Publicado em: 26 de dezembro de 2022 às 19:15
Sérgio Fleury Moraes
Montar seu presépio todo final de ano virou rotina para o professor de música Paulo Batista de Oliveira. No quintal de sua casa, na rua José Rosso, na vila Saul, no final de novembro já surge o presépio de Paulo, segundo ele simples como foi o nascimento de Jesus Cristo. Todos os anos, o adorno cristão também é acompanhado pela reportagem do jornal.
A história do presépio é curiosa. Há muitos anos, a Igreja Matriz de São Sebastião montava um presépio em sua lateral, ao lado da avenida Tiradentes, no Natal. Ela enorme e recebia muitos visitantes.
Porém, durante uma madrugada, vândalos atacaram o presépio e o incendiaram. Foi notícia na imprensa de toda a região e a população ficou revoltada. Os frades dominicanos resolveram interromper a construção do presépio.
Paulo Batista ficou desolado e, ao mesmo tempo, furioso com o ato de vandalismo. “Se não tem mais presépio na igreja, resolvi montar em minha casa”, contou.
No começo foi difícil, pois o músico precisou adquirir uma certa prática. Além disso, foi descobrindo onde buscar material, como o sapé para cobrir o estábulo — colhido numa propriedade rural em Bernardino de Campos.
Alguns anos mais tarde, o professor estava desanimado e resolveu não montar o presépio. A vinte dias do Natal, porém, alguma coisa o incomodou. Durante a noite, acordou assustado como se ouvisse vozes chamando.
Era uma espécie de mensagem, imaginou. Horas depois, lá estava Paulo Batista construindo o seu presépio. E não parou mais em nenhum ano. “Agora nem penso em desistir. Na verdade, não posso”, diz.
Mas há uma característica que difere o presépio do professor de outras residências muito mais iluminadas e festivas. “Meu presépio deve ser simples, como foi o nascimento de Jesus Cristo”, afirma.
Alguns amigos tentaram presentear o professor com Papais-noéis iluminados e sonoros. “Já aviso que não quero. Mas alguns compreendem e fiquei muito feliz quando um amigo disse que meu presépio é o verdadeiro espírito de Natal”.
Paulo também tem uma vida simples. Amante da música, ele se formou em violão, viola caipira e acordeom no Conservatório Musical Osvaldo Lacerda, de Santa Cruz do Rio Pardo. Hoje, ele ensina viola caipira e violão no “Centro Cultural Special Dog”.
“O acordeom caiu muito, mas a viola caipira estourou. Eu sempre gostei, mas nunca imaginei que fosse virar moda a partir da novela em que o Sérgio Reis participou”, contou.
Viola caipira é o instrumento usado pelas duplas sertanejas “raiz”, das chamadas “modas de viola”. Segundo Paulo, quem inventou a viola caipira merece o respeito de qualquer músico. “É muito bonita e tem um som completamente diferente”, explicou.
O professor insistiu em viver da música, ensinando alunos de toda a região. “Formei uma turma muito boa”, diz, orgulhoso. “A partir daí, percebi que podia sobreviver fazendo aquilo que gosto”, afirmou.
Religioso, ele tocou durante 15 anos na paróquia de São Benedito. “Era maravilhoso, mas a gente cansa”, admitiu.
O que não cansa Paulo Batista é o compromisso de montar o presépio todos os natais. E sempre com algumas novidades. Neste ano, por exemplo, ele enfeitou o telhado de sapé com fios imitando vegetação. “Ganhei no Centro Cultural”.
O professor não fica no quintal todas as noites, mas já avisa os interessados. “Podem entrar à vontade. Não tem cachorro e todos são bem-vindos”, garante.
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