
Aldo em casa: o estádio ‘Leônidas’
Sérgio Fleury MoraesDa Reportagem LocalAtual diretor de futebol da Santacruzense, Aldo Cavalari Ricardo, 48, fez parte do “tripé” técnico que comandou a Esportiva na campanha que deixou o clube na 5ª posição do campeonato paulista da Segunda Divisão em 2016. E, ao que tudo indica, ele vai continuar na próxima temporada, ao lado do técnico Carlos Alberto Seixas e do preparador Fernando “Narigudo”. Para Aldo, é a coroação de um trabalho com muita garra. Aliás, ele avalia como mais uma etapa vitoriosa na Santacruzense, clube pelo qual atuou como jogador e foi vice da Segundona em 2011.
Natural de Marília, Aldo Cavalari começou a ter contato com a cidade exatamente quando o MAC o emprestou à Esportiva, nos anos 1980. Bebeu da água santa-cruzense e não saiu mais. Hoje, mora na cidade onde nasceu uma de suas duas filhas. O tricolor, então, passou a ser sua segunda pele.
A história do volante Aldo começou em Marília, nos campos da periferia, onde o garoto despertou a atenção do MAC, que logo o levou para a base. “É uma pena que hoje não existem mais estes campos. É por isso que o Brasil já não revela tantos talentos quanto antes”, afirmou. “O incrível é que times da Europa estão montando centros de treinamentos no próprio Brasil”, lembra.
Da base, Aldo Cavalari foi titular do Marília durante muitos anos, até que foi emprestado justamente para a Santacruzense. Quando voltou para o MAC, seu coração já estava em Santa Cruz do Rio Pardo. Aldo ainda jogaria no Garça, Bordô do Paraná — pelo qual foi vice-campeão —, Ilha Solteira, Mogi Mirim, voltaria para a Santacruzense e encerraria a carreira na Lençoense.
Mas o grande orgulho de Aldo Cavalari foi jogar na seleção brasileira sub-17 em 1985. Ele precisou de uma autorização da família, pois ainda era menor de idade. Ficou mais de um mês no Rio de Janeiro e disputou vários amistosos na preparação para o campeonato mundial de futebol sub-17 na China. As lembranças permaneceram mesmo Aldo tendo sido cortado na véspera do embarque. Aliás, o corte atingiu dois jogadores e o outro nada mais era do que o goleiro Veloso, que brilhou no Palmeiras. Os amigos brincam que, sem Aldo, a seleção acabou ficando em 3º no mundial.
A convocação aconteceu por pura determinação de Cavalari quando ele ainda estava no time de base do MAC em meados dos anos 1980. Na época, o treinador da seleção, Homero Cavalheiro, queria ver de perto um jogador do Noroeste e pediu à diretoria para marcar um jogo-treino. Foi, então, que chamaram o Marília de Aldo e avisaram todos os jogadores sobre o motivo do confronto.
“Quando fiquei sabendo que o técnico da seleção sub-17 estaria no jogo para avaliar um atleta do Noroeste, pensei: ele pode até ver o cara, mas vai me ver também”, lembra. Aldo se esforçou, “arrebentou” no jogo e acabou sendo convocado três dias depois. O destaque do Noroeste foi esquecido. “Este é um jogo que, embora não valesse pontos, ficou marcado na minha vida. Afinal, tive a honra de vestir a camisa da seleção brasileira”, afirmou.

Em 1985, Aldo precisou de uma autorização judicial para viajar pela seleção brasileira sub-17, pois tinha apenas 16 anos; abaixo, a concentração no Rio de Janeiro, em foto publicada pela revista “Placar”
Técnico foi viceAldo Cavalari se aposentou como jogador em 1996. Já morando em Santa Cruz, ele recebeu um convite para montar uma escolinha de base junto com o técnico Gilson. Em 2000, quando a Santacruzense voltou aos gramados depois de um período de inatividade, Aldo foi convidado para integrar a comissão técnica do time.
Foi gerente de futebol desde 2008 e em 2010 foi contratado como auxiliar do técnico Lelo. No ano seguinte, assumiu o comando do time quando Lelo foi para a Inter de Limeira. “Tive a felicidade de dirigir um grupo muito bem montado. Quando assumi, o time vinha de uma derrota para o São Carlos, mas conseguimos encaixar uma sequência de vitórias. Em Guarulhos, já na semifinal, vencemos por 5 a 3, num jogo muito emocionante. Já com o acesso à série A3 conquistado, jogamos por um empate contra o São Carlos e fomos para a final contra a Penapolense. Não deu, mas o vice-campeonato foi inesquecível”, lembra Aldo.
TropeçoO segredo do sucesso da comissão técnica atual, segundo Aldo, é o entrosamento entre ele, o técnico Carlos Alberto Seixas e o preparador Fernando “Narigudo”. E este diálogo, segundo ele, só foi possível depois de anos juntos. “Não existe trairagem, pois ninguém quer derrubar o outro. E o Seixas sempre pede opiniões e aceita todas, inclusive durante um jogo”, afirmou.
A 5ª colocação no campeonato paulista da Segunda Divisão foi recebida como vitória para um time que começou a competição desacreditado e sem recursos. Porém, a derrota em casa para o XV de Jaú, após empatar no primeiro jogo na casa do adversário, frustrou a torcida. Para Aldo, o trabalho foi sério e resgatou a credibilidade, mas não pode ser avaliado num único jogo. “Na verdade, o time sentiu o clima de decisão e não jogou. O atacante não estava num dia inspirado, o Virgulino atuou apagado e sentimos muito a falta do lateral. Foi, enfim, um apagão geral”, reconhece.
Mas Aldo é daqueles que sacode a poeira e dá a volta por cima. Junto com Seixas e “Narigudo”, ele já está de olho na próxima temporada, confiante de que o acesso, caso o mesmo trabalho seja mantido, pode ser conquistado.