido pelo presidente Cláudio Agenor Gimenez, com o aval do prefeito Otacílio Parras Assis (PSB).

Osmar é, na verdade, vítima da má gestão na Codesan, empresa que desde 2015 está sendo administrada pelo ex-presidente do PT de Santa Cruz, Cláudio Agenor Gimenez, o homem mais forte e intocável do governo Otacílio Parras Assis. Controvertido, Agenor está sendo investigado pela Polícia Civil depois de ter sido “delatado” por Sueli Feitosa como um dos beneficiários do desvio milionário de dinheiro público. A ex-tesoureira da prefeitura diz que só deixou de entregar dinheiro desviado a Gimenez, que a ameaçava e exigia valores em envelopes, em outubro de 2016, dois meses antes do esquema criminoso ser descoberto.

Além disso, o dirigente foi condenado, como ex-tesoureiro do PT, pela irregularidade da cobrança de uma espécie de “pedágio” para filiados que tinham cargos comissionados no governo de Otacílio.

Gimenez pediu o despejo de Osmar ao prefeito Otacílio e foi atendido



Recentemente, veio a público uma nova denúncia, desta vez sobre a apropriação indébita de parcelas de empréstimos consignados pela Codesan. Funcionários da empresa tiveram os valores descontados diretamente na folha de pagamento, mas começaram a receber notificações da Serasa avisando que teriam os nomes “negativados”. A medida comprova que a Codesan não repassou os valores descontados para instituições financeiras.

Uma das vítimas foi exatamente Osmar Pinheiro, que trabalha na Codesan há 26 anos. Ele teve os valores de dois empréstimos consignados descontados no holerite e depois, constrangido, recebeu cartas da Serasa informando que seu nome seria negativado. Com isso, ele pode ser impedido de comprar a prazo no comércio ou de contrair novos empréstimos bancários.

Preocupado, Osmar procurou a imprensa. Não foi o único, mas entregou documentos comprovando a irregularidade ao DEBATE e à rádio 104 FM. O jornal publicou os documentos, tomando o cuidado de não estampar o nome do funcionário da Codesan.

A princípio, o presidente da Codesan chegou a ironizar a denúncia, dizendo que ela certamente tinha origem em “funcionários fantasmas”. Nos bastidores da empresa, porém, começou a procurar freneticamente o responsável pela denúncia à imprensa. Desconfiou de Osmar e passou a persegui-lo.

Uma semana depois da publicação de uma reportagem sobre o crime de apropriação indébita, Osmar recebeu uma intimação da Codesan, informando que ele estava sendo alvo de um processo administrativo disciplinar. Na verdade, o funcionário tem um filho doente e precisou recorrer à Justiça para conseguir remédios no Posto de Saúde. Mesmo assim, a insulina atrasa. Na tarde do dia 24 de janeiro, ele recebeu um telefonema do Posto de Saúde informando que um lote tinha acabado de chegar, mas ele deveria se apressar para buscar os medicamentos. Osmar, então, pediu a um encarregado da Codesan que o levasse ao PS, mas foi barrado na porta pelo presidente Cláudio Agenor Gimenez. Agora, o funcionário responde a um processo interno.

“Despejo”

Osmar Pinheiro, apesar da aparência frágil e da saúde debilitada, sempre demonstrou ser forte emocionalmente. Na tarde de sexta-feira, porém, ele e a mulher foram às lágrimas quando receberam a carta assinada pelo secretário de Educação, Fernando Bitencourt. O texto de cinco linhas informa que ele deve deixar a residência de zelador da escola “Professor Arnaldo Moraes Ribeiro” no prazo máximo de 30 dias.

O ofício 47/2018 não informa os motivos do “despejo”, mas diz que o prazo começou a contar na mesma sexta-feira.

“Não sei o que fazer e não tenho para onde ir”, desabafou Osmar, que procurou um advogado para tentar se defender da perseguição imposta pelo governo do prefeito Otacílio Parras (PSB). Aliás, dificilmente ele terá como alugar uma casa e providenciar a mudança dentro de apenas 30 dias. “Acho que querem que eu more com a família debaixo da ponte”, disse.

“UM TAPETE” — Enquanto o presidente da Codesan persegue funcionários, a quadra onde ele mora, na rua Conselheiro Saraiva, ganhou asfalto novo na última quinta-feira. A obra, autorizada pelo prefeito Otacílio, não foi executada pela Codesan, pois o sistema é pavimentação a quente



Perseguição atropela

até mesmo o contrato

Termo de autorização foi celebrado em agosto de 2001 pela prefeitura



Para perseguir aqueles que ousam criticar o presidente da Codesan, Cláudio Agenor Gimenez, o governo de Otacílio Parras Assis (PSB) não mede consequências e atropela até mesmo a lei ou documentos da administração que até estão em vigor. É o caso da autorização de uso da pequena residência da escola “Arnaldo Moraes Ribeiro” pela família de Osmar Pinheiro. O termo, em papel timbrado da prefeitura e assinado por dirigentes de ensino, foi celebrado em 13 de agosto de 2001.

De acordo com o contrato, o uso da casa é por períodos renováveis de dois anos. Portanto, houve renovação tácita em agosto do ano passado por um novo período de dois anos, com vencimento previsto somente para 2019. Antes, segundo o documento, a desocupação da casa só poderá ser feita mediante sindicância, onde o servidor tem direito à ampla defesa.

Osmar teve direito ao uso da casa, há 17 anos, porque aceitou ser o zelador da escola. Em todos estes anos, ele foi o responsável por manter em ordem e limpas as dependências da instituição, zelar pelo patrimônio da escola e áreas adjacentes, fechar e abrir o prédio nos horários estabelecidos pelo diretor, fazer pequenos reparos e cuidar da horta e das árvores e plantações.

Ele não pode, por exemplo, se ausentar do local por período superior a 24 horas. “Cuido de tudo aos sábados, domingos e feriados. Quando tiro férias na Codesan, me dedico à escola”, contou Osmar.

Ele contou que, inclusive, conserva uma pequena praça em frente à escola, limpando os arredores e tirando o mato. Todo este trabalho, desenvolvido ao longo de 17 anos, permite a Osmar e sua família morar na pequena residência. A mulher dele, inclusive, também é responsável pelos cuidados na escola.

Na tarde de sexta-feira, quando ainda tentava se recuperar do susto ao ler o comunicado da prefeitura, Osmar recebeu a visita do diretor Rogério Pegorer Plina em sua casa. Nomeado pelo prefeito Otacílio Parras, ele não quis gravar entrevista, mas disse que cumpre ordens. “O que eu posso dizer é que não há absoluta nada que desabone o trabalho do Osmar”, afirmou.

Rogério lamentou o episódio, lembrando que o zelador é muito querido pelos professores da escola “Arnaldo Moraes Ribeiro”.
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