O pastor Ranieri Costa durante gravação de culto virtual
Publicado em: 20 de março de 2021 às 21:25
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 14:19
André Fleury Moraes
Em 2020, Ranieri Costa fez as malas e se mudou de sua casa, em Piratininga, para São Carlos. Pastor, concluiu os estudos em teologia há pouco mais de dois anos. Hoje é mestrando em mídia, linguagens e artes pela PUC de Campinas. Mas nunca abandonou a Palavra com P maiúsculo.
Muito ligado à comunidade, diz que ouviu o chamado de Deus quando auxiliava nos trabalhos de uma igreja em Piratininga. O ano era 2012 e ele cursava Jornalismo na USC de Bauru. Abandonou para ingressar o seminário. Foi quando se aprofundou nos escritos sagrados.
Casado, é marido de Fernanda Frizzi e pai de Anelise. A família toda acompanhou a ida para São Carlos, e hoje Ranieri é pastor auxiliar e teólogo da Vineyard – igreja cujas raízes estão nos Estados Unidos. No Brasil, as primeiras Vineyard surgiram justamente em Bauru e Piratininga. Ranieri decidiu expandir a palavra.
A mudança, no entanto, coincidiu com a chegada da pandemia ao Brasil. Como a recomendação é para que não se promovam aglomerações, não é difícil reconhecer que os cultos e missas foram afetados.
Ranieri, no entanto, não enxerga exatamente assim. “Os cultos não foram afetados. O que mudou foi a tradição dos cultos – que sempre foram feitos presencialmente. A pandemia afastou as pessoas umas das outras, mas não da igreja”, disse ao DEBATE na quinta-feira, 18.
No começo, quando o Brasil ainda não vivia a situação mais crítica da pandemia, reuniões religiosas ainda eram feitas com protocolos de higiene e segurança. Mas o cenário se agravou – segundo dados deste sábado, 20, o País já superou 290 mil mortes.
Ciente dos riscos desde a chegada do vírus, Ranieri leva a palavra aos fiéis através de uma câmera desde março do ano passado. “Estamos todos cansados, mas não há alternativa”, admite.
Em novembro, quando a situação era considerada estável, chegou a tentar retomar os cultos presenciais. “Tivemos quatro ou cinco reuniões, mas os idosos não podiam estar presentes, as crianças também não. Eram poucas as pessoas que compareciam, todas de máscara. Mas não podíamos nos abraçar, não era possível enxergar o sorriso dos irmãos e irmãs, não ouvíamos suas vozes durante o período de louvor. Foi uma experiência difícil de descrever”, escreveu numa publicação que intitulou “Desabafo de um pastor”.
Ele reconhece que há pressão de lideranças católicas e evangélicas para que igrejas e templos sejam reabertos e as reuniões presenciais voltem a acontecer. Salienta, no entanto, que as Escrituras dizem que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”.
Em São Carlos, Ranieri já viu igrejas fazendo três ou quatro reuniões por dia ante a limitação no número de pessoas – com intervalo de 20 minutos entre uma e outra. “Qual é a possibilidade de ser feita uma higienização segura neste meio tempo?”, indaga. “Não faz o menor sentido. A pandemia mostrou que não há aglomeração segura”, prossegue.
Principalmente porque a igreja é um ambiente de contato relacionamento entre as pessoas, afirma. “A igreja é essencial no serviço à comunidade, mas o templo aberto não é”, garante.
Já foi questionado sobre o motivo pelo qual bares podem abrir, mas não as igrejas. “O bar não tem um compromisso social. Nós, pastores, sim. Temos um papel de servir e de levar o bem. O bar visa o lucro. E este não é o nosso objetivo”, costuma responder.
Com apenas 30 anos, Ranieri também não se esquiva da autocrítica. Ele admite que cada vez menos jovens buscam a religião. Para ele, as igrejas falharam ao não se preparar para os novos hábitos daqueles que nasceram depois da década de 1990.
Mas reconhece que também este é seu papel. “Precisamos responder às novas demandas. Os jovens hoje são cheios de perguntas. A igreja tem que ser também um ambiente de perguntas e respostas para a juventude”, explica.
Para ele, a pandemia pode ter sido o início desta mudança. “As pessoas se aproximaram da fé e da espiritualidade. Acredito que muita gente vai voltar a estabelecer vínculos com alguma igreja daqui para frente”, conta.
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