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‘Dividir o dinheiro é problema dos sócios’

‘Dividir o dinheiro é problema dos sócios’

Publicado em: 19 de março de 2020 às 17:51
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 21:13

Otacílio disse que emitiu vários cheques “para

facilitar” distribuição do dinheiro aos sócios do BAC


Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Na realidade, o problema é dos sócios e não meu. Eles que resolvam. Eu sei o quanto paguei, mas não sei como eles dividiram o dinheiro”. A frase é do prefeito Otacílio Parras (PSB), que na sexta-feira, 13, usou a rádio Difusora para tentar explicar a compra, de forma particular, do patrimônio remanescente do clube BAC, após o seu próprio governo retomar toda a área onde fica a praça esportiva. O prefeito sugeriu que já lavrou a escritura, que foi passada praticamente pelo valor venal da propriedade.

A área de 15.000 metros, cedida em comodato em 1988 pelo ex-prefeito Onofre Rosa de Oliveira, foi retomada por Otacílio em 2018 e inviabilizou o clube, que sempre teve um viés esportivo. A gleba que retornou ao município contém uma extensa área verde, um campo de futebol com medidas profissionais e uma quadra desportiva. Sobrou apenas a sede social e alguns terrenos, que Otacílio comprou no ano seguinte.

Otacílio Parras repetiu o que havia dito ao jornal, que o negócio foi de R$ 300 mil. “Paguei R$ 295 mil pela propriedade e mais R$ 5 mil para o corretor, que foi contratado por mim”, explicou. O corretor é Irineu Gozzo, avô de um ex-secretário do governo que poucos conheciam — e que foi demitido no dia seguinte após o jornal publicar a informação. Além de também prestar serviços de avaliações de imóveis para a prefeitura, Irineu recebeu uma deferência especial do prefeito na solenidade de posse do segundo mandato, ao ser chamado de “amigo número um”. Mais tarde, disse a uma emissora de rádio que Gozzo “traz bons negócios para a família”.

Melhor negócio, impossível. Otacílio comprou uma área valorizada pagando apenas o valor venal, o mesmo que, em dezembro de 2018, em discurso na tribuna da Câmara, disse ser um ato de sonegação. Na ocasião, o prefeito tentava aprovar um projeto que reajustaria o valor venal em 300% e afirmou que anunciar uma compra usando este índice certamente seria “lavagem de dinheiro”. Ele alertou que lavrar uma escritura pelo valor venal é uma ação típica de “criminosos, agiotas, ladrões, corruptos ou de quem tem dinheiro sujo”.

Otacílio, porém, foi contraditório. Ele voltou a insistir que o patrimônio do BAC “esteve à venda durante muitos anos”, inclusive sugerindo que houve consultas a sócios. Na semana passada, o jornal conversou com vários corretores e imobiliárias da cidade e nenhum deles sabia que o clube estava à venda. Também não há informações sobre anúncios publicitários em jornais ou sites de imóveis, o que é natural quando se quer vender uma propriedade por um valor justo.

Ele também repetiu que o clube estava abandonado havia muito tempo e não tinha mais atividades. Citou, por exemplo, que suas instalações foram alugadas há alguns anos para a Esportiva usar o campo de futebol. Para Otacílio, o BAC “foi esperto” em construir sua sede em terrenos próprios, deixando os imóveis cedidos pela prefeitura para construir a praça esportiva. Como estava abandonado, alegou, a prefeitura pediu a reintegração de posse da área.

“Se eles resolveram vender, colocaram preço e estava à venda para qualquer pessoa e eu comprei, por que eu não posso ser o comprador? Quem desvalorizou a propriedade foram eles, que abandonaram aquele patrimônio, desvalorizando a propriedade. Agora, quantos sócios existem não me interessa, assim como não me interessa para quem foi o dinheiro. Quem assinou a escritura foi o presidente do clube, mas façam como quiserem a divisão do dinheiro”, disse Otacílio. O presidente é Francisco Sanson, sócio da antiga Transnardo Transportes.

O prefeito explicou que, no dia da escritura, foi ao banco pegar talões e fez vários cheques para facilitar a distribuição do dinheiro e que eles foram preenchidos pela funcionária do Cartório de Imóveis. “Todos foram nominais ao clube e nenhum ao portador. Eles foram distribuídos pelo presidente, pois não compete a mim sair distribuindo dinheiro para sócios”, afirmou. E concluiu: “Se não dividiram o dinheiro corretamente, o problema é deles, eles que se entendam”. 






Otacílio faz desafio e

diz que entrega área

Mas só se o comprador, além do dinheiro,

pagar juros, honorários, valor dos tributos

Mudança no estatuto foi aprovada em 2015



O prefeito Otacílio Parras (PSB) disse que, “para facilitar a vida do presidente do BAC”, colocou o imóvel à disposição para devolver ao clube. No entanto, impôs condições: “Está à disposição para qualquer um dos sócios comprar o imóvel. É só devolver o meu dinheiro, os documentos que eu paguei de impostos, os honorários que eu paguei ao advogado e os juros destes dias. Pronto, sem problema nenhum”, afirmou. “Se eles falam que vale R$ 500 mil, arrumem o comprador e devolvam o meu dinheiro”, disse.

O prefeito não explicou o motivo pelo qual contratou um advogado, já que, segundo ele próprio afirmou, o clube teria estipulado um valor pelo imóvel e ele aceitou. Assim, nem mesmo um corretor seria necessário. No entanto, o valor mínimo dos honorários de um advogado é 10% do valor da causa, ou seja R$ 29.500,00.

Segundo Otacílio, ele fez o alerta sobre a hipótese de devolução ao presidente do BAC, Francisco Luiz Sanson, antes da transmissão da escritura, no próprio prédio do cartório — e antes de distribuir os cheques da transação. Afirmou, ainda, que repetiu a sugestão em reunião realizada na última quinta-feira, 12, com o dirigente do clube. Segundo apurou a reportagem, o encontro aconteceu no gabinete da prefeitura.

Otacílio disse que conversou com o presidente do clube “no caso de ele ter algum problema”. “Não tem empecilho nenhum. Chamei ontem o presidente de novo e avisei: está à disposição de qualquer pessoa do Brasil. É só me pagar, sem problema algum”. 




‘NEGOCIÃO’ — Fundos da sede do BAC, que fica em frente ao campo



Contradições mantêm

as suspeitas no negócio

Se a negociação foi amigável e fácil,

por que prefeito contratou corretor?

Se Otacílio Parras explicou alguma coisa sobre o estranho negócio da compra particular do patrimônio de um clube que ele inviabilizou, na condição de prefeito, não convenceu muita gente. Afinal, ainda restam questões nebulosas a esclarecer, principalmente o fato da prefeitura, há dois anos, ter retomado a extensa área onde fica a praça esportiva construída pelo clube, com campo de futebol, quadra desportiva e área verde. O ato de Otacílio acabou com o BAC que, pouco tempo depois, vendeu o restante de seu patrimônio, na “bacia das almas”, ao próprio prefeito.

A pergunta mais eloquente é: por que Otacílio resolveu pegar de volta a gleba que Onofre Rosa cedeu em comodato há mais de 30 anos. A justificativa inicial era usar o imóvel para construir uma unidade do Cras, mas a obra está sendo feita em outro local. A segunda é: por que a pressa de alguns sócios remanescentes do BAC em vender o patrimônio, mesmo a preço de banana?

A explicações que Otacílio deu ao DEBATE e na rádio Difusora não convencem. Ele disse, por exemplo, que o clube “colocou preço” e ofereceu o imóvel a ele. “Paguei o valor que foi pedido”, afirmou. Ora, se a venda foi tão fácil assim, por que foi necessário a interferência de um corretor, justamente o “amigo número um” do prefeito? Este profissional, aliás, só é requisitado quando há uma negociação mais dura ou quando o comprador solicita ao seu corretor de confiança para procurar um determinado imóvel.

Também não foi explicado o motivo pelo qual o prefeito contratou um advogado no negócio, cujo nome não mencionou. Afinal, se todos os documentos estão corretos, assim como as atas da associação, qual o motivo de um advogado interferir na negociação mediante o pagamento de honorários?

A alegação de que foram os sócios do clube que desvalorizaram o próprio patrimônio também não convence. Otacílio disse que o prédio estava abandonado havia muitos anos, mas depois ele próprio lembrou que, não faz muito tempo, a Esportiva Santacruzense alugou o local para treinos e alojamento de atletas. Hoje, por exemplo, existe uma academia em plena atividade no espaço, o que não aponta para uma situação de abandono.

Aliás, há um bom tempo o campo de futebol é usado por escolinhas de futebol — como aquela coordenada pelo vice-prefeito Benedito Ribeiro — e não há informações sobre pagamento de aluguel pelo uso do campo.

A verdade é que o clube não estava à venda, a não ser a partir do momento em que a prefeitura “esquartejou” o BAC, deixando a entidade sem a sua essência, que era o complexo esportivo. E ele foi “oferecido”, em circunstâncias que precisam ser esclarecidas — inclusive pelas autoridades — somente ao prefeito Otacílio Parras, o maior comprador de imóveis em Santa Cruz do Rio Pardo nos últimos anos. 

Leia mais:

Venda do BAC ao prefeito pode gerar

ação de anulação por parte de sócios



  • Publicado na edição impressa de 15/03/2020


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