Publicado em: 10 de abril de 2021 às 01:59
André Fleury Moraes
Um espaço vazio, tétrico durante a noite e tedioso na maior parte dos dias. Desde que o antigo Museu da Estação “Ernesto Bertoldi” fechou as portas para reforma, há mais de quatro anos, todo o entorno daquilo que anos atrás chegou a ser um dos principais pontos de parada do transporte ferroviário ficou assim — sem nada.
A área ficava lotada uma vez por ano, quando da encenação da “Paixão de Cristo”, e nos dias comuns era palco para crianças e adolescentes que gostam futebol e outras atividades.
Esquecida até meados de 2010, a estrutura da antiga estação da Sorocabana se transformou num museu histórico durante a gestão da tucana Maura Macierinha, mas suas portas foram fechadas pela administração de Otacílio Parras (PSB) para reformas. Desde então, o prédio nunca mais foi reaberto.
Já especulava-se uma revitalização completa do local há anos, mas nada de concreto foi feito. No final de 2019, a prefeitura planejou mudar o ambiente da antiga estação e chegou a fazer uma licitação neste sentido. A empresa, no entanto, faliu — e um outro certame deverá se feito nos próximos meses.
Quisesse a prefeitura, porém, a cidade já teria em mãos um projeto para revitalizar absolutamente todos os espaços — e as obras, quem sabe, já estariam prontas. É que foi justamente este o tema do trabalho de conclusão de curso da arquiteta Ana Carolina Santos, apresentado em 2016 para a Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (Unesp) de Presidente Prudente.
Santa-cruzense e mestre no setor, ela afirma que o trabalho de transformação do espaço da Sorocabana não se trata apenas de uma questão urbana — mas também abrange um enorme papel social.
Cerca de um terço da população de Santa Cruz do Rio Pardo mora depois da ponte, nos arredores da Estação, e atrair mais munícipes para o local movimentaria também as relações humanas entre a sociedade de Santa Cruz.
O projeto da arquiteta surpreende porque foi pensado num momento em que nem se cogitava, ao menos por parte do poder público, uma revitalização completa da área. Além, claro, do fato de que foi inteiramente pensado por uma então estudante universitária.
O projeto de Ana, de qualquer maneira, foi parcialmente inviabilizado por causa da construção de uma creche cujas obras se arrastam há anos. A planta da arquiteta aproveitava toda a área ao redor do museu — inclusive, aliás, a casa do antigo Chefe da Estação, hoje prestes a ser demolido.
Embora tenha sido elaborada anos atrás, a proposta de Ana Carolina já levou em consideração o fato de que o antigo casarão está deteriorado e estruturalmente comprometido. Por isso, a sugestão foi justamente utilizar as ruínas do imóvel como um atrativo aos visitantes.
A planta, na verdade, é um verdadeiro parque de lazer para as famílias, fossem elas santa-cruzenses ou não. Hoje há uma pista de skate no local, coisa também prevista pela arquiteta — mas em forma de praça com obstáculos. Parte do solo seria coberto por um piso avermelhado e se misturaria com pistas de caminhada — estas cobertas com cimento.
Mas isso não significa o fim do verde no local. Pelo contrário: Ana selecionou até mesmo as árvores frutíferas que poderiam ser plantadas no recinto. Elas seriam alternadas com estruturas pequenas construídas especialmente para que os visitantes pudessem se sentar ao lado da família ou amigos.
Haveria também uma pista principal para se percorrer a enorme área do terreno. De acordo com a planta, o caminho escolhido é exatamente aquele por onde passou o trem durante muitos anos. Segundo Ana, a opção se deve ao fato de que também é necessário preservar a história.
A questão, aliás, é levada em consideração sob todas as perspectivas do projeto. Desde a casa do antigo Chefe da Estação até o posicionamento de cada espaço previsto para a revitalização do local.
Como se trata de um terrno alto, com uma ladeira íngrime ao fundo, a vista de quem olha de cima é no mínimo gratificante — vê-se grande parte de Santa Cruz do Rio Pardo. E a arquiteta diz que este “skyline”, como é chamada a vista — não pode ser perdido.
Para tanto, ela sugeriu que fossem implementadas diretrizes para as construções à frente do terreno da antiga Estação. A proibição de construções com mais de dois andares, por exemplo, é uma delas.
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