SOCIEDADE

Santa-cruzense coleciona moedas e cédulas antigas ou de outros países

Entre as raridades, há uma moeda nazista cunhada em plena Guerra Mundial

Santa-cruzense coleciona moedas e cédulas antigas ou de outros países

Haroldo de Andrade observa com lupa moedas de vários países e períodos através de uma mesa de vidro

Publicado em: 16 de outubro de 2021 às 04:29

Sérgio Fleury Moraes

O comerciante Haroldo de Andrade, 57, não apenas ganha dinheiro no comando da “Casa Andrade” como também costuma “comprá-los” de vez em quando. É que o santa-cruzense coleciona dinheiro, uma atividade cultural em que Haroldo seria considerado um “numismata”. Porém, ele diz que sua coleção ainda é pequena e que, depois de relegar as cédulas e moedas ao esquecimento durante alguns anos, voltou a se interessar pelo hobby.

Casado e pai de três filhos, ele sempre foi um entusiasta da história dos países e, inclusive, visitou alguns símbolos mundiais que foram perpetuados pela humanidade — como o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, o maior símbolo do holocausto nazista da Segunda Guerra Mundial.

Colecionador voraz de fascículos de história, por acaso em 1980 ele se deparou com uma coleção de moedas do mundo todo. “Achei bacana e resolvi comprar. Curiosamente, a coleção completa destes fascículos hoje é muito rara. Eu nunca encadernei e guardei tudo em caixotes”, lembrou.

Anos mais tarde, já casado, um parente do pai ofereceu ao comerciante uma pequena coleção de moedas. “Isto já faz uns 15 anos. Creio que ele precisava de dinheiro, mas eu fiquei impressionado com o aspecto das cédulas, praticamente novas e sem nenhum vínculo. Acabei comprando e também guardei”, contou.

Há algum tempo, limpando as caixas antigas, deparou-se com a antiga coleção. “Isto acabou despertando minha vontade de organizar todas as cédulas e moedas por países e períodos”, disse. Hoje, tudo está organizado em pastas de plástico e porta moedas próprios para colecionadores.

Detalhes das moedas e cédulas são ampliados através de lupa

Na verdade, Haroldo de Andrade é um tradicional associado do Rotary Club de Santa Cruz do Rio Pardo e seus contatos com intercambistas de outros países facilitou a coleção. “Eu sempre ganho dinheiro de outros países”, contou.

Com o tempo, amigos também ficaram sabendo de seu interesse e começaram a trazer moedas durante viagens internacionais.

O resultado é uma coleção respeitável, separada entre moedas brasileiras e estrangeiras, novas ou antigas. O impressionante é que algumas cédulas brasileiras dos anos 1940 ou 1950 são impecáveis, como se fossem fabricadas ontem.

Por conta disso, ele evita expor notas ou moedas em sua loja, como desejaria, pois o sol e a umidade prejudicam a conservação. “O valor de uma cédula para colecionador depende muito de seu estado”, explicou. “Quanto mais intacta, mais alto é o seu valor”, diz.

Haroldo ressalta que há notas antigas que valem até R$ 20 mil — ou muito mais. Mas ele conta que o mercado de moedas antigas é muito disputado e com preços que fogem à lógica. Assim, a mesma cédula pode valer de R$ 100 a R$ 5 mil, dependendo do vendedor e, é claro, da disposição do comprador. “Eu não faço loucuras”, diz.

Claro que a coleção também reacendeu o interesse de Haroldo pela cultura de vários países. Ele descobriu, por exemplo, que existem países que nunca ouviu falar — como a Transnístria, uma pequena nação do Leste Europeu que surgiu do desmantelamento do bloco da antiga União Soviética.

Haroldo de Andrade mostra exemplares de cédulas de países exóticos ou até desconhecidos

O rublo da Transnístria, porém, possui um design moderno e limpo. “Fica praticamente dentro da Moldávia, onde uma etnia quis ser independente. É mais ou menos como o Vaticano dentro da Itália”.

Outras moedas são de países que já não existem mais, como a Checoslováquia, que se dividiu e deu origem à República Tcheca e Eslováquia. Por acaso, Haroldo já visitou as duas nações e tem, inclusive, cédulas da “mãe” dos dois países que surgiram em 1993.

Nestes casos, Haroldo se orgulha de ser uma espécie de “professor” para algumas pessoas que têm a oportunidade de conhecer a coleção de numismática. “Muitos ficam impressionados porque não sabiam que alguns países já não existem mais. Aí eu aproveito e falo sobre eles”, lembrou o comerciante.

Entre centenas de cédulas e moedas de todos os formatos e cores, estão países como Madagascar, Nepal, Egito, Arábia Saudita, Moçambique, Coréia do Norte — com a estampa de seu ditador —, México, África do Sul, Sérvia e muitos outros.

Uma das moedas curiosas é o exemplar de uma “reichsmark” alemã cunhada em 1944, em plena Segunda Guerra Mundial. Embora pequena, é possível perceber com uma lupa o ano de fabricação e a águia sobre a suástica nazista, o símbolo do partido de Adolf Hitler.

As cédulas e moedas brasileiras também chamam a atenção e contam parte da história econômica do País. “Nós já tivemos nove mudanças monetárias, sendo sete do nome”, contou Haroldo. Começou com o “réis” do tempo do Império, que era a moda herdada de Portugal e, na verdade, chamava-se Real. Na cultura popular virou “réis” e foi a moeda com maior longevidade na história do Brasil, durando de 1500 até 1942, quando foi substituída pelo Cruzeiro por Getúlio Vargas.

O interessante é que o Real antigo tinha algumas denominações especiais, como “vintém”, “tostão”, “pataca” ou “conto”. É por isso que surgiram expressões como “meia pataca” ou “conto de réis”.

A coleção mostra as mudanças monetárias ao longo de décadas, com nosso dinheiro sendo chamado de Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzado, Cruzado Novo e finalmente Real.

Mas as cédulas ao longo dos anos também exibem a fúria da inflação brasileira durante anos. Uma única nota, por exemplo, tem o valor estampado de mil cruzados, mas foi “carimbada” posteriormente para valer apenas um cruzado. “Aliás, uma cédula com carimbo tem um preço inferior, já que não é mais a original”, contou.

O dinheiro brasileiro antigo também estampava o busto de personalidades brasileiras ilustres, como Getúlio Vargas, Tiradentes, Rui Barbosa, Dom Pedro, Duque de Caxias, Barão do Rio Branco, Marechal Deodoro, Princesa Isabel e outros.

Uma delas, embora ainda recente na história, é uma das preferidas do colecionador: a nota de R$ 10 de plástico. A cédula durou poucos anos e acabou sendo recolhida pelo Banco Central. Surpreendentemente, em sua loja o comerciante possui algumas moedas de R$ 0,01 que já não circulam, embora tenham validade.

Haroldo tem até cédulas atuais, mas neste caso a coleção obviamente vai até a nota de R$ 50 — que, por sinal é falsa. “É que, no dia a dia, luto para colecionar notas de R$ 200, muito raras hoje”, brinca.

SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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