ESPORTE

Noni, o craque dos antigos amadores

Ninguém conhece Roberto Mauro Pires Gomes pelo nome, mas “Noni” virou referência na história do futebol amador

Noni, o craque dos antigos amadores

Tetracampeão nos gramados e penta nas quadras pela Esmeralda, Noni foi destaque nos amadores

Publicado em: 30 de janeiro de 2023 às 17:38

Sérgio Fleury Moraes

 

Bancário aposentado, Roberto Mauro Pires Gomes nem era conhecido pelo nome. O apelido “Noni” remete ao craque dos anos 1970 e 1980, que enfileirava zagueiros e deu vários títulos à Esmeralda, um dos times mais tradicionais do futebol amador do passado em Santa Cruz do Rio Pardo. Porém, em vez de tentar a carreira nos gramados, Noni optou pela bem-sucedida profissão de bancário do Banco do Brasil.

O atleta é daqueles poucos jogadores que são lembrados até por quem nunca assistiram seus dribles em campo. É que as histórias sobre o meia foram contadas para a geração seguinte, assim como as conquistas da Esmeralda.

O time que marcou o coração de Noni foi fundado por funcionários da antiga Fábrica de Óleo Esmeralda, que depois se tornou Erisoja. O grupo, na verdade, se tornou amigo, principalmente por causa do “patrocinador”, o usineiro Chicão Quagliato, amante dos esportes.

Filho do saudoso escrivão de polícia Olavo Gomes, Noni logo despontou como o craque da família, pois outros três irmãos também jogaram futebol.

 

O time da Esmeralda campeã amadora de Santa Cruz do Rio Pardo na temporada de 1976

 

“Eu comecei a brincar no campinho que existia no terreno do lanchódromo da praça Leônidas Camarinha. A gente saía da escola e ficava a tarde toda neste campinho”, conta.

Noni lembra que eram outros tempos, com brincadeiras reais e sadias. “Não existia celular. E nem drogas”, diz.

Naquela época de criança, ele admite que já se destacava como jogador. Na típica escalação dos times, por exemplo, ele era o primeiro a ser escolhido. Quando não estava no campinho, Noni brincava na casa do ex-prefeito Paulo Gilberto Machado Ramos, na esquina dos Correios. Era uma residência exuberante, com seriemas e tartarugas andando livremente pelo quintal. Ramos foi dirigente da Esportiva Santacruzense.

 

Torcedor do São Paulo, Noni sempre teve paixão pela camisa tricolor da Esmeralda e da Santacruzense

 

O curioso é que Noni parece nunca ter saído daquele “quadrilátero”. Morava a duas quadras do antigo campinho e, hoje, ajuda a mulher na administração de uma padaria, três casas abaixo da antiga residência de “Betão” Ramos.

Quando estava na antiga escola “XX de Janeiro”, onde cursava técnico em contabilidade, Noni tinha planos de ingressar no Banco do Brasil. Neste período, o técnico da Esportiva, um ex-goleiro da Ferroviária, convenceu o santa-cruzense a fazer testes no time de Araraquara. Foi a única vez em que Noni quase virou jogador profissional.

“Fiquei um mês treinando na Ferroviária e eles gostaram do meu futebol. Mas comecei a ter saudades de Santa Cruz do Rio Pardo e neste momento veio o resultado do concurso que prestei para o Banco do Brasil. Fui aprovado”, lembra.

 

Nos tempos do Banco do Brasil de Santa Cruz do Rio Pardo

 

Talvez o amor por Santa Cruz tenha pesado mais. Afinal, ele retornou à cidade e ainda continuou nos gramados como ídolo dos times em que atuou. A possibilidade de se tornar profissional se perdeu nos campos de Araraquara.

O economista Miguel Moyses Abeche Neto, hoje residente em São José do Rio Preto, acompanhou a carreira de Noni quando morava em Santa Cruz do Rio Pardo.

“Ele era um craque, jogava o fino da bola. Eu o vi em campo muitas vezes e era um jogador fora de série. Eu ouso dizer que seu futebol era semelhante ao Zico, do Flamengo. Acho até que ambos eram quase iguais, mas é óbvio que o Zico se aprimorou com a estrutura que havia no time carioca”, afirmou.

 

Com o irmão ‘Miquim’, numa pose para fotografia

 

Abeche acabou confidenciando uma curiosidade sobre o concurso do Banco do Brasil que resultou na carreira de bancário do jogador.

“A gente era uma turma de amigos que gostava de viajar para bailes da região. Eu me lembro quando o Noni prestou o concurso em Ourinhos. Só que, naquela madrugada, nós estávamos num baile em Jacarezinho e, já de manhã, deixamos ele e o Cláudio Falco em Ourinhos, onde foi realizado o concurso. Os dois tinham bebido e a gente deu muita risada, achando que os dois não iriam passar”, lembrou Miguel Abeche.

Mas os dois passaram. Noni assumiu a carreira de bancário em 1973, numa época em que ser funcionário do Banco do Brasil era sinônimo de estabilidade e mordomias. “A gente tinha até 14º salário, um benefício que ninguém recebia naquela época”, disse.

 

Equipe de São Pedro do Turvo, pela qual Noni jogou campeonatos

 

Nos gramados de Santa Cruz, virou um dos símbolos da Esmeralda nos anos 1970, quando o campeonato amador da cidade lotava o estádio “Leônidas Camarinha”. Era tanta rivalidade que as torcidas — que levavam bandeiras e, no caso da Esmeralda, pó de arroz, um símbolo do time — eram separadas dentro do estádio para evitar confusão.

Com a camisa da Esmeralda, Noni foi tetracampeão amador de Santa Cruz — 1975, 1976, 1978 e 1979.

O atacante lembra que, em todos os campeonatos amadores, no final era escolhida a “seleção da cidade” para enfrentar amistosamente um time da divisão principal do Paulistão. Noni estava em campo quando a seleção de Santa Cruz empatou com o Botafogo de Ribeirão Preto. O gol da seleção foi marcado por Mariani “Padeiro”, enquanto o Botafogo empatou com Sócrates. Sim, aquele mesmo que depois virou ídolo no Corinthians.

 

Já ‘veterano’, Noni jogou no MAC de Santa Cruz, ao lado de amigos

 

Noni lembra que o usineiro Chicão Quagliato era o presidente da Esmeralda e responsável por “convocar” os jogadores para a concentração. Na verdade, era uma reunião semanal no antigo “Ringo Drink’s”, uma lanchonete que existia na frente do Grande Hotel. “Na verdade, a gente bebia muita cerveja”, lembra, rindo.

Um jogo marcante, segundo Noni, foi quando a Esmeralda foi convidada para fazer a preliminar de Palmeiras x Marília pelo campeonato paulista, em São Paulo. A partida inicial era para entregar as faixas ao “Maquinho” (Marília B), que havia sido campeão em sua divisão. Naquele time, jogavam Jorginho, que depois foi atleta da seleção, Marcos Rosin, ex-Santos, e outros.

“Mas nós carimbamos a faixa deles, vencendo por 2 a 1. Eu marquei um dos gols”, lembra. No final da partida, Chicão Quagliato levou o elenco para comemorar o feito numa pizzaria de São Paulo.

A época de ouro do campeonato amador de Santa Cruz acabou no final da década de 1970. Foi quando Noni vestiu a camisa da Associação Esportiva Santacruzense por três temporadas, de 1979 a 1981. “O time era formado exclusivamente por jogadores de Santa Cruz. E era muito bom”, lembra Noni.

Apesar da Esmeralda ser seu time de coração, Noni atuou por outras equipes, como São Pedro do Turvo, Usina São Luiz e Atlético do Náutico.

Ele também brilhou nas quadras, como atleta da AABB do Banco do Brasil, onde sagrou-se campeão estadual, vencendo na final a Francana por 1x0, gol de Noni. “O elenco da AABB era muito bom. O elenco base tinha Roberval (goleiro), Mingola e Miro Picinin, Noni e Abelardo. Ainda jogavam Pedrinho Catalano, Amilton, Joãozinho, Luiz Carlos, Carlinhos, Duda e Venanzoni”, conta, citando de cor os antigos companheiros da agência do Banco do Brasil de Santa Cruz.

 

A equipe da AABB de 1982, formada por funcionários da agência do Banco do Brasil de Santa Cruz do Rio Pardo

 

Ainda no futsal, Noni foi pentacampeão pela Esmeralda nos Jogos Santa-cruzenses.

Prestes a completar 70 anos, hoje Noni é mais Roberto Mauro Gomes. No entanto, ainda “bate uma bolinha” aos domingos nos campos do Cruzeiro e vila Oitenta. “O futebol nunca saiu de mim. Não tem jeito”, afirma.

 

* Colaborou Toko Degaspari

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