SOCIEDADE

O bem-amado

Coluna de Luiz Antonio Sampaio Gouveia

O bem-amado

Publicado em: 25 de setembro de 2021 às 02:29
Atualizado em: 25 de setembro de 2021 às 03:33

Trata-se de uma das mais importantes novelas da TV Globo, ao ar, no ano de 1973, lá se vão cinquenta anos e seu principal personagem, foi Odorico Paraguaçu, em excepcional atuação de Paulo Gracindo. Gracindo representava Odorico Paraguaçu, o prefeito folclórico de Sucupira, uma cidade da Bahia coronelista, que pode ser qualquer cidade brasileira, em sua cômica vida política.

Odorico queria um defunto a poder inaugurar o cemitério de Sucupira e ele torcia para que seus munícipes morressem para que ele pudesse inaugurar e povoar a necrópole local, o cemitério, que era sua obsessão de poder. Além disso, Odorico discursou na abertura da sessão anual da Organização das Nações Unidas, em que nosso Presidente também discursou recentemente.

Longe de mim qualquer comparação de Sua Excelência, o nosso Presidente, com Odorico Paraguaçu. Seria ela descabida. Mas Odorico se fazia sempre acompanhado por três senhoras, sexagenárias ou já septuagenárias, que eram chamadas as Irmãs Cajazeiras. Todas elas apaixonadas pelo Odorico e cegamente suas admiradoras a ponto de verem tudo certo no todo errado dele e em todos os seus absurdos.

Contudo deles não posso dizer que as Cajazeiras tivessem qualquer relação com a comitiva de Bolsonaro, à ONU. Porque elas nunca comeram pizzas na mão, nas calçadas de Nova York, como o séquito de nosso Messias comeu e se deixou fotografar comicamente comendo na rua. O que a Babilônia moderna, que é a nossa Nova York, nunca vira antes fora um Presidente da República comendo na rua e com a mão. O fato, entretanto, é que já septuagenário, vejo algumas amigas da mesma idade, que eu, aparentemente apaixonadas pelos olhos verdes do Capitão (tenente em verdade) e fulas da vida a qualquer comentário que julguem contrários ao Presidente e aí penso que Dias Gomes ao construir as solteironas Cajazeiras, tenha imaginado alguma patologia pós menopausa de certas mulheres, em face de seus ídolos mitológicos.

Além disso, no discurso de Sua Excelência, o nosso combatente de Eldorado Paulista, a antiga Xiririca, para onde, na República Velha, iam transferidos os delegados de polícia, que ousavam desafiar os nossos coronéis, deve ter deixado constrangidos os governantes das monarquias socialistas da Suécia, da Dinamarca e da Noruega e ainda aqueles do partido socialista português, de Mário Soares, ou do Espanhol, de Felipe Gonzales, ou de Willy Brandt, da antiga Alemanha Ocidental. Baluartes aliás contrariamente à ditadura comunista da então União Soviética, quando afirmou que ele, Bolsonaro, livrara o Brasil do socialismo.

Maior susto, devem ter levado os diplomatas da ONU, quando se disse nesse discurso, de formatura em grupo escolar, que nosso Banco de Desenvolvimento financiara países comunistas, que não nos pagaram por este financiamento, por que todos devem ter ficado indagando, senhor Presidente por que não os cobra? A ver que no mundo todos os bancos financiam de tudo, dos comunistas aos fascistas porque dinheiro não tem ideologia, todos ficaram sem entender a razão do Presidente não se conformar com financiamentos a Cuba. Fico então a pensar como Sua Excelência é provinciano!

Hoje li que o Presidente declarou a organização de direita alemã, que, no Brasil, os que morreram de covid, tinham comorbidades. Somente, por isto, morreram. Aí vejo certa semelhança entre a fantasia de Dias Gomes e nossa realidade. Os que morreram de covid, por aqui, morreram por que tinham de morrer. Nessa, entretanto, Odorico saiu se melhor. Porque os mortos dele, eram para inaugurar o seu cemitério. As mortes de Sucupira tinham razão de ser e em que pesem absurdas, deveriam morrer para inaugurar o cemitério de lá. As nossas, para o nosso Presidente, elas morreram mesmo porque tinham mesmo de morrer. Que triste!

SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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