Asilo tem quatro jazigos no cemitério de Santa Cruz e “Neu” Batista conseguiu reformar o maior deles
Publicado em: 02 de setembro de 2023 às 00:55
Sérgio Fleury Moraes
O aposentado Samuel Sirineu Batista de Oliveira, conhecido como “Neu”, já é conhecido por abraçar causas sociais. Ele é uma espécie de protetor de pássaros e outros animais da praça São Sebastião, entre outras ações. Agora, “Neu” acaba de reformar um dos quatro jazigos do Lar São Vicente de Paulo, onde estão sepultadas pessoas que morreram no asilo, especialmente aquelas abandonadas pelas famílias.
O desafio surgiu, diz, porque ele se admite “cemitereiro”, como ele chama pessoas que gostam de visitar o cemitério. “Eu gosto muito de passear por aqui, rezar e lembrar a história das pessoas, inclusive daquelas que têm fotos nos túmulos. É um ótimo local para meditar. Foi aí que eu descobri que os jazigos do Lar São Vicente de Paula estavam abandonados.
“Neu” Batista avaliou que o asilo é um local em que todo mundo está sujeito a morar no futuro. “Ninguém sabe o que pode acontecer. Os pais cuidam de todos os seus filhos, mas o contrário muitas vezes não se confirma em muitas famílias”, disse.
O aposentado ressalta que o problema não está no fato de o idoso ser abrigado no asilo. “O drama é ele ficar abandonado, sem visita de ninguém da família”, disse.
Segundo informações que o aposentado recebeu, são três os jazigos do asilo com “gavetas” — o maior tem mais de 20 — e um apenas como ossuário. Nestes locais estão sepultados dezenas de idosos que morreram na instituição e que não recebiam visitas de familiares há muitos anos.
“Tem gente que garante que nestes túmulos estão enterrados até antigos diretores do asilo”, disse. A única inscrição no jazigo é o nome do Lar São Vicente de Paulo — não há nomes das pessoas sepultadas. Os mais antigos contam que todos os túmulos foram construídos por Benedito Carlos, um cartorário que morreu há muitos anos.
Batista, então, resolveu fazer de tudo para reformar ao menos o maior dos jazigos, cujo abandono era visível. Primeiro, procurou a entidade para receber autorização. “Eu comecei a procurar amigos, expliquei a iniciativa e pedi ajuda. Consegui parte dos pisos com o Jorge Raimundo, a argamassa com o Tajapós e a tinta com a Império”, contou.
“Neu” também negociou com um dos empresários que constroem e reformam túmulos no cemitério de Santa Cruz. “O Raposo me deu um bom desconto no orçamento. Então, fui atrás de outros amigos de bom coração para fazer uma vaquinha. Um deu 20, outro 50, 100 e consegui juntar”, disse.
Por fim, foi o próprio Sirineu que arregaçou as mangas e pintou a estátua de São Vicente de Paulo, talhada possivelmente em bronze.
“Estou pagando as continhas que restaram, mas, pelos meus cálculos, ainda deve sobrar umas quirelas. Aí será doado ao próprio asilo”, afirmou. “Na verdade, muita gente acha que o Lar São Vicente de Paulo tem muito dinheiro, tendo em vista a quantidade de vicentinos. Mas não é esta a situação. Sei que a instituição sofre muito para pagar funcionários e se manter”, disse.
Samuel Sirineu diz que fazer uma boa ação é muito gratificante. “Eu me sinto realizado, o coração da gente fica cheio”, garante.
Ele agora quer buscar parceiros para reformar os outros três jazigos de propriedade do asilo. “Vou tentar conversar com o prefeito, que também tem um bom coração, e ver se o município pode ajudar. Se não der, vou atrás dos amigos de novo”, disse.
* Colaborou Toko Degaspari
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