Edinho sempre demonstrou a alegria de viver
Publicado em: 02 de abril de 2022 às 02:48
Atualizado em: 04 de abril de 2022 às 13:56
Sérgio Fleury Moraes
Hederson Maximiano morreu no domingo, 27, em Santa Cruz do Rio Pardo. Não era nenhuma autoridade ou político, mas sua morte cobriu a população de tristeza.
“Edinho”, como era conhecido, foi uma das figuras mais queridas da cidade. Portador da osteogênese imperfeita, conhecida como “doença dos ossos de vidro”, cuja característica é a fragilidade crônica da estrutura óssea e as constantes fraturas, ele contrariou a Ciência.
Caçula entre os homens de uma família de seis irmãos, Edinho teve o diagnóstico sombrio desde o nascimento. Os médicos avaliaram que ele possivelmente viveria somente dois anos. Os pais Waldomira e Lázaro, porém, preferiram acreditar na fé. E o garoto que vivia quebrando ou trincando tudo quanto era osso, viveu 46 anos.
E viveu sempre feliz. “Era ele quem fazia sua rotina diária”, contou a irmã Kelly Maximiano, há anos colaboradora do DEBATE. Mesmo sem nunca andar, ele adorava assistir TV durante o dia, mas aos finais de semana a cadeira de frente para a rua era sagrada. As pessoas passavam, o cumprimentavam e sempre recebiam um sorriso de Edinho.
Quando tinha quatro anos e as fraturas eram rotineiras, inclusive já provocando deformidades nos membros, Edinho pediu caderno e um lápis à mãe. Waldomira teve receio, já que o garotinho poderia se ferir, mas atendeu ao pedido. Edinho, então, fez um desenho colorido.
E a arte de desenhar o acompanhou para o resto da vida. Edinho desenhava sem parar, quase todos os dias. Guardava muitos, mas também costumava fazer desenhos a pedido das crianças ou para dar de presentes a adultos. A pessoa ganhava, além da arte estampada no papel, um sorriso contagiante, a marca registrada do artista.
As fraturas nos ossos foram incontáveis. Se Edinho levasse um susto, por exemplo, um movimento mais brusco e pronto: mais um osso quebrado. A situação começou a mudar perto dos 30 anos, quando sua estrutura óssea ficou um pouco mais forte.
Além dos desenhos, a data mais aguardada por Edinho era o seu aniversário. Na família, era o único que tinha direito a uma festa todos os anos, com direito a bolo e, às vezes, um churrasco. Ele comia de tudo e adorava café.
No sábado, 26, Edinho estava amuado, sem apetite, mas ainda sorrindo. A cunhada Débora e a irmã Léia levaram-no à UPA — Unidade de Pronto Atendimento — do bairro da Estação. Na certa, seria um distúrbio qualquer, sem consequências, e à noite Edinho estaria de volta para casa.
De lá, ele foi encaminhado à Santa Casa de Misericórdia e, em questão de horas, internado na UTI. Quem o acompanhou, se surpreendeu com o sorriso ainda estampado no rosto. A enfermeira que presenciou seu último suspiro disse o mesmo: Edinho morreu sorrindo. O óbito constatou pneumonia, mas ele também pode ter sofrido um problema cardíaco.
No velório, realizado no domingo, 27, muitas homenagens mostraram o quanto Edinho era especial para quem o conhecia. Soldados do Corpo de Bombeiros, que ele tanto desenhava e batia palmas quando o caminhão passava, se despediram de Edinho com palmas de gratidão e a sirene ligada por alguns minutos.
Também chamou a atenção o carinho do cachorro Cebolinha que, como tantos outros que a família teve, cuidava de Edinho. Uma das irmãs aproximou o cão do corpo e Cebolinha praticamente deitou-se sobre o velho companheiro. E chorou.
Além dos pais Lázaro e Waldomira, Hederson Maximiano deixou os irmãos Célio, Ervegilson, Selma, Kelly e Léia. Edinho foi sepultado no final da tarde de domingo, sob forte comoção da família e de inúmeros amigos que o admiravam. Deixou não apenas milhares de desenhos e a alegria de viver, mas um grande exemplo de superação.
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