A psicóloga Antiella Carrijo Ramos (centro), idealizadora do projeto, ao lado de Fabiana de Souza (à esquerda) e Bianca dos Santos (dir.), voluntárias do ‘Posso te Ajudar?’
Publicado em: 28 de maio de 2022 às 02:27
Atualizado em: 28 de maio de 2022 às 02:29
André Fleury Moraes
Posso te ajudar?
O questionamento, que carrega um sentimento de solidariedade, é também o nome de um projeto do Cras (Centro de Referência da Assistência Social) ‘Betinha’, em Santa Cruz do Rio Pardo, cujo objetivo é ampliar o combate à violência contra a mulher e oferecer uma rede de apoio à comunidade.
A iniciativa surgiu em 2019 e foi idealizada pela psicóloga Antiella Carrijo Ramos depois que, num determinado dia, uma mulher bateu na porta do Cras após ser duramente agredida pelo então companheiro. Ela estava toda machucada e coberta de sangue e foi acolhida por Antiella no mesmo instante.
Tempos depois, a mesma mulher disse à psicóloga que, não fosse o tratamento que recebeu dos órgãos responsáveis, teria cometido suicídio. Claro que a declaração marcou Antiella, que percebeu ali a oportunidade de iniciar, no Cras “Betinha”, um projeto para conscientizar as mulheres a respeito de seus direitos.
Mas a iniciativa não foi apenas educacional. Antiella convocou lideranças femininas do Cras e criou uma rede de apoio que busca atender e acolher vítimas de violência em geral. “O projeto foi criado dentro do Cras, mas seu papel se estende por toda a sociedade”, diz a psicóloga.
O “Posso te Ajudar?” conta com voluntárias que fazem uma busca ativa no ambiente em que vivem para identificar eventuais situações de violência. Na sequência, orientam as vítimas sobre o que fazer nestes casos, oferecem apoio psicológico e podem, inclusive, encaminhá-las ao “Cras Betinha” para que sejam acolhidas.
“Toda mulher sofre algum tipo de violência em nossa sociedade. Além da conscientização, o projeto ensina às voluntárias técnicas de comunicação e diálogo para auxiliar as vítimas, que muitas vezes podem estar ao nosso lado sem que percebamos”, diz Antiella.
Desde que foi criado, porém, o projeto ganhou novos rumos e passou a funcionar também como uma rede de apoio aos moradores das comunidades. “Assegurar o bom convívio dentro do território também entrou no foco do ‘Posso te Ajudar?’”, explica a psicóloga.
Uma das voluntárias é Bianca dos Santos Sanches, que já colocou em prática o aprendizado. Há duas semanas, por exemplo, deu o apoio que faltava a uma mulher que havia ingerido uma grande quantidade de remédios e bebida alcoólica, combinação que pode ser fatal. “Ela estava transtornada, frágil, e melhorou depois que conversamos”, conta.
A rede de apoio costurada pelo “Posso te Ajudar?” se torna ainda mais fundamental à medida em que se percebem casos de violência que acontecem silenciosamente. Para Bianca, a identificação de sintomas nas vítimas é talvez o melhor caminho para se combater os abusos.
O diálogo é essencial para auxiliar as mulheres vítimas de violência. Mas a intervenção deve acontecer de maneira cautelosa, diz Fabiana de Souza, que também é voluntária no projeto.
O “Posso te Ajudar?” já está em vigor dentro da comunidade. E a expectativa é de que a rede de apoio dos moradores cresça ainda mais — o que deve se concretizar, uma vez que a força de vontade de seus integrantes caminha exatamente para isso.
“Pretendemos romper com o individualismo que observamos hoje. A prática do ‘Posso te Ajudar?’ vai se tornar cotidiana”, garante Antiella.
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