ESPORTE

Laureano, o atacante que já fez sete gols em apenas uma partida

Centroavante conseguiu a façanha em 1977, quando foi artilheiro do campeonato amador jogando pela Esmeralda

Laureano, o atacante que já fez sete gols em apenas uma partida

Laureano com a camisa da Esmeralda, um dos times que o consagrou

Publicado em: 21 de fevereiro de 2023 às 17:33

Sérgio Fleury Moraes

 

Laureano Scucuglia, ou simplesmente ”Lau”, foi talvez o único jogador que conseguiu fazer sete gols numa única partida pelo campeonato amador de Santa Cruz do Rio Pardo. O feito aconteceu contra a equipe da Águas das Pedras, na goleada por 13x0. Mas Laureano ainda detém uma outra conquista: nunca recebeu um cartão, sequer o amarelo, durante sua carreira. Se fosse profissional, receberia o prêmio “Belfort Duarte”, que a CBF entregava até 2009 aos jogadores que nunca foram punidos em campo.

Hoje aposentado – dos gramados e do magistério -, Laureano vem de uma família que se confunde com o futebol. O irmão mais velho, Osmar, jogava no Atlético do Náutico, junto com o outro irmão Gerson. O tio Benjamin Brondi foi lateral direito e o primo Ivan Brondi se tornou profissional, virando ídolo do Palmeiras e do Náutico de Recife, além de vestir a camisa da seleção brasileira. Isto sem contar os irmãos Domingos “Mingola” e Oswaldo “Queijo”.

Como todos os craques do passado de Santa Cruz do Rio Pardo, Laureano não saía dos campinhos de futebol que eram muitos nas décadas de 1960 e 1970. “Existiam muitos campinhos. Tinha um perto de casa, num terreno ao lado do colégio das madres. Outro era na vila Fabiano e um campo onde era a madeireira do Faria. Também existia um campo chamado de ‘pelada’, onde era a sede da Polícia Militar. Perto da escola ‘Leônidas’, havia o ‘campo do mijão’, outro onde era o lanchódromo da praça central, sem contar campos espalhados pela vila Oitenta e Saul. Enfim, era muito campo e sempre cheio de garotos”, conta.

Laureano lembra que jogava todos os dias. “No sábado, nosso time fazia a preliminar do MAC (Milionários Atlético Clube) no campo da Esportiva. Nas manhãs de domingo, a gente jogava no Náutico no time do João ‘Braço’ e, à tarde, a perua nos levava até Ourinhos para jogar no time da usina”, conta.

 

No campeonato amador de 1977, Laureano (Esmeralda) posa com o amigo Noni (Atlético do Náutico)

 

Ele ainda era garoto quando foi convocado para jogar no time “Santa Cruz”, dirigido por Alcino “Oxigênio”. Era uma espécie de selecionado santa-cruzense que atuava em partidas amistosas pela região. “Foi meu primeiro time com uma camisa oficial”, lembra.

Em seguida, “Lau” passou a jogar no time da Usina São Luiz. O elenco era bom e tinha “China” (que depois jogou no Botafogo do Rio de Janeiro”, “Perninha” Brondi (primo de Laureano), Luiz Cueca, Noni, Ditinho Marques (ex-vereador), Ditão, Chiqueiro e Kal Bucheiro.

Porém, o time da usina só atuava durante a safra. No início dos anos 1970, Lau foi convidado para jogar no time da Fazenda Lageadinho, que disputava o campeonato amador de Ourinhos. Sagrou-se campeão pela primeira vez, num certame cujos times estavam recheados de jogadores de Santa Cruz.

Em 1975, Laureano já estava na Esmeralda de Santa Cruz, o esquadrão que fez história no futebol amador. O convite veio do contador Waldomiro Martins, o “Tabaco”, que também era jogador amador. “Lau” jogou ao lado de Noni, Téo e Taliba. O centroavante lembra que fazia “tabelinha” com o craque Noni.

 

O esquadrão da Esmeralda campeã de 1976, com Laureano, Noni, Toko e companhia

 

Foi a fase áurea do campeonato amador de Santa Cruz do Rio Pardo. A Esmeralda foi campeã em 1975, 1976, 1978 e 1979. Laureano só não jogou a temporada de 1979 porque passou no concurso da secretaria de Educação e foi lecionar em Taboão da Serra.

Em 1977, a Esmeralda perdeu o título para o Suzuki, mas Laureano foi o artilheiro com 13 gols. Foi neste campeonato que ele fez história, fazendo sete gols na goleada contra o Água das Pedras por 13x0, no estádio Leônidas Camarinha. “Eu nem comecei jogando. Entrei no meio do primeiro tempo, quando o Tonho levou uma cotovelada e quebrou o dente. Entrei no lugar dele e no primeiro minuto sofri um pênalti. Bati e comecei a marcar gols em seguida e, no segundo tempo, o Águas das Pedras praticamente desistiu do jogo”, contou.

Foram sete gols, quase igualando o feito de Pelé, que em novembro de 1964 fez oito gols na goleada do Santos contra o Botafogo de Ribeirão Preto por 11x0.

Sobre nunca ter recebido nenhum cartão, Laureano diz que sempre respeitou os jogadores adversário e, principalmente, a arbitragem. “Eu não dava pontapé e nem revidava. Gostava é de jogar mesmo”, disse. “O que muito jogador não entende é que, quando o juiz apita, não adianta reclamar”, afirmou.

O santa-cruzense chegou a ser convidado várias vezes para fazer testes em times profissionais. “Achei melhor ficar por aqui. Afinal, naqueles tempos o futebol ainda era uma carreira incerta e não havia estes salários exorbitantes pagos atualmente. Preferi continuar no magistério”, afirmou.

Laureano lembra que provavelmente nunca mais haverá um campeonato amador como aquele dos anos 1970. “O estádio lotava. Quando tinha clássico, contra o Suzuki ou Cruzeiro, todos os lados do estádio ficava repleto de torcedores, todos com suas bandeiras e animando seus times. Era bonito de se ver e pessoas de outras cidades vinham acompanhar os jogos”, disse.

Como professor, Laureano deu aulas em várias escolas de Santa Cruz, como o “Sinharinha Camarinha”. Algum tempo depois de se aposentar dos gramados, o ex-jogador enfrentou problemas de desgaste no quadril, percebido durante uma pescaria. Foram cinco cirurgias, numa das quais contraiu uma infecção. “Fiquei noventa dias tomando antibiótico sem colocar o pé no chão”, contou.

Hoje, “Lau” está quase recuperado e ainda faz fisioterapia. Mas lembra com saudades dos tempos em que vestia a camisa da Esmeralda. “Não dá para comparar os jogadores de hoje, que são preparados fisicamente por grandes estruturas dos clubes. Na minha época, o cara tinha de ser bom mesmo”, afirmou.

 

* Colaborou Toko Degaspari

 

 

A magia de Pelé nos oito
gols contra o Botafogo/SP

 

Maior jogador de futebol de todos os tempos, Pelé bateu um recorde que durava 35 anos ao marcar oito gols numa mesma partida. Foi numa tarde chuvosa de sábado, 21 de novembro de 1964, num jogo válido pelo segundo turno do campeonato paulista, a principal competição daquela época. O novo recorde só viria a ser batido em 1976, quando Dario marcou dez gols na vitória do Sport Recife frente ao Santo Amaro.

A façanha anterior pertencia ao lendário Friedenreich, do Paulistano, que em 1928 marcou sete gols na goleada contra o União da Lapa.

Não houve registro em vídeo da histórica goleada, mas as fotos do jogo – e de cada gol de Pelé – foram descobertas em 2020 por Sílvia Herrera, filha do fotógrafo Antônio Lúcio, do jornal “O Estado de S. Paulo”. O pai já havia falecido quando Sílvia encontrou um tubo com filmes fotográficos em preto e branco e algumas anotações. Eram os registros inéditos de todos os gols de Pelé naquele jogo.

Em novembro de 1964, o Brasil já vivia alguns meses sob a ditadura militar e o regime apostava no futebol para ter o apoio da população. O Santos vinha de dois títulos mundiais e era considerado o time mais forte do mundo.

Por incrível que possa parecer, naquele 11x0 o melhor jogador em campo do visitante foi o goleiro do Botafogo, Galdino Machado, que impediu uma goleada ainda maior.

Outra curiosidade é que Pelé não estava numa boa fase. Ficou ausente de alguns jogos e estava muitos gols atrás do artilheiro do campeonato. Além disso, o Santos vinha de um revés de 5x1 contra o Guarani de Campinas.

Mas aquela partida contra o Botafogo seria a redenção do Santos – e de Pelé. Afinal, no primeiro turno o time praiano havia sido derrotado por 2x0 pelo mesmo adversário, jogando em Ribeirão Preto. Houve provocações não apenas da torcida, mas dos jogadores botafoguenses. A imprensa garante que Pelé prometeu se vingar no returno.

E assim aconteceu. Pelé foi enfileirando gols e deixando os adversários sem reação. No primeiro tempo já estava 7x0. “Acho que havia alguma coisa especial que o motivou a jogar tanto. Naquela tarde, nada ia parar o Pelé e nenhum time teria condições de enfrentar o Santos”, declarou, muitos anos depois, o zagueiro Maciel, do Botafogo.

O Santos venceu todos os jogos seguintes e sagrou-se campeão paulista de 1964. Pelé foi o artilheiro. A goleada de 11x0 custou o cargo do técnico do Botafogo, Oswaldo Brandão, que foi contratado imediatamente pelo Corinthians. Duas semanas depois, o Santos venceu o Corinthians de Brandão, na casa do adversário, por 7x4.

SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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