India NI e Shulica, a cachorrinha de Santa Cruz do Rio Pardo que frequenta um bar todos os dias e é amada pelos clientes
Publicado em: 13 de outubro de 2023 às 16:10
Sérgio Fleury Moraes
Imagine altas horas da noite, sem deixar o bar, e a “mãe” preocupada, esperando. Pois esta é a rotina atual de “Shulica”, uma cadelinha que já passou por todo tipo de situação e, inclusive, viveu algum tempo nas ruas. Sua história começou a ficar agitada quando sua primeira dona foi presa. A casa foi ocupada por novos inquilinos que resolveram expulsar Shulica e mais sete cachorros. A cadela, então, passou a viver nas ruas de Santa Cruz do Rio Pardo.
A antiga dona costumava levar Shulica à “Índia Ni Banho e Tosa”, na ladeira São Domingos. A proprietária, Índia Ni Cunha Gonçalves dos Santos, 38, ficou preocupada com a ausência da cadelinha e resolver verificar o que tinha acontecido. Descobriu que a dona fora presa e que Shulica agora vivia nas ruas.
“Eu fiquei comovida e não podia abandoná-la”, disse Índia, que passou a procurar por Shulica dia e noite, até encontrá-la. Índia NI, então, adotou a cachorrinha até que a verdadeira dona cumprisse a pena na prisão.
E lá se vão quatro anos. Neste tempo, Índia percebia que a cadela desaparecia por horas no período da tarde, só retornando à noite. “A gente abria o portão para tirar o carro e ela saía correndo. No começo, a gente não sabia qual era o destino”, contou.
A descoberta foi uma surpresa. Na verdade, Shulica passou a frequentar o atual “Bar do Rubinho”, a uma quadra do estabelecimento de banho e tosa animal. “Meu marido é pastor e eu, missionária. Então, nunca precisamos buscar um ao outro num bar. Mas agora temos uma cachorra que vai ao bar todos os dias”, contou.
O bar é o sucessor do antigo “Bar do Tião Rodela”, com uma tradicional história em Santa Cruz do Rio Pardo. É um espaço procurado por grupos de amigos que fazem churrasco quase todos os dias. Às vezes, há jantares feitos pelos próprios clientes, que “assumem” a cozinha do estabelecimento. O bar tem uma característica: é o próprio cliente quem “marca” o que consome para prestar contas ao dono.
Shulica, claro, só bebe água, mas não dispensa um bom churrasco. Hoje, Índia Ni sabe a hora em que a cachorrinha já está impaciente para ir ao bar. “Tem dias que ela começa a arranhar o portão de casa”, conta Índia. Ela faz questão de levá-la até o portão, uma vez que a rua é movimentada, e acompanhar a silhueta correndo em direção ao bar, com o rabo abanando.
Na porta do “Bar do Rubinho”, o proprietário recebe a cadela com os braços abertos. É uma festa. Shulica está no lugar que adora.
Quando a noite cai e os clientes começam a chegar, todos cumprimentam Shulica. Quando as primeiras porções do churrasco começam a deixar os espetos, a cadela ganha pedaços de todos.
A rotina, embora estranha, se repete todos os dias. Índia abre o portão entre 14h e 15h, quando Shulica vai ao bar. À noite, quando voltam do culto, Índia e o marido passam no “Bar do Rubinho” para buscar a cachorra. E nem sempre ela quer ir embora.
“Teve uma noite que ela dormiu aqui dentro. Ninguém percebeu e eu fechei o bar. Só no dia seguinte descobri que a Shulica passou a noite no estabelecimento”, conta Rubens Gomes da Silva, o dono do “Bar do Rubinho”. Ele comanda o comércio há 10 anos, como o sucessor de “Tião Rodela”, que foi o proprietário durante 40 anos.
Rubinho também se considera o “terceiro” dono de Shulica. “Ela me adora e vice-versa. Acho que é a única cachorrinha com três donos. Quando é hora de ir embora, ela fica tristonha”, conta o comerciante.
A primeira dona de Shulica cumpriu sua pena e divide a cadelinha com Índia Ni. “Quando ela tem saudade, vem buscá-la. O problema é que ela ainda não se estruturou, como ter uma casa”, explicou Ni.
A proprietária do estabelecimento de banho e tosa é bem conhecida em Santa Cruz e já apareceu em reportagens do DEBATE e em programas de televisão. Foi quando ela tinha duas porquinhas de estimação, que levava para passear pelas ruas levadas por uma coleira.
Mas Índia adora todo e qualquer animal desde criança. “Já tive uma jiboia, mas depois resolvemos encaminhá-la às autoridades do Meio Ambiente”, contou. Como mora perto do ribeirão São Domingos, Índia também alimenta Saruês — uma espécie de gambá.
Seu último animal de estimação pitoresco foi um escorpião, que escondeu no quintal da casa porque o marido não queria. “Ele acabou achando o escorpião e o matou”, conta Índia.
* Colaborou Toko Degaspari
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