Equipe de 2006 do Grêmio da Chácara, um time amador aguerrido
Publicado em: 27 de fevereiro de 2021 às 05:49
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 15:35
Sérgio Fleury Moraes
Dirceu Sabino morreu há oito anos, quando contraiu um câncer de pele, teve problemas e sofreu um infarto. Ele tinha 63 anos e levou para o jazigo, como último pedido, uma camisa do time que ajudou a comandar por mais de 40 anos em Santa Cruz do Rio Pardo: o famoso “Grêmio da Chácara”.
O Grêmio tem o “sobrenome” porque surgiu exatamente na chácara em que morava aquela que seria sua mulher, Maria Aparecida Donini Sabino, 73. “Quando a doença apareceu, o médico disse que ele não podia mais ficar no sol e deveria abandonar o futebol. Foi aí que a tristeza tomou conta dele a ponto de prejudicar até seu raciocínio”, conta a viúva.
A chácara fica nas imediações do restaurante “Os Galeguinhos” e era de propriedade da família Simão. Aliás, o time ainda existe e só interrompeu suas atividades devido à pandemia, já que a prática do futebol está proibida em Santa Cruz. Mas é, provavelmente, o time amador mais longevo da cidade.
Dirceu Sabino era o “faz tudo” da equipe. Coordenava os integrantes, combinava os jogos, discutia a “garantia” — um pagamento simbólico ao time visitante —, organizava o transporte e ainda jogava como zagueiro. “Era um jogador honesto, que não dava botinada e não ofendia ninguém dentro do campo”, conta o ex-atacante Toko Degaspari, que também atuou no Grêmio.
Maria Sabino se orgulha de que Dirceu era honesto também no trabalho. Como responsável por cobranças de várias empresas de Santa Cruz do Rio Pardo — como Casa Andrade, Jean Auto Peças e outras —, ela diz que nunca faltou um centavo no acerto de contas.
“Se não fosse o Dirceu, o time não andava”, conta Maria. Ela nem ligava que no domingo ficava praticamente sem o marido. “Era o dia do Grêmio”, conta. Os amigos vinham buscá-lo e Dirceu voltava somente no final da tarde, sujo e, dependendo do placar, alegre ou cabisbaixo.
Aliás, durante muitos anos foi Maria quem lavou todos os uniformes do Grêmio. Em sua casa, no Jardim Fernanda, ainda há o excesso de varais e até um balde quase cheio de prendedores. “Eram quase 30 camisas, pois tinha o time titular o aspirante. Eu precisava deixar tudo pronto para o domingo seguinte, com chuva ou não. Hoje não faço mais, mas há uns oito anos não compro prendedor no supermercado”, explicou.
Maria nem contou os calções e as meias dos jogadores. Além disso, um dos filhos ajudava a retirar os carrapichos dos uniformes. Havia um guarda-roupa especial para o time, onde ficavam também as bolas.
O Grêmio da Chácara nunca foi um time da elite do futebol amador de Santa Cruz do Rio Pardo, mas sempre foi uma equipe forte. Era praticamente um time de amigos, uma espécie de família. Maria conta que um cunhado jogava no Grêmio, além de três irmãos dela. E, claro, mais Dirceu, mesmo com sua barriga, digamos, sensivelmente saliente.
Provavelmente Dirceu pressentiu seu fim quando a doença apareceu. Tanto que disse à mulher Maria que queria ser enterrado com a camisa do Grêmio. “Eu disse ‘vira esta boca pra lá’, mas ele insistiu que era sério”, conta a viúva. Algum tempo depois, Dirceu não foi sepultado com a camisa porque ela não serviu. “Ele estava gordinho”, conta a viúva, que colocou a camisa que o marido tanto amava ao lado do corpo.
Em seus últimos dias, Sabino teve o cérebro afetado pela doença que se espalhou. “Ficou acamado e começou a valhar nos pensamentos. Às vezes falava da chácara quando estava em casa”, contou Maria.
Nos próximos dias, o nome Grêmio estará em evidência em todo o País, pois o time de Porto Alegre vai disputar o título da Copa do Brasil com o Palmeiras. Dirceu Sabino era torcedor do Palmeiras, mas também gostava do Grêmio pelo fato de seu time do coração em Santa Cruz ter o mesmo batismo. “Ficaram as boas lembranças dele. E entre elas, é difícil não falar de futebol e, principalmente, do Grêmio da Chácara”, diz Maria Aparecida Donini Sabino.
* Colaborou Toko Degaspari
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