Publicado em: 02 de julho de 2022 às 03:49
Sérgio Fleury Moraes
O maestro Iramis Trevisan morreu na noite de sexta-feira, 24, na Santa Casa de Misericórdia. Ele tinha 90 anos, completados em fevereiro último, quando concedeu sua última entrevista ao DEBATE. Forjado músico pelas mãos do maestro José Amorim Ribeiro, da lendária “Banda do Zequinha”, Iramis participou ativamente da corporação musical, lutou contra a sua extinção e sempre manteve a esperança de ver um grupo musical no coreto da principal praça de Santa Cruz do Rio Pardo.
Apesar da idade, Iramis tinha uma saúde razoável, com todos os problemas típicos de um idoso. Caminhava, fazia suas orações e, de vez em quando, ainda arriscava alguns acordes em seu saxofone. Até os 80 anos, praticava exercícios numa academia.
Há algum tempo, ele enfrentou — e venceu — a covid-19, mas as sequelas da doença o deixaram mais frágil. Segundo o filho Ronaldo, seu pai praticamente não teve sintomas da doença porque foi vacinado. O comprometimento do pulmão, por exemplo, foi pequeno.
“Acho que devemos somar todos os problemas que ele teve, além da idade avançada. Foi fumante durante a vida toda, era paciente renal crônico e passou por duas cirurgias cardíacas. No entanto, a oxigenação caiu e resolvemos interná-lo por precaução”, contou. Por conta da contaminação recente, o paciente entrou no protocolo da covid-19.
Na Santa Casa, onde permaneceu quatro dias, Iramis inicialmente respondeu bem ao tratamento e caminhava pelo quarto. Na sexta-feira, 24, ele sofreu uma queda de pressão que logo foi estabilizada pelo médico. O maestro se recuperou, fez suas refeições normalmente e, à noite, ainda assistiu a novela. “Em seguida, fez suas orações, deu boa noite a todos e fechou os olhos, se entregando de forma muito serena”, contou Ronaldo.
A transição pacífica para a morte, na verdade, deve ter sido uma bênção divina para Iramis. Afinal, o ex-agricultor que se tornou alfaiate em Santa Cruz foi um dos mais ardorosos defensores da cultura na cidade. Foi graças a ele, que estudou somente até a quarta série do antigo curso primário, que a banda municipal ganhou uma sobrevida no município.
Iramis foi aluno do maestro “Zequinha”, que criou a “Furiosa” — como era conhecida a corporação musical da cidade — nos anos de 1920 e comandou o grupo até a década de 1950. O menino Trevisan, nascido no bairro da Figueira no distrito de Sodrélia, aprendeu os primeiros acordes com Zequinha e a música passou definitivamente a fazer parte de sua vida.
“A música me formou cidadão”, costumava dizer. Também gostava de afirmar que aquele que se dedica à música “não tem tempo para pensar em drogas”.
Mas a vida da família no campo prejudicava sua proximidade com a banda. Em 1985, quando se mudou para a cidade, Iramis pôde dedicar a maior parte de seu tempo à corporação, na época dirigida pelo maestro Silvio de Paula, igualmente idealista que formou uma geração de músicos.
Com a morte de Silvio, Iramis assumiu o comando da banda municipal, tendo o apoio do músico e advogado Pedro Lamoso, outro que aprendeu a tocar instrumentos na época do saudoso maestro Zequinha. O grupo de músicos recebia uma “ajuda de custo” da prefeitura para se apresentar em eventos oficiais e, nos finais de semana, na praça Leônidas Camarinha.
Ao mesmo tempo, Iramis criou as bandas das escolas “Durvalina Teixeira da Fonseca” e “Zilda Comegno Monti”, além do grupo da extinta escola de Sodrélia. Muitas vezes, ensaiava os músicos na garagem de sua própria residência.
Ele também foi um dos fundadores do conjunto musical “Sul-Americano”, que animava carnavais e bailes em Santa Cruz e região. O grupo era praticamente o mesmo da banda municipal.
No início dos anos 2000, o maestro teve uma grande decepção. Estava ensaiando os músicos da banda numa sala do antigo “Colégio Companhia de Maria” quando entrou o então prefeito Adilson Mira. “Ele avisou que a banda tinha acabado”, contou em entrevista ao jornal no início deste ano. A revolta de Iramis aconteceu pela forma com que Mira tratou os componentes da banda, argumentando que o grupo “dava prejuízo” para os cofres públicos.
Iramis Trevisan ainda tentou convencer outros prefeitos a retomar a banda municipal, mas não conseguiu. Seu nome, contudo, ficou na história como um dos grandes incentivadores da música e das tradições de Santa Cruz do Rio Pardo.
O maestro era filho de Albino Trevisan, um católico benemérito que também fez história em Santa Cruz e fundou uma gruta às margens da rodovia SP-225 que é visitada por fiéis de Nossa Senhora das Graças.
Viúvo de Maria Joana Trevisan, Iramis deixou os filhos Ronaldo e Rosana. Ele foi sepultado no sábado, 25, no Cemitério da Saudade em Santa Cruz do Rio Pardo.
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