Moradores buscam alimentos na casa de Hélio 'Bucho'
Publicado em: 22 de maio de 2021 às 00:55
Atualizado em: 31 de maio de 2021 às 17:46
Sérgio Fleury Moraes
Juiz de rodeio há 32 anos, Hélio de Oliveira Branco, 53, ganhava bem e tinha um estilo de vida que, hoje, não considera adequado. Não que bebesse ou usasse drogas, mas era briguento e não se importava muito com as pessoas. Nem com a religião. “Eu morava nesta casa há muitos anos, a poucos metros da igreja de São Pedro que não frequentava. Quando Deus mudou minha vida e fui morar num sítio, vencia 23 quilômetros para assistir à missa”, disse. Atualmente desempregado devido à pandemia que suspendeu os rodeios, Hélio ajuda pessoas, especialmente as carentes.
O “Bucho” é o apelido que ganhou do saudoso professor Júlio Cassiolato quando Hélio pesava 176 quilos. “Fiz uma cirurgia bariátrica e hoje sou Hélio Luxo”, brinca. Há três anos, sua vida mudou quando diz que foi tocado por Deus. Não que isto significasse o fim dos obstáculos. Ao contrário, veio a pandemia e Hélio ficou desempregado. Os rodeios foram suspensos e os juízes não têm atividades neste período.
Certamente o “chamado” teve um outro objetivo. Hélio passou a ajudar pessoas pobres, especialmente moradores de rua. Ele já os conhecia em outros tempos, pois muitos ficavam num bairro mais afastado, bebendo. “E eu tinha prazer em passar por lá, num local chamado pelos moradores de ‘banco da morte’, e pagar pinga para deixá-los bêbados”, contou.
Quando sua vida transformou, ele percebeu a maldade e trocou a bebida pelas marmitas de alimentos. Eram cinco ou seis no início, mas a demanda foi aumentando e Hélio chegava a entregar 30 marmitas ao grupo. Já morando na cidade, passou a usar sua própria casa para oferecer o almoço.
Hoje, a casa de Hélio chega a acomodar mais de 50 pessoas para o almoço — que ele mesmo faz, já que é um cozinheiro de mão cheia. O cardápio sempre é incerto. “Depende de doações e do que Deus preparar. Tem dia que é só arroz, feijão e ovo. Mas quase sempre tem carne, legumes e um prato mais recheado”, diz.
Na terça-feira, 46 pessoas almoçaram na casa de Hélio ou buscaram marmitas na porta. Todos podem repetir. “Se faltar mais alguma coisa, volto ao fogão”, diz.
O almoço é servido de segunda a quarta. Nos demais dias, Hélio trabalha como vendedor de tapetes, tupperware e cortinas, o “bico” que arrumou para enfrentar o desemprego. Parte do que recebe é revertido em favor dos pobres e “sem tetos”.
“Hoje eu trabalho para Deus e não peço nada em troca, a não ser um lugarzinho no céu”, conta Hélio Bucho, citando as coisas erradas que fez na vida. Certa vez, segundo contou, ele chegou a agredir o ex-prefeito José Carlos Damasceno por causa de um problema com animais na área urbana. “Eu estava errado e agi por impulso, com raiva”, admitiu. Pois Hélio não ficou em paz até que resolveu ir à casa de Damasceno para pedir perdão. “Ele ficou meio desconfiado, mas logo eu o abracei”, diz, emocionado.
O juiz de rodeio hoje é coordenador da Pastoral da Sobriedade de São Pedro do Turvo. Além disso, promove há alguns anos o “Natal Solidário”, com distribuição de marmitas e refrigerantes. O projeto também contempla Santa Cruz do Rio Pardo, com entregas na vila Divineia. No ano passado, foram 700 marmitas divididas entre as duas cidades.
Há algum tempo, Hélio passou a acolher pessoas em sua própria casa, já que é solteiro. Hoje são três acolhidos e um deles passou 50 anos na rua e chegou a morar na rodoviária de Santa Cruz do Rio Pardo. Ele estipulou uma regra: quem chegar bêbado ou drogado, é acolhido, desde que não use mais nada na casa.
O homem citado por “Bucho” é Antônio Carvalho, com quase 60 anos. “Eu sempre tive fé que sairia desta situação e estou muito feliz”, diz. Mineiro, ele largou o álcool e agora está atrás dos documentos que perdeu, inclusive a CNH — é motorista profissional. Antônio, inclusive, é músico autodidata, exibindo à reportagem seu talento num teclado de mão. Seu sonho é ter uma sanfona. E será logo, pois o dono da casa já está promovendo uma rifa.
Hélio lembra de outro homem acolhido que, antes, viveu 40 anos na rua. “Ficou oito meses comigo e eu cheguei a interná-lo numa comunidade de Itapeva. Ele se recuperou, trabalha numa fazenda em Manduri e vem me visitar a cada três meses”, contou.
Há outra obra social, no mesmo lugar, que começou há dois meses com a ajuda da vereadora “caloura” Amanda Cristina Ferraz Lazarini Pinheiro de Sá, 32. É o “Armário da Providência”, que fica na calçada em frente à residência de Hélio Bucho. O móvel geralmente tem alimentos, frutas e até produtos de higiene todos os dias e qualquer pessoa pode retirar. As doações também podem ser feitas diretamente no armário.
Moradora da zona rural, Amanda conta que já fazia ações sociais na RCC (Renovação Carismática Católica), um movimento da igreja. No entanto, há algum tempo passou a ajudar Hélio. Ela viu a ideia em outra cidade e discutiu com o amigo. Em questão de dias, surgia o armário na calçada.
Segundo Amanda, que trabalha com estufas e costuma abastece o armário com legumes e frutas, vários produtores colaboram com o projeto. Ela e voluntários costumam dividir, por exemplo, um saco de arroz de cinco quilos doado. “Ele se transforma em três porções, pois o objetivo é alcançar o maior número de famílias. Amanhã tem mais”, afirma.
* Colaborou Toko Degaspari
Previsão do tempo para: Sábado
Durante a primeira metade do dia Períodos nublados com tendência na segunda metade do dia para Céu limpo
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