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Pregão sugere ‘cartel do lixo’ da MRover

Pregão sugere ‘cartel do lixo’ da MRover

Publicado em: 06 de maio de 2020 às 19:10
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 00:45

Dono de empresa que prestava serviços

há mais de seis anos em Santa Cruz tem

ligações pessoais com outros empreiteiros


André Fleury Moraes

Da Reportagem Local

A licitação da última terça-feira, 28, foi conturbada e houve espaço até para bate-boca (leia abaixo). Começou às 9h40 na prefeitura e o dia havia se iniciado com pouco sol. Como havia muita gente participando, os pregoeiros resolveram transferir o processo ao Palácio da Cultura Umberto Magnani Netto para evitar aglomeração. O certame só terminou às 17h30, oito horas depois. Tempo suficiente para o “cartel do lixo” — do qual a MRover participaria — mostrar indícios de existência.

Um breve intervalo permitiu aos participantes sair para comer alguma coisa e comprar água ou refrigerante. Ao todo, 14 empresas concorreram. Algumas delas foram desclassificadas logo no início porque não apresentaram parte dos documentos necessários.

Entre os concorrentes, estava o empresário Moisés Rovere, dono da MRover, que presta o serviço de limpeza pública em Santa Cruz há sete anos.

Quando a licitação ainda nem começara, Moisés se aproximou do único repórter que acompanhava o certame e perguntou se trabalhava para o DEBATE. Diante da afirmativa, respondeu: “Então avisa o dono que eu vou lá buscar a lancha que ele publicou no jornal”. Na semana passada, o DEBATE noticiou a vida luxuosa que leva o empreiteiro e, inclusive, com imagem de uma lancha em sua garagem.

Moisés repetiu a fala várias vezes naquele dia, todas em tom sarcástico. Em voz alta, dizia sobre a reportagem do jornal para licitantes que certamente costuma encontrar em todos os pregões de que participa.

Um dos licitantes para quem Moisés falava era Adriano Silva Nascimento, dono da “AS Nascimento Ambiental”, com sede em Lençóis Paulista.

Ainda pela manhã, quando representantes da empresa esperavam o início do pregão em frente à prefeitura, a reportagem se aproximou de Adriano e disse que havia boatos nas redes sociais de que a MRover fecharia.

Sereno, extrovertido e com sotaque mineiro, ele explicou que, na verdade, se a empreiteira perdesse a licitação, ela apenas mudaria para outro município.

“E os funcionários?”, perguntou o repórter. “A empresa nova contrata. Igual a mim. Eu tenho contrato em Jahu. E estou tentando ganhar aqui. Se eu ganhar, contrato os funcionários”, respondeu, sugerindo concorrência independente. “É algo normal. Licitação tem todo dia”.

O DEBATE tem todas as conversas gravadas e guardadas em arquivo.

A conversa foi interrompida por um motoqueiro. “Bom dia, meu patrão”, exclamou o rapaz a Adriano, que se esquivou com um breve cumprimento e retomou a conversa. Na moto, estava colado um adesivo da MRover. Naquele momento, Adriano reclamava de alguns preços do edital e criticava a Codesan — que, para o empreiteiro, deveria ser extinta.

Na verdade, há relações diretas entre os empresários Moisés Rovere e Adriano Nascimento. O irmão de Adriano, André Silva Nascimento, é gerente da MRover em Santa Cruz do Rio Pardo. E Adriano, por sua vez, é conhecido entre os funcionários da empresa de Santa Cruz — embora concorra às licitações com outra empresa.

Em 2013, por exemplo, um ano antes de a MRover assumir a coleta de lixo no município, a empreiteira — que na época se chamava “Engeurb” — participou de uma licitação em Rio Verde, no estado de Goiás. Quem representou a empresa, naturalmente, foi seu proprietário, Moisés Rovere.

Num pregão em Rio Verde, a “AS Nascimento” foi representada pela mulher de Moisés Rovere — dono da MRover —,, Vaneide Siqueira Rovere



A “AS Nascimento” também concorreu ao certame na cidade goiana. Segundo consta na ata do pregão, a empresa de Lençóis Paulista foi desclassificada por não apresentar os documentos pessoais dos sócios. Mas o fato é que a representante da “AS Nascimento” foi Vaneide da Silva Siqueira Rovere — mulher de Moisés Rovere.

Em outra licitação, desta vez em Carlópolis, Vanderson Oliveira da Silva Siqueira — parente de Vaneide, a mulher de Moisés — representou a “AS Nascimento”. Em 2014, a MRover e a “AS Nascimento” também disputaram a licitação de limpeza pública em Santa Cruz. A primeira venceu.

Há vários indícios que apontam para uma possível sociedade oculta entre Adriano Nascimento e Moisés Rovere.

Os dois tomavam refrigerante ao lado de outros empreiteiros enquanto a licitação sofreu um breve intervalo. Comentavam a respeito da empresa que venceu o certame — a Artico. “Tem que ver se vão conseguir cumprir o prazo para se instalar na cidade”, disse Adriano. Como referência, ele lembrou do momento em que a MRover começou a atuar em Santa Cruz.

“Quando nós iniciamos aqui, o prefeito deu 30 dias para nos instalarmos”, disse Adriano, referindo-se à MRover como “nossa”. No papel, Adriano é dono de outra empresa. O empreiteiro também tirou sarro do prefeito, que se irritou quando a MRover chegou a Santa Cruz três dias antes do término do prazo. “O homem estava pulando de bravo”, brincou.

Em outro momento, quando Moisés Rovere previu que poderia perder a licitação de Santa Cruz, perguntou a Adriano sobre onde guardar os equipamentos que atualmente estão na sede da empresa, no Jardim Ypê.

“Tem algum terreno seu lá em Lençóis?”, questionou. “Tem, pô, tem o barracão”, respondeu Adriano. “Dá até para trocar por outra lancha”, caçoou, já que o repórter estava presente. Moisés disse que já vendeu a lancha.

Moisés se indignou com o preço pelo qual a vencedora ganhou o certame. “É ano político. Esse prefeito vai fazer uma cagada por esse preço. E isso vai repercutir tudinho em cima dele. Nós vamos estar aqui já no primeiro mês para conferir se a empresa está com tudo certo”, afirmou Rovere. “E vamos precisar do jornal de vocês”, emendou Adriano.




Moisés Rovere (à direita), durante a licitação do lixo que ocorreu na semana passada



‘Troca de farpas’

marcou pregão



“Ofereceu este preço? E vai fazer o serviço? Está morto! Não tem como!”. A frase é de Adriano Nascimento, que representava a “AS Nascimento Ambiental” na licitação de terça-feira, 28. “Certeza que não tem documento. Será inabilitada”, alfinetou. O alvo era a Artico, que venceu o pregão.

Adriano argumentava e outros empreiteiros concordavam. Um deles chegou a dizer que “o Adriano está 100% certo”, disse. Em outro momento, Moisés passou a dizer que a MRover teria dado um lucro enorme para Santa Cruz.

Irritado, o representante da Artico sacou o celular e abriu uma imagem. “Estão vendo? Esta aqui é a MRover. Podem vir ver se quiserem”, disse. Na tela havia uma fotografia de uma notícia do DEBATE de que funcionários da MRover teriam pedido propina para coletar entulho. Moisés Rovere não comentou e um silêncio se instalou no local.

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  • Publicado na edição impressa de 03/05/2020


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