ECONOMIA

‘Martelinho de ouro’, a arte da oficina sem tinta ou massa

Há sete anos em Santa Cruz, profissional diz que técnica requer paciência

‘Martelinho de ouro’, a arte da oficina sem tinta ou massa

Nunes mostra o ‘martelinho’ de bronze, a principal ferramenta

Publicado em: 09 de outubro de 2021 às 04:12

Sérgio Fleury Moraes

‘Geralmente um funileiro não serve para ser martelinho’. A frase é de Emerson Nunes, 44, que há sete anos trabalha como “martelinho de ouro” em Santa Cruz do Rio Pardo. Ele explica que, além da técnica apurada, o profissional que repara amassados em veículos sem o uso de químicos precisa ter muita paciência, virtude que nem todo os funileiros possuem. O ‘martelinho’ é, antes de tudo, um artista.

Há controvérsias sobre o surgimento deste ofício, mas a versão mais forte é que o “martelinho” foi uma invenção brasileira e teria surgido na fábrica da Chevrolet em São Caetano do Sul no século passado. Segundo esta versão, uma forte chuva de granizo amassou carros novos estacionados no enorme pátio a céu aberto. A montadora, então, buscou alternativas e um de seus funcionários aplicou a técnica que, anos mais tarde, ficou conhecida como “martelinho de ouro”.

Há uma outra história que remete a invenção a um funileiro funcionário da Volkswagen brasileira, que teria desenvolvido a técnica para eliminar pequenos amassados na lataria provocados durante a fabricação dos veículos. Ele seria, inclusive, registrado a patente do nome “martelinho de ouro”. Para outros, o “martelinho” começou na Alemanha, na fábrica da Mercedes Benz, nos anos 1930.

Qualquer que seja a versão verdadeira, o fato é que este profissional consegue reparar amassados em veículos, inclusive em pontos curvilíneos, sem o uso de massa, lixa ou tinta. Em alguns casos, o serviço pode até ser mais caro do que uma tradicional funilaria, mas preserva a pintura e o preço de revenda do veículo. Basicamente, é uma técnica que envolve massagens no metal e a técnica de “puxar” a lata para o seu formato original.

Emerson Nunes deixou Bernardino de Campos há muitos anos e montou uma oficina em Ourinhos. “Santa Cruz é melhor. É mais rica e proporcionalmente possui mais carros”, disse. E não se arrependeu.

Emerson e suas várias ferramentas na oficina, todas com uma única função: complementar o martelinho

O “martelinho” era motorista de estudantes em Bernardino quando começou a se interessar pela técnica. “Eu cheguei a ver um profissional trabalhando e percebi que ele parava o serviço quando eu me aproximava. Lógico que queria esconder esta arte de possíveis concorrentes, mas eu fiquei tão fascinado que resolvi fazer um curso em São Paulo”, contou Emerson.

E lá se vão dez anos. “Claro que você aprende muito mais na prática e eu fui me especializando ao longo do tempo. Na verdade, o martelinho precisa analisar cada caso e ver o que é possível fazer”.

Hoje, Emerson voltou a trabalhar num ritmo forte, uma vez que os clientes sumiram durante a pandemia. Certamente evitavam sair de casa e, por isso, quase não amassaram seus carros. “Tem também o fator da suspensão das aulas e dos eventos”, disse Emerson. Nestes cenários, quase sempre acontecem os tradicionais congestionamentos de carros que geralmente provocam um ou outro amassado.

Segundo ele, o proprietário do veículo deve recorrer a um “martelinho” quando o dano não riscar a lataria ou mesmo deformá-la. “Neste caso, a gente consegue voltar o formato original sem prejudicar a lata”, explicou. Emerson disse que já conseguiu reparar danos que nem mesmo ele acreditava. “Quando vi o resultado final, até eu me surpreendi”.

A oficina de Nunes, na rua Marechal Bitencourt, impressiona pela ausência de máquinas, compressores e aquele cheiro característico de tinta. Na verdade, o balcão de trabalho é cheio de ferragens especiais, espátulas, alavancas “puxadoras”, adesivos e, claro, vários modelos de martelos. Algumas ferramentas, inclusive, são de madeira e fabricadas pelo próprio artista. “É preciso improvisar”, diz. Uma luz especial é usada para observar com exatidão o tamanho e as curvas do amassado.

“Na verdade, antigamente quase não havia ferramentas para martelinhos. Então, a gente era obrigado a se virar”, contou. Um detalhe curioso, que pode ter dado origem ao nome do profissional, é que o martelo usado na técnica é de bronze, com uma coloração que lembra ouro. “Mas já vi profissionais que mandaram fazer um martelo de ouro mesmo. Mas aí são aqueles que estão em grandes centros, são conhecidos e ganham muito dinheiro”, afirmou.

Emerson não recusa serviço, mas avalia antes se é possível fazer o reparo. Em Santa Cruz, por exemplo, ele tem como clientes donos de carros importados e outros veículos de luxo. Aliás, de vez em quando o “martelinho” é chamado para fazer reparos em outras cidades. “Vou muito a Bauru e Ourinhos, mas já viajei até São Paulo para consertar amassados. Levo só minha maleta e preciso apenas de uma garagem”, disse. Ele também faz reparos em caminhões e sua carteira de clientes inclui cerealistas de Santa Cruz.

Outro fator é que o local não pode ter muita iluminação devido ao uso da luz especial. “Trabalho quase sempre no escuro, pois é preciso observar a sombra do amassado”.

Ele aconselha ao proprietário do veículo com a lataria danificada a procurar o “martelinho” o quanto antes. É que o sol costuma provocar rachaduras na pintura ou até “descascar” o local danificado. “Precisa ser rápido”, alertou. A outra dica é sempre procurar um profissional de confiança.

O artista tem um lema: se o serviço não ficar bom, o cliente não precisa pagar. “Só pego casos em que o amassado pode ser reparado sem funilaria. Já aconteceu de um serviço ser impossível, mas o cliente insistir e pedir para fazer ‘mais ou menos’. O problema é que depois ele vai dizer por aí que o serviço foi meu”, afirmou.

Casado e pai de uma menina de dez anos, Emerson conta que tirar amassados de carros antigos é muito mais difícil. “A lata é mais forte”, disse. Neste caso, é preciso usar uma técnica especial para “esquentar” a lataria do veículo. Mas o fato é que ele não escolhe a marca do carro: “Eu vou pelo grau de dificuldade. Pode ser um carro popular ou uma Ferrari”, brinca.

O “martelinho” presta serviços, inclusive, para funileiros de Santa Cruz e região. “Em alguns casos, é preferível consertar um grande dano do que trocar a peça. É quando eles me contratam para deixar uma superfície bem próxima da original, facilitando o trabalho de lixar e depois pintar a lata”, contou.

Emerson fica constrangido em responder quem amassa mais o carro, o homem ou a mulher. Porém, admite que as mulheres têm mais dificuldades no trânsito e costumam se envolver em pequenos acidentes. Mas ele lembra que o motivo pode ser a busca das crianças na escola ou compras no supermercado, geralmente a cargo das mulheres. 

SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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