O economista, músico, poeta e militante político Edjalma Dias
Publicado em: 14 de agosto de 2021 às 03:13
Atualizado em: 14 de agosto de 2021 às 05:18
Sérgio Fleury Moraes
O santa-cruzense Edjalma Dias morreu no início da tarde de sexta-feira, 13, em Paraty, cidade localizada no litoral do Rio de Janeiro. Ele tinha retornado ao histórico município depois de residir em Embu e Trindade, um distrito de Paraty. Por uma triste coincidência, há exatos quatro anos, neste mesmo dia, Edjalma perdeu o filho mais novo, Uirá, que está sepultado na mesma cidade do litoral carioca.
Segundo as informações obtidas até o fechamento desta edição, Edjalma Dias sofreu um infarto fulminante e não resistiu ao socorro. Há algumas semanas, “Dija”, como era conhecido, já havia sofrido algum tipo de problema cardíaco, mas se recuperou.
Por uma triste coincidência, Edjalma morreu no mesmo dia em que, há exatos quatro anos, faleceu seu filho mais velho, Uirá. Em seu perfil no Facebook, horas antes do ataque cardíaco, ele fez uma postagem dizendo que tinha “muita saudade” do filho.
Economista, ele foi um militante político desde a juventude universitária, pregando a redemocratização do País e o fim da ditadura militar. Edjalma morava em São Paulo quando passou a ser perseguido pelos órgãos de repressão, acusado de pertencer a organizações clandestinas, como o PC do B (Partido Comunista do Brasil).
Na iminência de ser preso, o santa-cruzense foi alertado do perigo pelo arcebispo de São Paulo, o cardeal d. Paulo Evaristo Arns, conhecido por sua luta contra a barbárie do regime militar e defensor de presos políticos. Edjalma, então, voltou para Santa Cruz do Rio Pardo, onde moravam seus pais Juvenal Gouveia Dias e Maria Silvia.
Não adiantou. Foi preso na cidade no dia 10 de fevereiro de 1972, após supostamente ter feito um discurso contra a ditadura no antigo bar “Ringo Drink’”, na rua Marechal Bitencourt.
Levado para São Paulo, foi duramente torturado nos porões do Deops — Departamento de Ordem Política e Social. Ele só escapou da morte porque o pai pediu ajuda ao então governador de São Paulo, Roberto Costa de Abreu Sodré, cujo pai foi o segundo prefeito da história de Santa Cruz do Rio Pardo e a família, proprietária de terras no município durante muitos anos. Políticos da cidade ligados a Sodré também apelaram ao governador.
Edjalma foi colocado em liberdade e continuou militando contra a ditadura, embora mais discretamente.
Ele permaneceu muitos anos sem falar sobre a prisão, que o entristecia. Até que, na década de 1990, o economista resolveu contar tudo em entrevista ao jornal.
O episódio causou a “Dija” uma intensa perturbação psicológica porque, segundo ele, os grupos de combate à ditadura liberaram aqueles que fossem presos para dar nomes de colegas que estavam refugiados no Chile. Era uma forma para evitar as torturas violentas que levaram dezenas de militantes à morte. Muitos estão desaparecidos até hoje.
Como o Chile era governador pelo socialista Salvador Allende, não havia meios do regime militar brasileiro prender brasileiros naquele país. Entretanto, em setembro de 1973 um golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet derrubou Allende e impôs uma sanguinária ditadura no Chile, que era aliada do regime militar brasileiro.
Edjalma, então, ficou desesperado, imaginando que muitos brasileiros poderiam ter sido capturados. Alguns, inclusive, citados por presos políticos, conforme norma das organizações clandestinas de esquerda. Demorou muitos anos até que ele e outros presos políticos superassem o trauma.
Nos anos 1980, já formado, Edjalma voltou para a cidade e montou, em sociedade com Mário Nelli e Plínio Rigon, a “Casa da Fazenda”, um estabelecimento noturno que ficava na rua Joaquim Manoel de Andrade. Com música ao vivo, o local comandado por artistas virou uma das principais atrações de Santa Cruz.
Foi na calçada em frente à “Casa da Fazenda” que surgiu a “Calçada da Fama”, depois transferida para a frente do atual “Palácio da Cultura Umberto Magnani Netto”, onde existe até hoje. Quando o estabelecimento fechou, “Dija” deixou a cidade e voltou para São Paulo.
No final dos anos 1990, Edjalma estava de volta — e virou radialista da antiga “Morena FM”. Algum tempo depois, passou a ser um crítico do governo de Adilson Mira e escreveu uma coluna no DEBATE durante anos. Na rádio, foi proibido de criticar o então prefeito e tomou uma atitude inusitada: Edjalma se demitiu no ar, ao vivo, denunciando a censura da emissora.
“Dija” trabalhou algum tempo na Santa Casa de Misericórdia, onde foi assessor da diretoria na gestão de Mércio de Souza. O Poder Público, entretanto, nunca o aproveitou para alguns cargos. Idealista, não se conformava com a pobreza e a opressão. Pregava, por exemplo, o plantio de árvores frutíferas em praças e até ruas, dependendo da espécie, para saciar a fome de moradores.
O economista ainda morou em Embu das Artes e Trindade, antes de seguir para Paraty, no Rio de Janeiro, onde perdeu o filho mais velho há quatro anos. Em Trindade, uma vila de Paraty, Edjalma Dias teve uma identificação muito forte nos anos 1970 com os chamados “caiçaras”, pescadores cujas terras eram cobiçadas por empresas multinacionais ou ligadas ao turismo. A pressão pela venda foi imensa.
“Dija” liderou um movimento para que os pescadores não vendessem suas terras e foi um dos líderes da vila.
Na década de 1970, ainda em São Paulo, conheceu o fotógrafo Celso Oliveira Silva — que mora hoje em Fortaleza. “Dija foi um exemplo para todos nós. Fez parte de minha formação político-intelectual”, contou Celso à reportagem.
Nos últimos anos, voltou a morar em Paraty, onde, em parceria com amigos, transformou sua poesia em música. Estava feliz e cantava em bares e casas noturnas. Na sexta-feira, um infarto retirou Edjalma Dias de cena.
O economista foi casado três vezes e teve quatro filhos. Além de Uirá, falecido há quatro anos, ele deixou Uruã, Iara e Yuri. Os nomes dos filhos, todos sugeridos por Edjalma, deve-se às ligações do santa-cruzense com a questão indígena. Ele foi sepultado neste sábado em Paraty, no túmulo do filho mais velho.
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